Filme: Mundo Cão (2016)

mundo cão filme crítica

Vivemos em um mundo cão literalmente. Temos alegrias, é claro, mas a realidade em que estamos não é perfeita; está longe disso. O brasileiro Marcos Jorge mostra um pouco disso em seu novo filme, que conta a história de uma família boa que é vítima da violência e quase perde tudo em uma história intensa de vingança.

A trama envolve Santana (Babu Santana), funcionário do Departamento de Combate às Zoonoses, o qual prende um cachorro perigoso e o sacrifica três dias depois, conforme a lei na época. Quando o perigoso dono desse animal aparece, Nenê (Lázaro Ramos), as coisas se complicam para ele e sua família é quem sofre com isso. Assim como Santana o machucou ao tirar o seu rottweiler, ele tira do homem o seu filho, João (Vini Carvalho). A partir daí, uma série de acontecimentos se passam na tela, não só relatando o enredo em si, mas fazendo certas críticas à nossa sociedade.

Por exemplo, temos uma mãe, Dilza (Adriana Esteves), desolada com o desaparecimento de sua criança e que recebe uma atenção indiferente da polícia. Ao assistir a essa cena ficamos chocados, uma vez que a dor da mulher é claramente visível, mas quando vamos à nossa realidade, o impacto é ainda mais forte: isso é normal em nosso mundo. Estamos tão acostumados com uma rotina, tão robotizados ao fazer um B.O, que nos tornamos pessoas frias. Em decorrência disso, existe um choque ao confirmar isso na tela, ainda mais porque Esteves incorpora perfeitamente a mãe em profunda dor.

Outro ponto interessante é que Mundo Cão (Brasil, 2016) não tem um vilão totalmente ruim, no caso Nenê. Ele é um homem mau caráter, mas que faz o que faz principalmente porque Santana lhe tira um grande amor de sua vida – o cão que amava – e ele dá o troco. E ele até chega a fazer uma coisa legal pelo filho do homem, ao levá-lo ao campo pela primeira vez na vida para ver o Palmeiras jogar. O fato de Ramos ter uma certa, digamos, simpatia em determinadas partes, torna-o mais humano, portanto, conseguimos nos aproximar dele.

A montagem deixa a desejar e chega até a ser uma distração em alguns momentos. Às vezes faz o filme parecer uma novela, em outras simplesmente algo pífio, que não parece profissional.

No entanto, de maneira geral, o drama de Marcos Jorge nos toca de outras maneiras, por meio da maneira que nos choca com a crueldade das pessoas quando estão em sofrimento, o desejo de vingança e como o mundo pode ser indiferente em situações extremas. Todos os personagens centrais conseguem nos fazer identificar com eles de certa forma e todos os atores dão excelentes performances. Tive uma bela surpresa com a novata Thainá Duarte, que interpreta a filha surda-muda de Santana e Dilza.