Filme: Revelação

Revelação
O ANO 2000 FOI BEM PRODUTIVO PARA O CINEASTA ROBERT ZEMECKIS. Foi nesse ano que ele conquistou o público do mundo inteiro com o drama Náufrago, com Tom Hanks e Wilson. Porém, o diretor também se aventurou com Revelação (What Lies Beneath), um suspense sobrenatural estrelado por Michelle Pfeiffer e Harrison Ford.

Claire (Pfeiffer) está passando por um momento delicado com a saída de sua filha de casa. O seu marido Norman (Ford) até tenta ajudar, mas as coisas começam a ficar cada vez mais fora de controle a partir do momento em que Claire começa a ouvir vozes e desconfiar de que alguém foi assassinado e que o seu vizinho possa ser o responsável por essa suposta morte.

O longa foi realizado durante uma pausa nas filmagens de Náufrago (para que Tom Hanks ficasse magrelo o suficiente para parecer que ficou mesmo ilhado longe do Burger King) e parece um belo exercício narrativo de tentar emular Alfred Hitchcock. Não apenas temos uma protagonista loira (fetiche do mestre do suspense), como existem referências a Psicose (qualquer cena dentro de um banheiro me lembra Psicose) e Janela Indiscreta (a parte em que a personagem de Pfeiffer começa a desconfiar seriamente do seu vizinho) e uma trama bem construída para conseguir surpreender o espectador. O problema é que Robert Zemeckis não é Alfred Hitchcock e seu roteiro não é tão engenhoso assim. Não que isso diminua a qualidade de Revelação, mas Hitchcock provavelmente trabalharia com a ideia de que a protagonista ficou lelé da cuca.

Gosto de ver a maneira como Ford se comporta nesse suspense. A dinâmica dele com Pfeiffer é interessante e natural. Sentimos que ele realmente é um pai de família do bem, interessado e apaixonado por sua esposa – e principalmente pela carreira como professor. Geralmente acompanhamos o ator em personagens simples e com a função de fazer a ação acontecer. Aqui não. Em Revelação, Ford simplesmente aguarda as ações ao seu redor para depois dar o seu passo. Já Pfeiffer consegue usar a sua beleza no momento em que se pede isso (como na sequência em que ela come uma maçã, o tal do fruto proibido) e ao mesmo tempo mostra que ela já não era mais uma atriz novinha para encaixar apenas nos personagens que servem de interesse romântico. Com muita segurança e expressões convincentes, ela nos mostra uma mulher disposta a tudo para descobrir a verdade sobre o que está acontecendo em sua casa.

Zemeckis gosta de mostrar sua técnica com planos-sequência improváveis. Ainda não superou o que fez nos minutos iniciais de Contato (até hoje me pergunto como diabos foi realizada aquela bruxaria no corredor e espelho do banheiro), mas é interessante observar o que ele faz com o rosto de Pfeiffer em uma cena em que sua personagem está desacordada. A câmera a mostra caindo e corta apenas quando fica exatamente abaixo dela, filmando através do chão. Uma loucura.

Revelação é um suspense recomendado para quem está interessado numa obra fácil de assistir e que tenha uma reviravolta final pouco previsível. Lembro que quando assisti ao filme pela primeira vez, em 2000, fiquei de cara. Na revisão para escrever a crítica não consegui perceber nenhum detalhe que denuncie a verdade, o que eu não sei se pode ser considerado como um detalhe positivo ou não. Para título de comparação, a revisão de O Sexto Sentido, de M. Night Shyamalan, nos mostra que toda a verdade estava lá para a gente interpretar. Só que são duas obras com propostas e realizadores bem distintos. Revelação cumpre bem a sua proposta de ser o filme de suspense que Zemeckis sempre quis dirigir – e que foi feito enquanto o pobre coitado do Tom Hanks fazia a dieta da água.