Direto do Indie 2011 Parte 4: Sátántangó

Assistir Sátántangó, sem dúvida alguma, é uma experiência fílmica única.  O filme de 435 min (isso mesmo você não leu errado 435min!!!) foi exibido na íntegra em Belo Horizonte no último dia 05 de setembro dentro da programação do Indie Festival 2011, que dentro das várias mostras homenageou o diretor Bela Tarr com exibição de vários de seus filmes.


Sátántangó não é destaque apenas pela sua duração de 7h15min, o filme exibido em cópia 35mm é considerado a obra-prima do diretor húngaro e mesmo para aqueles que nunca tiveram contato com algum filme de Bela Tarr, este pode ser considerado como uma porta de entrada para o cinema contemplativo e reflexivo do diretor.

Costumo dizer que um bom filme conta a história através de imagens. Em Sátántangó nos deparamos como longos e poucos planos, alternando longos silêncios com lentos movimentos de câmera para contar a história de um grupo de pessoas que vivem em uma aldeia coletiva arruinada numa Hungria pós-comunista; vivendo um clima de tensão após receberem uma certa quantia como indenização pelos seus trabalhos versus a perspectiva da volta de um antigo morador do local com a fama de ser um feiticeiro.

Bela Tarr constrói uma trama instigante desde os minutos iniciais de projeção. Construindo um quebra cabeça intenso e coeso, numa belíssima fotografia em preto e branco, sua câmera sempre contemplativa nos apresenta uma história sobre os dramas humanos de esperança e sacrifício, redenção e morte, trabalho e promiscuidade, o homem que mente, mata e trai. Bela Tarr no seu próprio ritmo nos joga dentro dessa comunidade (onde chove quase que intermitentemente) e nos faz olhar para nós mesmo e refletir sobre a verdadeira natureza desses atos.


Sátántangó numa tradução livre seria “o tango de satã”, é adaptação do romance de Lázló Krasznahorkai (que colaborou na roteirização do filme) e é dividido em 12 partes. Segundo Enrique Santos Discépolo “o tango é um pensamento triste que se pode dançar”, assim pode ser encarada uma das sensações que advém com a experiência de assistir Sátántagó, o drama, a paixão, a agressividade e sexualidade tristes conduzidos habilmente por Bela Tarr em um compasso de tempo único e apaixonante.