I’m Not There (Não Estou Lá)

Olá, eu sou o Vinicius B (ou Azevedo, ou simplesmente V!), e essa é a minha primeira contribuição no blog. Mando um beijo pra minha mãe, minha irmã e minha tia. Vambora.

Vou direto ao ponto. “I’m not There” é uma obra-prima. Talvez uma obra não muito fácil, mas ainda assim legítima. Um filme biografia que não se prende (mesmo) aos padrões de filmes do gênero, com uma narrativa alinear, que passa por diversas fases da carreira de Dylan. O papel principal do filme é interpretado por 6 atores diferentes (um para cada alter-ego do compositor): Marcus Carl Franklin, Ben Whishaw, Heath Ledger, Christian Bale, Richard Gere, e Cate Blanchett. Nenhum lado da personalidade do Bob atende pelo nome de fato dele, e sim “heterônimos”, no maior estilo Fernando-Pessoa-wanna-be. Assim, o Dylan de 11 anos de idade (Marcus Carl Franklin, jovem ator poeticamente negro), atende pelo nome “Woody Guthrie”, o bob-fase-folk, Jack Rollins (Bale), e daí por diante.

Como já insinuei, o filme é razoavelmente complexo e lotadíssimo de referências minuciosas e sórdidas da vida de Dylan. Portanto, parar um belo dia para assisti-lo sem um mínimo de informação prévia sobre a vida do cantor pode resultar em um lírico programa de índio. Ok, os musicais fascinantes, a fotografia e cenografia impecáveis, e as belíssimas atuações, sobretudo de Cate Blanchett (cuja fama provavelmente já chegou a seus ouvidos e/ou olhos), e Christian Bale, por si sós já valeriam o preço do ingresso… Mas a experiência que é “I’m Not There” se torna muitas vezes mais rica se, por exemplo, o telespectador já assistiu o épico documentário (de quase 4 horas de duração) “No Direction Home”, de Martin Scorsese. A excelente perfomance de Julianne Moore, como Alice Fabian que na verdade é Joan Baez *momento Chaves*, só é realmente compreendida quando se já se é familiarizado com os trejeitos de Baez, bem explicitados no documentário. O poder da interpretação de Bale e Blanchett é percebido em sua plenitude para quem lembra bem o quão tímido e autista era Dylan em sua fase folk, e o quanto ele era “porraloucadrogado” nos (bons) tempos de “Highway 61 Revisited” (1965).

Tais detalhes fazem de “I’m Not There” um filme que para fazer sentido pleno exige do telespectador. Poderia-se optar aqui se tal característica é um defeito, tornando a película uma peça imperfeita, ou como uma qualidade, exaltando a sua transcendência. Eu opto pela segunda alternativa.