Filme: O Regresso

O Regresso 1

ALENJANDRO GONZÁLEZ INÁRRITU VENCEU O OSCAR DE MELHOR DIREÇÃO EM BIRDMAN (Ou a Inesperada Virtude da Ignorância) e se garantiu no patamar dos cineastas mais badalados de Hollywood na atualidade. O Regresso (The Revenant) foi o seu primeiro trabalho depois de receber a estatueta dourada. Mesmo passando por um período turbulento nas filmagens, Inárritu conseguiu mais uma vez colocar em prática o seu dom para conduzir narrativas épicas e o trabalho de seus atores, especialmente Leonardo DiCaprio e Tom Hardy.

DiCaprio, que nunca esteve tão próximo de garantir o seu tão sonhado Oscar de Melhor Ator, se destaca por uma atuação menos intensa do que estamos habituados a assistir. Geralmente, o ator gosta de ir de um extremo ao outro em suas performances, mas desta vez aparece mais contido e nos presenteando com um belo trabalho baseado mais em reações ao ambiente do que em diálogos (ou os tradicionais gritos). Não é que ele não grita, afinal de contas estamos falando do Leonardo DiCaprio, mas a narrativa obriga o ator a nos dar muito com o mínimo disponível. Se os melhores momentos de DiCaprio em O Lobo de Wall Street envolviam cenas de humor físico, agora é a vez do ator mostrar que é capaz de nos convencer durante quase três horas em que quase não conversa com outros personagens.

(Se ele merece o Oscar? Não. Eddie Redmayne está superior por seu trabalho em A Garota Dinamarquesa, mas o Oscar é um prêmio político e que gosta de premiar os artistas pelo conjunto da obra. Nesse caso, não há ninguém que mereça mais que DiCaprio.)

Tom Hardy, um dos meus atores favoritos na atualidade, também recebeu uma indicação ao Oscar. Na pele do “vilão” de O Regresso, Hardy não deixa nada a desejar em relação ao seu companheiro de cena. Na verdade, para a narrativa, o personagem de Hardy é até mais profundo e interessante, já que ele possui toda uma jornada a ser desenvolvida e apresentada para os espectadores, ao passo que DiCaprio apenas segue o fluxo para chegar até o seu destino. John Fitzgerald (Hardy) é um homem preocupado apenas em garantir o seu, mesmo que isso signifique passar por cima de outros. E são as suas atitudes que criam toda a dinâmica que cerca O Regresso e o faz se desenvolver.

Um dos motivos de estresse entre diretor e seus atores e equipe de produção foi o desejo de filmar tudo usando luz natural. Se isso significou acordar cedo e encarar verdadeiras frias por causa da temperatura, não importa. O resultado foi obtido e é maravilhoso. Ainda que o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki tenha emulado tudo que já havia feito trabalhando com o cineasta Terrence Malick, e isso tenha soado como uma ideia de como seriam os filmes do diretor de A Árvore da Vida caso tivessem uma “história e fossem mais que uma longa proteção de tela do Windows”, a impressão que fica é que esse esforço não passou de um capricho do diretor. Como espectadores, nós não estamos realmente interessados nas opções da produção em submeter a equipe a condições agressivas. Isso não faz diferença e ninguém ficará realmente preocupado em como O Regresso foi filmado. Nós estamos importados na história e em saber se o filme é bom ou não.

Boa parte de O Regresso é um grande desafio de resistência com o espectador, que imerso na narrativa acaba vivendo sentimentos dolorosos para acompanhar a jornada de sobrevivência e vingança de um homem. É preciso estômago para encarar o longa-metragem. Não pelas cenas de violência gráfica, mas pela moral duvidosa do personagem de Tom Hardy. O Regresso é um grande filme, mas peca pela sua pretensão em ser um épico inesquecível. Inárritu constrói uma obra fria sobre os limites humanos, mas não passa disso. É espetacular por mostrar uma bela história de vingança com dois atores inspirados. E é o suficiente para ser um grande destaque da temporada.