Não por Acaso

de Philippe Barcinski. Com Rodrigo Santono, Leonardo Medeiros, Letícia Sabatella, Graziela Moretto, Rita Batata, Bianca Messina

História de dois homens e suas obsessões por algo fatalmente inalcançável: o controle sobre suas próprias vidas. Ênio (Leonardo Medeiros) trabalha como controlador de tráfego em São Paulo, o que em si já constitui uma coisa louca… Mas ele domina bem o que faz, diferentemente de sua vida pessoal, que fica sempre em segundo plano. As coisas mudam quando sua ex mulher Mônica (Graziela Moretto), lhe diz que a filha que tiveram juntos, Bia (Rita Batata), quer conhecê-lo. Pedro (Rodrigo Santoro), namora Tereza (Bianca Messina), e trabalha construindo mesas de bilhar na fábrica que herdou do pai. Eventualmente participa de campeonatos de sinuca, e estuda milimetricamente os movimentos para ganhar cada partida. Um acidente acaba entrelaçando a vida dos dois. Ênio se vê obrigado a incluir Bia em sua vida, e Pedro se envolve com a executiva Lúcia (Letícia Sabatella), outrora inquilina de sua namorada.

O que acontece a partir de então, é que esses dois homens se vêem obrigados a conviver com novas situações e sentimentos. Se habituar com isso nem sempre é fácil, sobretudo quando se está acostumado e ser racional o tempo todo, e por medo de errar, ou por medo do acaso, decidem manter tudo da mesma forma como estava antes. Ênio exita em viver essa nova fase, e tem medo de se sentir amado por sua própria filha, já que isto implicaria em um novo olhar sobre si mesmo e sobre a vida. Já Pedro, tenta fazer com que Lúcia se apaixone por ele, fazendo exatemente as mesmas coisas que fazia com Tereza. Viver o novo seria deixar de exercer o limite sobre suas vidas. Mesmo que este ‘novo’ com as imensas possibilidades que apresenta, seja muito mais atraente que a vida que viviam.

A performance do elenco é essencial para que a história funcione. Mas o destaque fica mesmo para Rita Batata vivendo Bia, e Letícia Sabatella vivendo Lúcia. Enquanto a primeira inunda a tela com seu carisma logo na sua primeira aparição, fazendo o contraponto exato com Leonardo Medeiros e seu Ênio, a segunda, linda até falar chega (ela é a nossa Rachel Weisz!! só que mais talentosa!), empresta todo o seu ar de mulher madura e segura de si à Lúcia, ao mesmo tempo que, a sua maneira, também não esteja disposta a se ferir, e por interpretar mal os atos de Pedro, acabe abandonando-o.

A direção do estreante em longas Philippe Barcinski, é muito bem sucedida. A forma como filma os personagens, os cortes e a edição remetem a um cinema americano, com tudo o que isto tem de bom. Pontos negativos, na minha opinião, apenas na trilha sonora. Já a cena de abertura, os movimentos de câmera mostrando as bolas de sinuca, e a cena final, de quando Ênio reencontra sua filha, são muito bem boladas. Conseguiu escrever e dirigir uma daquelas histórias em que a vida dos personagens se encontram (Alejandro González Iñárritu?), de uma forma coesa, sem nada forçado ou desnecessário, fazendo-nos acreditar que, de fato, dois segundos podem fazer a diferença. Só não temos que viver pensando nisto, afinal, como alguém disse certa vez, o acaso pode ser um bom amigo, contanto que se saiba conviver com ele, e com as suas loucas possibilidades…