This photo provided by Columbia Pictures shows, Will Smith as Dr. Bennet Omalu, in a scene from Columbia Pictures' "Concussion." The movie releases in U.S. theaters on Dec. 25, 2015. (Melinda Sue Gordon/Columbia Pictures via AP)

Filme: Um Homem Entre Gigantes (2015)

This photo provided by Columbia Pictures shows, Will Smith as Dr. Bennet Omalu, in a scene from Columbia Pictures' "Concussion." The movie releases in U.S. theaters on Dec. 25, 2015. (Melinda Sue Gordon/Columbia Pictures via AP)

A tradução em português traduz bem a história que vemos: literalmente, um homem entre gigantes, no caso, um médico nigeriano no meio de uma batalha contra a poderosa NFL. Um Homem Entre Gigantes (Concussion, EUA, 2015) mostra como Bennet Omalu (Will Smith) descobriu uma doença no cérebro de um ex-jogador de futebol americano e isso levou a uma série de acontecimentos que não só afetaram o esporte mais popular dos EUA, como também sua vida pessoal e profissional.

Algo que o roteiro aparentemente deixa claro para o espectador é a paixão dos americanos pelo futebol. Diversos diálogos e imagens mostram a empolgação e amor do povo pelo jogo, como jovens que começam a praticá-lo desde a infância em casa ou na escola e dados estatísticos do impacto na população e no próprio governo. Essa noção do poder da NFL ajuda a nos contextualizar na história e entender o tipo de confronto que o personagem principal tem; e o quão difícil ele se torna cada vez mais que seus estudos chegam à mídia e incomodam os grandes chefões do esporte.

No decorrer do filme também conhecemos melhor o médico como pessoa, peça fundamental para nos conectarmos com sua luta. Ele nada mais é que um homem extremamente estudioso e dedicado ao trabalho, que não deixa dinheiro e interesses influenciarem suas atitudes. Ele descobre a ligação entre o futebol e a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), doença que levou dezenas de ex-jogadores a morrerem no futuro, e faz de tudo para que ela tenha visibilidade e resulte em alguma solução por parte da NFL. Omalu jamais quer destruir o esporte, ele quer buscar uma maneira de evitar que outros morram.

De longe, o maior destaque da adaptação é Smith. O ator está impecável na pele do protagonista: o sotaque africano é perfeito, como ele incorporou o comportamento dele durante a rotina de trabalho em autópsias é bastante comovente e todo o processo de transformação do personagem também fica bem claro. O restante do elenco também está muito bem, em especial os jogadores vítimas do ETC, mas quem realmente rouba a cena é Smith. Como deveria ter acontecido.

Uma das minhas ressalvas diz respeito ao desenvolvimento de Prema (Gugu Mbatha-Raw). Ela é a esposa de Omalu, mas sua participação na história foi restrita demais a somente parceira que apoia o marido. Ela fez muito mais na realidade e foi desnecessário inventar o seu aborto; o roteiro aparentemente quis adicionar mais drama no percurso do médico, mas não precisava a meu ver. Afinal, já existe drama demais ali e Gugu poderia ter sido usada de outra maneira, que não fosse apenas de mulher atenciosa que depois perde um neném que nunca existiu.

Outra distorção foi a do chefe de Omalu, Cyril Wecht (Albert Brooks). O desfecho deles foi totalmente diferente do real, em todos os sentidos. Se na tela parece que a relação profissional e pessoal deles fala mais alto depois que acusações do FBI atingem ambos, a verdade foi quase que oposta: a polícia queria apenas Wecht e o próprio Omalu testemunhou contra ele.

Um Homem Entre Gigantes é uma história real de superação e coragem, com uma atuação de alto nível de Will Smith. De maneira geral, ele deixa a desejar no roteiro, mas não falha em nos envolver com a história.