Looper: Assassinos do Futuro

 Looper: Assassinos do Futuro

FILMES DE VIAGENS NO TEMPO COSTUMAM SOFRER COM PROBLEMAS DE ROTEIRO, poucas são as exceções que escapam depois de uma análise mais fria e completa. Looper: Assassinos do Futuro, de Rian Johnson, escapou das armadilhas que cercam os roteiristas de produções do gênero. Felizmente. Parte do sucesso deve ser creditado ao competente trabalho do diretor e também ao carisma dos atores Joseph Gordon-Levitt e Bruce Willis, que interpretam o mesmo personagem. Além do fato da trama não ser lá tão complicada quanto parece.

Em um futuro não muito distante, em que algumas pessoas tem poderes mutantes (a telecinese se tornou comum) as instituições criminosas descobriram uma maneira eficiente de lidar com seus problemas e se livrar de indivíduos inconvenientes. O lance deles, e aí sugiro que você pare de beber a sua caipirinha para não se perder na explicação e botar a culpa no roteiro, é mandar o sujeito 30 anos no passado para ser assassinado por um assassino profissional, os Loopers. Chega um dia em que o Looper recebe a missão de matar a si mesmo e então passa a viver a sua vida tranquilamente até chegar o momento em que irá morrer. Mas então uma dessas vítimas escapa e deixa Joe, o personagem principal, em sérios apuros, especialmente porque se trata de sua própria versão no futuro. Difícil? A culpa não é minha, eu avisei para você parar de beber.

Como disse logo acima, Looper tem uma premissa complicada de se explicar, mas que é facilmente compreensível quando o espectador se dispõe a aceitar que refletir e raciocinar sobre a obra assistida também pode ser uma atividade proveitosa. O roteiro escrito pelo próprio diretor é bem mastigado, o que pode até vir a ser considerado como um defeito. Inclusive, durante uma discussão com a Larissa Padron e acabei concordando que a sequência que revela o desfecho da participação do ator Paul Dano (Pequena Miss Sunshine) se torna perdida dentro da própria narrativa, ganhando força apenas para dar um show de efeitos especiais e para jogar uma pista do que o espectador assistiria em determinada cena.

 Looper: Assassinos do Futuro bruce willis joseph gordon levitt

Além do belo trabalho de Willis e Gordon-Levitt, o elenco do filme ainda conta com Jeff Daniels (Débi e Lóide) e Emily Blunt (Os Agentes do Destino). O primeiro interpreta um homem do futuro que resolve que a vida era melhor no passado e se torna o líder da máfia dos Loopers. Já a personagem de Blunt é uma mulher de atitude. Em determinado momento da trama, ela não consegue controlar o seu tesão e ataca um dos personagens. Não tem como não se apaixonar por uma garota assim, mesmo quando ela é mãe de Cid, um pirralho sinistro (Pierce Gagnon, um moleque com potencial enorme, se não se perder no mundo das dorgas e de pais irresponsáveis) e que pode ser o responsável por toda a criação da tecnologia da viagem no tempo.

Outro ator que merece atenção é Noah Segan, que interpreta o chorão Kid Blue, um sujeito desastrado e completamente desprovido do mínimo talento para conseguir fazer as coisas acontecerem. Em uma das minhas cenas favoritas da produção (embora o meu ponto de vista tenha sido contestado), fica explícita a burrice do jovem. Ele está perseguindo os dois Joe`s e toma um susto quando se dá conta que está de cara com a versão mais nova, que até então havia passado em branco. A expressão de susto do ator (“uai, é você?”) é impagável. Já que comentei sobre cenas favoritas, (além da parte em que Blunt mostra que não tem essa de mulher não correr atrás do homem) existe o belo momento em slow motion quando descobrimos mais sobre o pequeno Cid.

Looper: Assassinos do Futuro joseph gordon-levitt

A maquiagem é meio incômoda, mas nada que possa ser considerada tão feia quanto ao que foi visto no decepcionante J. Edgar, de Clint Eastwood. Como se não bastasse o belo trabalho de Gordon-Levitt em tentar emular as expressões e trejeitos do Bruce Willis dos anos 80, 90, os responsáveis por esse setor criaram uma maquiagem que criou uma sensação bizarra de semelhança entre os dois atores. O problema é que o resultado ficou andrógino demais para ser levado à sério. Ou seja, você, fã do Gordon-Levitt que foi assistir ao filme depois de sair de uma sessão etílica no bar mais próximo: não se preocupe, você não está tendo uma vertigem ou ficando louco. O ator está maquiado e por isso é tão estranho observa-lo.

Looper: Assassinos do Futuro é uma produção ambiciosa e que cumpre bem o seu papel. O tema da viagem no tempo não é o mote principal, sendo apenas um mero detalhe do roteiro, que privilegia mesmo a luta de dois homens (no caso, dois atores interpretando o mesmo personagem) em busca de cumprir seus objetivos e conseguirem paz em um mundo dominado pelo que há de pior. O Joe velho faz o que precisa para conseguir manter viva a esperança de que a sua realidade continue possível, enquanto o Joe atual quer apenas dar um jeito de impedir que coisas ruins aconteçam em um loop infinito. É uma bela história e uma excelente forma de apresentar de vez o talento do cineasta Rian Johnson.

Looper: Assassinos do Futuro poster


Nota:[tres]