Sex and the City 2

De: Michael Patrick King. Com: Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Cynthia Nixon, Kristin Davis.

Momento mea culpa: sabe-se lá Deus porque eu não consegui, no meu post sobre o primeiro Sex and the City dizer, de forma mais convincente o que eu achei daquele filme. Não é um bom filme. É divertido. E não durante todo o tempo. 2t acertou totalmente quando disse que se tratava muito mais de um “Quero ser O Diabo Veste Prada”, do que um filme que estivesse à altura da série. Rever filmes muda conceitos. Desconsiderem tudo o que escrevi naquela ocasião. Mas prometo não errar desta vez! rs

O fato é que Sex and the City 2 é possivelmente o filme que mais me surpreendeu nesse ano. Depois de uma decepcionante e fraca primeira incursão das quatro amigas mais famosas de NY no cinema uma continuação pra mim parecia muito desnecessária. Não que não seja, mas o grande mérito desta continuação é que o diretor/roteirista/produtor parece ter se apegado a tudo aquilo que fez do primeiro filme falho, afim de corrigir essas imperfeições. Não há como não se render desde os primeiros segundos de filme!


É perceptível uma maior segurança no potencial da história enquanto cinema. Sabemos que a série sempre foi um sucesso retumbante, mas se há dois anos atrás o problema estava em uma certa artificialidade das ações, e na forma como elas decorriam principalmente nos últimos atos da história, aqui a coisa toda flui com tanta naturalidade, e inteligência que ver o filme se torna uma experiência completamente divertida. E verdadeira.

Porque digo isso? Sim, estamos falando da faceta mais “entretenimento fácil e rápido” de Hollywood do ano. Exigir alguma profundidade desse tipo de filme é até injusto. E definitivamente não é o caso aqui. Mas duvidar da inteligência do espectador é um erro infelizmente bastante cometido. O que de certa forma está relacionado com o público que vai assistir à coisa toda. Mas isso é outro assunto.

Voltando à Sex and the City 2, o que vemos é uma variedade gigante de informações e histórias particulares, invariavelmente ligadas ao que se considera tópicos da problemática feminina (maternidade, trabalho, casamento, rotina, sexo, a chegada da idade). Desconsidere o conhecido exagero no quesito vestuário (é divertido e ao mesmo tempo irreal a quantidade de trocas de roupa!). Há sim, uma certa realidade palpável na vida daquelas mulheres. OK se elas discutem essa tal realidade entre dunas dos emirados árabes. Estamos falando de Sex and the City! Mas isso nunca vem como um ônus pro resultado final da historia.

Uma abertura inteligente (preparem-se para uma repetição dessa palavra neste post) onde novamente acompanhamos a narração de Carrie Broadshaw, nos contando da ocasião em que chegou à Nova Iorque. Algo já conhecido pelos fãs da série. A novidade está em ver como eram Carrie e suas amigas quando jovens, atrapalhadas e perdidas numa cidade até então desconhecida, ou pelo menos não ainda dominada por elas (mostrar Samantha como garçonete do CBGB é sensacional). Depois uma seqüência do que parece ser um fato novo na vida daquelas pessoas, inimaginável naquele início da década de 90: o casamento gay.

Opulência. Glamour. Cisnes e Liza Minelli (poucas pessoas conseguem entender o que é a sensação de ver essa mulher COM TUDO EM CIMA, DIVINA E PODEROSA dançando e cantando All the Single Ladies)! Em um clima que não pode ser caracterizado como nada menos que um espetáculo da Broadway. Novos modelos de relações nos levam a repensar aquelas que pareciam ser tão sólidas. Convencional não significa ausência de conflito e de satisfação. Por mais que Mr. Big seja o marido dos sonhos de qualquer um, ele tem suas manias, desejos, que vão de encontro aos de Carrie. Assim como as demandas da maternidade vão de encontro aos desejos (que existem, embora sejam algumas vezes colocados em segundo plano) de Miranda e Charlote. E quando a idade chega e a libido não é mais a mesma (o que é de fato um problema gravíssimo pra quem vive em função de sua sexualidade, como Samantha) existirá alguma solução para além dos hormônios e cremes rejuvenescedores?


São muitos problemas pra se resolver. Então porque não aceitar uma oferta de viagem com tudo pago para os desertos de Abi Dabhi? Mais um ponto inteligente do roteiro que mostra certa tensão que surge entre as amigas durante o que parecia ser a viagem ideal: pontos de vista se chocam, embora não necessariamente se eliminem. E esse acordo entre visões de casamento, cumplicidade e romantismo só aparece depois de algumas situações vivenciadas, o que nos leva a pensar novamente que: só quem sente na pele, vive a coisa toda, pode falar com propriedade sobre o outro. Cada um sabe qual a sua fórmula pra ser feliz, seja no casamento, no sexo, na maternidade… Estar aberto a pensar um pouco mais sobre isso é que é o ponto.

Talvez a palavra chave de Sex and the City 2 seja a falibilidade. Essas mulheres que são tidas como perfeitas (embora sejam, fashionisticamente falando) tem seus problemas e ninguém serve de referência pra ninguém (o que se mostra, talvez na única cena “força a barra” do filme, quando um casal que tinha Carrie e Big como quase ídolos, descobre seu desinteresse em ter filhos). Exigir muito de si mesmo também só leva a frustrações e a assuntos mal resolvidos.

Passando por todas essas camadas, sem soar falso, sem alternativas fáceis, só deixando as situações aparecerem pra que aquelas mulheres reajam de acordo com o que realmente são, o inteligente roteiro ainda encontra tempo pra um alívio cômico super bem vindo, bem feito e oportuno: a volta pra casa. Sensacional!

Louis Vuitton, jogadores da seleção australiana de Rugby (ui), drinks, hotéis caríssimos, Penélope Cruz, velhos conhecidos dos fãs (roupas e personagens), suspiros da platéia… É o universo Sex and the City pra tela grande mostrando a que veio finalmente. E agora até deixa um gostinho de quero mais. O um é razoável. O dois é imperdível. 4 Cosmopolitans.