O Impossível


O IMPOSSÍVEL É UM DAQUELES FILMES PRODUZIDOS PARA EMOCIONAR O ESPECTADOR. Dependendo da pessoa, o trabalho mais recente do cineasta Juan Antonio Bayona (O Orfanato) poderá soar forçado e carregado. Mas se você estiver interessado apenas em assistir a um bom drama, a possibilidade de você se emocionar com a bela adaptação de uma história verídica de uma das famílias vítimas do desastre natural ocorrido na Tailândia em 2004 é imensa.

O assunto já havia sido explorado por Clint Eastwood em Além da Vida, de 2011, mas de uma maneira bem mais sutil e delicada. Digamos que o filme de Eastwood não tenha muita vontade de arrancar lágrimas do espectador, embora tenha um roteiro comovente e até o lançamento de O Impossível possuía as melhores sequências de tsunami do cinema: a cena em que a grande onda atinge o hotel e arrebenta com tudo (e todos) é de tirar o fôlego. Bayona consegue colocar o espectador no meio de todo aquela destruição e em momento algum ficamos confusos com o que está acontecendo, independente de tudo ser muito rápido.

O momento seguinte, pós-choque, apresenta a personagem de Naomi Watts aterrorizada e chorando agarrada a um tronco. Seu instinto materno fala mais alto que o medo depois de avistar o filho mais velho e ela tenta se aproximar dele. Se a cena anterior já merece umas boas caipirinhas do nosso ranking do Cinema de Buteco, o momento seguinte é ainda mais angustiante. Watts tenta em vão alcançar o jovem e o público, novamente, é obrigado a compartilhar daquele sofrimento.

Watts, diga-se de passagem é o grande trunfo de O Impossível. Repetindo a dobradinha com Ewan McGregor (com quem havia trabalhado em A Passagem), a atriz se mostra em uma atuação inspirada. A química com o jovem Tom Hollands engrandece ainda mais o desempenho da dupla. Watts emociona do começo ao fim, sem carregar demais nas emoções e correndo o risco de parecer forçada. Mérito de Bayona, que conseguiu tirar o melhor de todo o seu elenco. Os três atores interpretam personagens que são bem desenvolvidos e vivem seus dramas paralelos em meio ao desastre: Watts sofre por conta de um ferimento quase fatal, Hollands começa a andar de um lado para o outro pelo hospital para promover o encontro de famílias perdidas (o primeiro momento em que me fez chorar), e McGregor compartilha a sua dor com completos desconhecidos enquanto usa um celular.

É raro me sentir aflito assistindo filmes. Desde o calcanhar cortado de O Albergue que isso não acontecia com essas proporções (A Serbian Film é nojento e me deu ânsia de vômito, mas apenas por ser muito escroto mesmo). Cada vez que a câmera focava nos ferimentos dos personagens, eu mordia os dedos e fazia cara de quem havia acabado de chupar o limão mais azedo do universo. Nem mesmo os seios de Watts (sempre bem vindos) são perdoados.

Enquanto a trilha sonora é uma tortura para os ouvidos do espectador, o mesmo não pode ser dito para os sons diegéticos presentes na trama. Logo após os créditos iniciais, por exemplo, temos a tela escura e um barulho forte que pode parecer tanto com um metrô ou o próprio impacto das ondas. Inclusive, boa parte da cena pós-tsunami deixam o espectador cego e contando apenas com os ouvidos para se direcionar e entender o que está acontecendo.

Bayona apresenta um belo filme sobre o instinto de sobrevivência em O Impossível. Ele ainda aproveita para apresentar dois paralelos: o instinto de sobrevivência materno, quando Watts acolhe outra criança perdida e não deixa o filho escapar de seu campo de visão; e também o instinto paterno, quando o pai toma uma decisão polêmica – mas com a melhor das intenções – para tentar resgatar os seus filhos. Lágrimas facilmente serão derradas por aqueles mais sensíveis e que se permitirem entrar no longa-metragem.


Nota:[tres]