O Homem de Aço

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O HOMEM DE AÇO FINALMENTE ESTÁ ENTRE NÓS e ,ao que tudo indica, acabou com a fama da DC Comics só conseguir sucesso no cinema com as adaptações dos filmes do Homem-Morcego. O reboot comandado por Zack Snyder (300) e estrelado pelo ator Henry Cavill (da série The Tudors) é o primeiro passo da tentativa de introduzir outros personagens da editora em Hollywood, inclusive com uma versão do supergrupo Liga da Justiça (formado por Batman, Lanterna Verde, Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash, dentre outros). Ou seja, no futuro teremos uma nova mega produção para disputar o amor do público com Os Vingadores, da editora Marvel.

O grande problema para tornar essa reunião de heróis possível era encontrar a melhor forma de reintroduzir o Superman no cinema após o fiasco de Superman – O Retorno, de Bryan Singer, em 2006. Se isso aconteceu agora, parte do mérito está nos ombros de um cara chamado Christopher Nolan, cujo trabalho na trilogia O Cavaleiro das Trevas impressionou tanto os executivos que ele ganhou carta branca para trabalhar com o mínimo de interferência. Não por acaso, Nolan é um dos produtores de O Homem de Aço e certamente ajudou a tornar real o sonho do Superman ganhar as telas mais uma vez. Pessoalmente, sempre considerei o personagem um verdadeiro pé no saco, afinal de contas ele é o Superman, ninguém dá porrada nele (só o Batman, claro), qual a graça de assistir a um filme sobre um cara quase que completamente imbatível? Para a minha enorme surpresa e até felicidade, por que não?, Nolan, Snyder e todos os responsáveis pelo conceito de O Homem de Aço queimaram a minha língua e fizeram um dos melhores lançamentos da temporada.

Digo isso especialmente pelo excelente uso de uma estrutura não linear durante seu primeiro ato (com o personagem relembrando diversas situações de seu passado e dos ensinamentos do pai), quando o roteiro se aprofunda dos dilemas e conflitos de Clark Kent/Kal-el. Ele cresce sabendo que é diferente, que “o mundo é grande demais”, e permance em dúvida sobre qual é o seu lugar e os motivos dele ser especial. Mesmo para uma pessoa não religiosa, é impossível ignorar a alusão à Jesus Cristo. O filme mostra isso em diversos momentos, como nos diálogos dos pais de Kal-el em Kripton, quando eles afirmam que o filho será uma pessoa importante, inspiradora e um verdadeiro líder. Com uma grande sensibilidade, o roteiro vai nos envolvendo e você compra a ideia e o drama do personagem, o que desarma aqueles que esperavam uma coisa completamente diferente. Tudo é muito bem estruturado e pensado, eles pensaram até mesmo em como explicar o “S” de uma maneira convincente. Mais surpreendente ainda é constatar que a direção de Zack Snyder é quase perfeita, dosando bem as excelentes cenas de ação com os momentos mais dramáticos. Aliás, o diretor abandonou os seus tradicionais efeitos estilosos e se não fosse por uma breve referência aos esqueletos da introdução de 300, a gente poderia até duvidar de quem realmente comandou a produção. O Homem de Aço acerta em cheio no desenvolvimento de um herói em formação, sem saber ao certo o que é e o que pode ser, e é capaz de agradar mesmo quem não gosta do personagem.

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Embora não ache que seja necessário escrever a sinopse, aqui vai: Um alienígena megalomaníaco chamado Zod (não confundir com Zordon, dos Power Rangers) chega na Terra para encontrar Kal-el, o último filho de Kripton (planeta que virou purpurina depois que os “sábios” abusaram de todos os seus recursos naturais), que cresceu com o nome de Clark Kent e passou os últimos anos viajando ao redor do mundo para encontrar pistas sobre a sua origem. Ele consegue descobrir a verdade quando encontra uma nave espacial enterrada num lugar mais frio que o coração do Hannibal Lecter. Zod ameaça destruir o planeta inteiro se Kal-el não se entregar, mas o herói sabe que a intenção de Zod é vestir a sua farda preta e matar geral, então ele precisa lutar para salvar o mundo usando a sua capa vermelha.

Reaproveitando as ideias do original lançado em 1978 (Superman, de Richard Donner) com muito mais eficiência (embora Russell Crowe não consiga superar o charme – e talento – de Marlon Brando no papel de Jor-el), a trama deixa claro para o espectador que O Homem de Aço é um drama sci-fi recheado de ação e aventura. As cenas em Kripton mereciam um filme inteiro dedicados para ela, especialmente pelo desempenho heróico de Crowe e a crueldade do vilão Zod (Michael Shannon, do incrível O Abrigo), que não consegue manter o nível ao longo do desenvolvimento da história e se torna apenas em uma ameaça física para o herói.

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Cavill está bem no papel de Jesus Clark, e consegue mostrar confiança tanto nas cenas mais dramáticas quanto aos momentos em que os músculos são mais necessários que as expressões faciais. Tanto Crowe quanto Kevin Costner têm uma função parecida na trama: aconselhar e guiar Clark, no melhor estilo Obi-Wan Kenobi e Mestre Yoda para Luke Skywalker, em Uma Nova Esperança e O Império Contra-Ataca, respectivamente. Diane Lane também merece uma atenção especial por sua atuação como a carinhosa mãe de Clark. Amy Adams (O Mestre) vive a intrépida e curiosa jornalista Lois Lane. Como geralmente acontece em qualquer filme em que a ruiva está no elenco, ela está perfeita e encanta tanto por seu talento quanto por sua beleza. Curiosidade: o fotógrafo Jimmy Olsen foi substituído por uma versão feminina, a jovem repórter que está sempre próxima do editor Perry White (Laurence Fishburne), que originalmente era um senhorzinho caucasiano.

A trilha sonora do reboot ficou sob a responsabilidade de Hans Zimmer, que já havia cuidado do material musical da trilogia O Cavaleiro das Trevas e de A Origem. Assim como aconteceu com o Batman, o compositor teve que lidar com a pressão de superar uma trilha sonora marcante e recomeçar seu trabalho do zero. Tudo bem que superar Danny Elfman nem foi tão difícil assim, mas quando você entra num estúdio sabendo que a maioria do público ainda se lembra do marcante tema criado por John Williams para o Superman, a situação fica um pouco mais problemática. Felizmente, Zimmer produziu um material eficiente que se casa perfeitamente com a atmosfera mais “realista” da obra dirigida por Snyder. O estilo de Zimmer é diferente de outros grandes compositores e sua música é quase onipresente e em poucos momentos chama a atenção do espectador comum. De uma maneira grosseira dá para dizer que o Zimmer é tipo o Ringo Star: ninguém lembra que ele está lá, mas é uma parte essencial da música dos Beatles. Destaque para a sensacional (e grande responsável pelo meu interesse no filme ter aumentado muito nos últimos meses) “What Are You Going To Do When You Are Not Saving The World?”. Há também uma cena em que Clark está num momento reflexivo após salvar alguns operários de um acidente no mar e toca “Seasons”, do Soundgarden. Escolha perfeita.

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Uma uma recomendação especial para nossos leitores: opção pelo 3D é puramente comercial e não acrescenta nada para a trama – além de tirar mais dinheiro do seu bolso. Em momento algum o longa-metragem oferece para o espectador a menor necessidade do uso do efeito. Vale pela experiência, mas é interessante experimentar O Homem de Aço (ui) no formato tradicional para aproveitar mais das eletrizantes cenas de batalhas entre os seres de Kripton.

O Homem de Aço é um excelente filme, mesmo para quem não aprecia histórias de superheróis se batendo o tempo inteiro. A influência de Nolan é visível em diversas situações, o que significa que não se trata apenas de mais uma adaptação de quadrinhos como acontece na Marvel. O charme de O Homem de Aço é causar reflexão, e mesmo que repita fórmulas usadas em O Cavaleiro das Trevas (Jesus Clark viaja pelo mundo assim como Bruce Wayne fez em Batman Begins, por exemplo), o resultado é positivo e funciona. Fica apenas o receio de imaginar como os produtores trabalharão o conceito da continuação, pois apesar de ser a figura de um filmaço, o Homem de Aço continua sendo um chato de botinas vermelhas. Ou não.

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Nota:[quatro]