The Wonders – O Sonho Não Acabou

MÚSICA E CINEMA ANDAM DE MÃOS DADAS EM THE WONDERS – O SONHO NÃO ACABOU, primeiro longa-metragem dirigido pelo ator Tom Hanks. Dizem que o eterno Forrest Gump se inspirou em uma banda real para escrever o roteiro da trama, mas esse é o detalhe que faz menos diferença ao longo da curta trajetória dos Wonders. Independente de ter acontecido ou não no mundo real, a história emociona com seus personagens carismáticos e eterna busca pela realização de um sonho. Esse é um daqueles filmes especiais e que não envelhecem nunca. Cresce a cada revisão.

The Wonders – O Sonho Não Acabou, tradução de That Thing You Do (que é o nome da canção repetida exaustivamente ao longo do filme), conta a história de uma pequena banda que consegue emplacar uma música e se transforma em um dos maiores fenômenos musicais dos Estados Unidos na década de 60, competindo com um certo quarteto famoso de Liverpool, no Reino Unido.

Ao lado de Alta Fidelidade (que retrata a obsessão musical de um dono de uma loja de discos) e Quase Famosos (que mostra a relação de um jornalista inexperiente com uma banda), The Wonders pode ser considerado como um dos principais filmes do cinema que tentam transmitir para as telas um pouco mais da relação que algumas pessoas possuem com a música. O personagem principal é Guy Patterson, um jovem que trabalha na loja do pai e nas horas vagas toca bateria ouvindo seus ídolos do jazz, sua verdadeira paixão. Ele acaba entrando em uma banda pouco talentosa e acaba “revolucionando” o grupo com a sua pegada dançante e rápida na arrastada “That Thing You Do”, para desespero do líder do grupo. O que Guy faz é basicamente mudar a dinâmica da faixa e expandir o potencial da canção. Um deleite para os cinéfilos e músicos de plantão poder conferir na tela coisas que realmente acontecem numa banda de verdade é também observar como os instrumentos amadores são substituídos por baixos e guitarras de qualidade inquestionável, numa clara demonstração do ditado que investimento em instrumentos faz a diferença sim.

Como não podia deixar de ser, claro que existe espaço para trabalhar os relacionamentos amorosos dos personagens. Charlize Theron aparece como uma jovem fútil e esnobe que não aprecia o trabalho de Guy e logo arruma uma maneira de encontrar outra pessoa. Liv Tyler vive o par romântico do almofadinhas Jimmy (Johnathon Schaech), vocalista e guitarrista. De uma maneira grosseira é possível comparar Faye como a versão original da band-aid Penny Lane (Kate Hudson, em Quase Famosos), já que além de ser apaixonada pelo vocalista, ela também completamente dedicada à banda. Uma groupie do amor, praticamente. Outro personagem de destaque é o guitarrista lesado de Steve Zahn, um desastre com as mulheres e com comentários nonsense e um senso de humor peculiar (confesso que me identifiquei com ele). O ator Bryan Cranston, da série Breaking Bad faz uma breve participação especial em The Wonders, mas passa quase despercebido.

Grandes filmes precisam de cenas memoráveis e existe pelo menos uma sequência assim no filme de Tom Hanks: pouco depois de contratarem um produtor, a banda fica na expectativa de ouvir a música na rádio. Quando finalmente acontece, todos ficam alucinados e correndo loucamente para comemorar. Qualquer pessoa que já trabalhou com música (ou qualquer outra coisa que mereça reconhecimento) sabe como é a sensação de ouvir o seu trabalho numa rádio. A emoção dos amigos foi sincera e contagiante, sendo capaz até de arrancar lágrimas dos mais emotivos. O surpreendente é que, da mesma forma que consegue colocar uma situação de alegria completa, The Wonders é frio o suficiente para ter uma cena forte de rompimento amoroso durante a conclusão.

Essencial na coleção dos cinéfilos roqueiros de plantão, a trajetória do one hit wonder The Wonders é uma história que dificilmente perderá o seu charme e que merece ser vista e revista sempre. Especialmente pelo estilo suave de direção de Hanks, é eficiente em entreter o espectador com um filme leve, despretensioso e muito divertido. Entretenimento de qualidade e inteligente, coisa rara de se encontrar.


 Nota: