10 Filmes Estrelados por Mentirosos

“EU NUNCA MINTO” é provavelmente uma das maiores e mais emblemáticas mentiras que uma pessoa pode contar. A não ser que você seja do tipo inconveniente que responde com sinceridade até a corriqueira saudação “Tudo bem?”, é bem provável que seu dia-a-dia seja permeado por pequenas e geralmente inofensivas mentiras, por mais honesto que você se considere – e, graças ao curioso O Primeiro Mentiroso, até o Cinema já teve a oportunidade de teorizar a respeito de quão bizarra a sociedade seria caso o hábito de mentir nunca tivesse sido inventado.

Naturalmente, há também uma parcela considerável de mentiras mais expressivas e mentirosos mais ousados, algumas vezes tendendo até mesmo à patologia – tudo isso presente em nossas vidas de forma mais abrangente do que podemos nos dar conta. Não é à toa que a mentira é um elemento extremamente disseminado nas narrativas cinematográficas, surgindo mais constantemente em gêneros como comédias românticas (há sempre uma intriga para instaurar uma crise na relação do casal!) e suspenses investigativos.

Assim, neste Dia da Mentira, o Cinema de Buteco selecionou alguns filmes com mentirosos bem particulares, que vieram às mentes de nossa honestíssima equipe.


O Primeiro Mentiroso

Não havia como falar de mentiras no Cinema sem falar de um filme que retrata, justamente, a invenção destas. Nesta comédia utópica, o mundo é um lugar onde a mentira ainda não existe, e como podemos ver, somente verdades são trocadas entre as pessoas, exibidas em propagandas e mesmo retratadas no próprio Cinema – todos os filmes mostram apenas pessoas lendo histórias reais. Num dia, acidentalmente, o fracassado Mark Bellison (Ricky Gervais) acaba inventando a mentira, e mudando este mundo para sempre.
Este argumento é um prato cheio para boas piadas – em destaque, uma envolvendo a propaganda da Pepsi – e reflexões a respeito de nossa necessidade de mentir, uma vez que jamais imaginaríamos um mundo sem este recurso. Ainda que, vez ou outra, caia no lugar-comum das comédias românticas, esta produção de 2009 é um notável exercício de criatividade.

Leonardo Lopes

O Primeiro Mentiroso


Curtindo a Vida Adoidado

Seria Ferris Bueller o nosso mentiroso favorito do cinema? Não sei dizer, mas certamente os ensinamentos dele na clássica obra de John Hughes ficarão guardados para sempre nas nossas memórias – e corações. Ferris é um malandro que valoriza a vida radicalmente, e considera pequenas mentiras essenciais para o sucesso de seus planos. No caso de Ferris, tudo começa com uma pequena desculpa (extremamente planejada) para matar aula, mas o que descobrimos é que mentira tem perna curta e precisamos tomar cuidados extra para não corrermos riscos.

Tullio Dias

Curtindo a Vida Adoidado


O Mentiroso

Em 1997, no auge de sua popularidade, Jim Carrey estrelou o hilariante O Mentiroso. A trama apresenta um advogado que ganha a vida mentindo o tempo inteiro. O problema é que seu filho fica chateado da vida e faz um pedido inusitado durante seu aniversário: que o pai ficasse 24h sem contar uma mentira sequer. O resultado é que a macumba pegou e o advogado precisa lidar com um dia aterrorizante em que ele só pode dizer a verdade. A partir disso, os espectadores são presenteados com uma verdadeira “sessão de tortura”, daquelas que a barriga começa a doer de tanto rir e se divertir com um dos melhores papéis de Carrey no cinema.

Tullio Dias

O Mentiroso


Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas

A mentira muitas vezes pode funcionar como algo bom para tornar uma história simples em algo mágico e especial. Ed Bloom (Ewan McGregor/Albert Finney) é um homem cuja grande paixão, depois da esposa, era contar histórias. A verdade se misturava com a imaginação fértil de Bloom, que sempre se esforçava para adicionar cores nos fatos mais corriqueiros e bobos. Nunca que uma mentira se tornou tão agradável aos ouvidos e corações das pessoas.

Tullio Dias

Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas


Prenda-me Se For Capaz

Quando mentir é realmente necessário? Para Frank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio), quase sempre. Desde a infância, na escola, o garoto já mentia e passava-se até por professor, mas graças à uma adolescência conturbada, o jovem foge de casa e seus golpes aplicados só crescem – ele passa-se até por médico e piloto de avião -, despertando a atenção das agências investigadoras, sobretudo do detetive Carl Hanratty (Tom Hanks), fascinado por seu caso.

O exemplo vivido pelo personagem é uma prova de como as mentiras podem servir como uma fuga de sua própria vida, especialmente em momentos de maior dificuldade, e mesmo com novas chances sendo recebidas – normalmente, oferecidas pelo bem intencionado Hanratty -, a chance de continuar vivendo uma vida falsa já tornara-se uma fuga necessária, afinal de contas, sempre que uma crise surgisse, este poderia apenas partir para uma outra “identidade”. Ao mesmo tempo, Frank percebia estar sendo prejudicado ao jamais envolver-se real e sinceramente com alguém, por conta de não poder revelar a mentira que vivia. A ambiguidade do protagonista é o mais fascinante neste, interpretado com a sensibilidade necessária por DiCaprio. O mesmo aplica-se a Hanks, cuja relação do personagem é quase paternal com o jovem golpista.

Considerado um projeto menor de Steven Spielberg, Prenda-me Se For Capaz é uma obra fascinante e extremamente divertida – e isto é pura verdade.

Leonardo Lopes

Prenda-me Se For Capaz


O Preço de Uma Verdade

Stephen Glass se encaixa bem no perfil do mentiroso patológico e compulsivo – e esta é a única razão para que um recorte da vida do jornalista tenha sido levada para os cinemas. Vivido por Hayden Christensen, Glass é um jovem colunista da revista The New Republic que chamou a atenção do público e da comunidade jornalística pela qualidade das histórias que serviam de base para seus textos e pela pouca idade com que conquistou o sucesso. O que ninguém sequer cogitava era que boa parte do que Stephen colocava em sua coluna pudesse ser plagiado ou simplesmente inventado pelo autor, cujos carisma e engenhosos métodos para disfarças as inverdades impediam que até mesmo os colegas de redação desconfiassem de sua credibilidade. Mas é como dizem: mentira tem perna curta – e nada como um jornalista de um veículo concorrente, intrigado com o trabalho de Glass, para se aprofundar em uma investigação, ventilar a fraude e cortar as asinhas do mentiroso.

Eduardo Monteiro

O Preço de uma Verdade


Uma Babá Quase Perfeita

Nas produções cinematográficas, constantemente vemos as mentiras sendo retratadas a favor da aplicação de golpes, em sua maioria não muito bem intencionados. No caso de Uma Babá Quase Perfeita, o pai carinhoso vivido por Robin Williams teve que afastar-se de seus filhos em decorrência do divórcio com sua esposa, e por isto esforça-se ao máximo para personificar a amável senhora Doubtfire, com um único objetivo: reaproximar-se das crianças.

Claro que nem tudo são brincadeiras nesta vida dividida entre um solteirão de meia-idade e uma babá idosa e experiente, mas nas mãos de Robin Williams e Chris Columbus – quando os dois estavam em boa fase -, esta mentira gerará divertidíssimas confusões.

Leonardo Lopes

Uma Babá Quase Perfeita


Sr. & Sra. Smith

Ah, os relacionamentos. Ah, as mentiras que nós contamos em nossos relacionamentos. Ah, viver anos com uma pessoa sem saber quem ela é na realidade. Ah, os relacionamentos! Angelina Jolie “roubou” Brad Pitt de Jennifer Aniston depois desse filme, ou seja, provavelmente fez o bonitão dizer certas mentiras sobre gravações extras ou jantares com executivos. De qualquer maneira, fora as verdades de um relacionamento, o que acontece aqui é que o casal apaixonado vive em pé de guerra depois que descobrem a verdadeira profissão um do outro. Como se não bastassem serem assassinos profissionais, um recebe a missão de matar o outro. Um verdadeiro caso de amor. Com muita mentira, claro.

Tullio Dias

Sr e Sra Smith


Quanto Mais Quente Melhor

De vez em quando mentir se torna uma grande necessidade, como é o caso desta brilhante comédia de Billy Wilder. Dois músicos presenciam um crime e são obrigados a se disfarçarem de mulheres para escapar de perigosos mafiosos. O problema é que eles não esperavam ficar na companhia de Marilyn Monroe, que apenas torna a mentira ainda maior com novos detalhes sórdidos. Se você, jovem leitor, cresceu achando que As Branquelas era engraçado e original, sugiro assistir Quanto Mais Quente Melhor e descobrir de verdade o que é uma comédia bem feita.

Tullio Dias

Quanto Mais Quente Melhor


Atenção: A recomendação a seguir contém spoilers!

Catfish

As discussões que Catfish geram são o que o filme possui de melhor. Acompanhando o envolvimento virtual do fotógrafo Yaniv Schulman (ou apenas Ned) com uma bela jovem que conhece na internet e a eventual descoberta de que se tratava de uma grande farsa, o documentário (?) levantou – e ainda levanta – uma interminável discussão em torno da credibilidade dos fatos ali apresentados: afinal, a trama de fato aconteceu ou o longa se trata de uma grande encenação roteirizada? O mais interessante, entretanto, é como esse questionamento reflete a posição defensiva que o espectador assume diante do conteúdo e da temática do filme: se duvidamos de forma tão incisiva de sua credibilidade é porque provavelmente não queremos passar por tolos de sermos enganados pelos cineastas assim como Ned fora ludibriado pela dona de casa farsante. Como se não bastasse, o filme também levanta reflexões extremamente pertinentes sobre relacionamentos virtuais, privacidade e compartilhamento de dados on-line – e estas, naturalmente, independem da veracidade da narrativa.

Eduardo Monteiro

Catfish