Herbert de Perto


Um belo dia, um iluminado Herbert Vianna decidiu colocar em versos muitas músicas que poderiam facilmente fazer parte de seu futuro. Não por acaso, algumas dessas canções se tornaram sucessos estrondosos e um dia passaram a fazer mais sentido para o próprio Herbert do que tocá-las em qualquer show, bastando adaptar significados, como em “Ela Disse Adeus” (quando ele perdeu sua amada esposa) e “Uma Brasileira” (que por ironia, Herbert se casou com uma inglesa).

Herbert de Perto é, no entanto, uma tentativa falha de mostrar Herbert realmente de perto. Não porque o documentário não mostra a real vida do vocalista d’Os Paralamas do Sucesso, mas sim porque a vida de Herbert não tem nuances exatas para se formar um filme com um conteúdo realmente atrativo. Mas, assim como Herbert diz em “Uns Dias”, ‘E nem te contei uma novidade, quente, eu nem te contei’, “A Novidade” é que ali não se tem novidade. São depoimentos ralos, baseados em fatos de parentes e/ou amigos de perto, em esmagadora maioria músicos ou produtores, sem muito aprofundamento de fatos. Num raro relance, Gilberto Gil aparece, dando uma opinião tão vazia quanto o último álbum dos Paralamas, Brasil Afora.

O fato de – tirando o show em fevereiro de 2006, no Teatro Odisséia, no Rio – o documentário basicamente pára no tempo, em 2005, e antes mesmo do lançamento do fraquíssimo álbum Hoje – depois ainda veio o DVD do álbum e que já foi sucedido por um outro DVD com os Titãs. Nem explicar direito o acontecido em Mangaratiba – quando o ultraleve que Herbert pilotava caiu na água, o deixando paraplégico e matando sua esposa – o filme se propõe; além de evidenciar o que todos já sabem: Herbert Vianna é um excelente guitarrista e péssimo vocalista. Isso fica claro em diversos momentos, antes e depois do acidente, onde o cantor não consegue alcançar notas fáceis e nos arrepia em desafinadas escatológicas, algo bem ruim para sua imagem. Outro momento imperdoável é a total falta de imagens da gravação do álbum Longo Caminho, o primeiro após o acidente e a última bolacha relevante na discografia da banda, além de não tocar no assunto Paula Toller, vocalista do Kid Abelha, e o primeiro grande amor de Herbert.

O filme também guarda bons momentos, vale frisar, como o depoimento de Dado Villa-Lobos sobre, literalmente ver o acidente de Herbert acontecer. Um outro momento emocionante, em que nosso homenageado canta de improviso e após um discurso emocionante, a canção “Se eu não te amasse tanto assim”, mais conhecida na voz de Ivete Sangalo, para sua amada, Lucy, que se foi no acidente. O Doc mostra também, bons vídeos de sua recuperação e algumas gravações caseiras de um jovial músico, que fala pelos cotovelos e viu seu futuro contradito, como um castigo do passado.

Em resumo, o filme conta – nessa parte em bons detalhes – o início vida de Herbert e a formação do Paralamas, no Rio de Janeiro. Mostra um pouco do sucesso da banda, vai para o acidente e depois entra na recuperação, e só. Uma produção para idolatrar Herbert, com pessoas que o resgataram do buraco, como diz em “Lanterna dos Afogados”: ‘Quando ta escuro e ninguém te ouve. Quando chega a noite e você pode chorar. Há uma luz no túnel dos desesperados. Há um cais de porto pra quem precisa chegar. Eu tô na lanterna dos afogados. Eu tô te esperando, vê se não vai demorar. ’

O fato de Herbert Vianna ser um dos 10 maiores caras da história do Rock Brasileiro, já faz desse filme algo a se apreciar, mas o que faltou nele é exatamente o mais lógico de qualquer arte cinematrográfica: Conteúdo. Acho que no fim, o próprio Herbert descreveu a definição sobre seu documentário a vários anos e sucessos atrás, mais precisamente em “Ska”: ‘A vida não é filme, você não entendeu’.