Os dez filmes mais pretensiosamente ruins lançados em 2013

por Jefferson Assunção

Sempre ao final de todo ano começam a surgir listas de melhores e piores filmes lançados naquele ano, quer seja em revistas especializadas em cinema ou na internet, o que não se tornou diferente em 2013. Contrariando a maioria dos críticos cinematográficos e buscando causar polêmica (a única forma de fazer as pessoas pensarem e levantarem-se do sofá), resolvi listar os mais pretensiosos filmes de 2013 e que, em minha humilde opinião, falharam, sendo por isso piores do que aqueles que são ruins por si só. Por que isso? Em primeiro lugar, alguns títulos que constam nessa lista são considerados entre os melhores do ano por grande parte dos críticos e não por mim, que os vi como meras bobagens. Portanto, eles entraram apenas de forma a sacanear esse fato como também outra questão, que gostaria de suscitar à reflexão: listas de melhores ou piores filmes são coisas pessoais e, por isso, não deveriam ser compartilhadas por aí, e também são estúpidas exatamente por terminarem de transformar o cinema (que é teoricamente uma arte), em um bobo entretenimento onde se julga o que é ruim ou não, sendo isso um aspecto que diz respeito à opinião e ao gosto de cada um. Os outros filmes a constarem na lista foram considerados ruins, mas, por carregarem o peso de alguma pretensão, foram parar ao lado de outros vistos com quase unanimidade como bons pela maioria dos críticos e espectadores.

Dito isso, abaixo vai minha lista com as devidas justificativas:

1 – O Tempo e o Vento, de Jayme Monjardim

o tempo e o ventoÉ um absurdo ver um produto lançado simultaneamente em formato de minissérie para TV e filme para cinema ser realizado com um orçamento altíssimo financiado através de dinheiro público, cerca de treze milhões de reais. Tudo isso vindo de uma emissora que mama nas tetas da verba publicitária do governo para, ao mesmo tempo, difamá-lo em seus telejornais diários e moldar a cabeça das massas com suas telenovelas. Refiro-me à Rede Globo, que ainda domina a TV por assinatura com os canais do sistema Globosat, uma editora, uma rádio e um jornal impresso, além de uma produtora e distribuidora cinematográfica, a Globo Filmes, responsável por alguns dos maiores sucessos de bilheteria dos últimos tempos que, no final das contas, são belas porcarias que adestram, alienam e colocam um cabresto no povo brasileiro que lota as salas de cinema dos shopping centers. Mais absurdo ainda é ver um diretor de quinta categoria (Jayme Monjardim), que já havia realizado o pavoroso Olga (2004) destruir uma das obras mais importantes e complexas da história da literatura brasileira para criar uma espécie de resumo para os preguiçosos lotado do mais profundo dramalhão e com uma direção pesada e kitsch própria de uma telenovela. É sabido que até um macaco adestrado ou um robô dirigiria uma telenovela. É simples: exagera-se nos close-ups para se deixar claro os sentimentos da personagem e usa-se uma trilha sonora excessiva e sentimentalmente ridícula. Portanto, seria de se esperar que Jayme Monjardim, vindo da TV (e que deveria ficar por lá), não seria diferente. Dessa forma, tudo soa mal em O Tempo e o Vento: Thiago Lacerda tentando dar uma de Tarcísio Meira, Marjorie Estiano tentando mostrar que é uma atriz, Cléo Pires como ela mesma, e a pobre Fernanda Montenegro perdida no meio de tudo. Para terminar, eu não poderia deixar de falar da pior seqüência do filme que fez Érico Veríssimo se revirar no caixão: a imagem de Ana Terra após se apaixonar por Pedro Missioneiro se masturbando em fusão com uma imagem de fogo (ou seja, ela está apaixonada e se derretendo pelo índio, ora bolas). Que horror…

2 – Somos Tão Jovens, de Antonio Carlos da Fontoura

somos tao jovens 2

A impressão que fica de Somos Tão Jovens, a tão alardeada cinebiografia de Renato Russo, é a de que o cantor e compositor foi nada mais do que um jovem burguês mimado que brigava com todo mundo e ainda se achava o dono da razão, o que, obviamente, não condiz com a total realidade. Em parte, ele era assim, mas não completamente, afinal de contas, o ser humano não é apenas uma coisa, mas um maço recôndito de significações e características complexas. Apesar do filme exalar juventude – algo admirável, pois é dirigido por um cineasta veterano, Antonio Carlos da Fontoura –, ele não mergulha na alma de Renato Russo como deveria, uma vez que se trata da cinebiografia de uma alma perturbada como a dele. Em segundo lugar, o contexto (a Ditadura Militar) também é pouco explorado e extremamente atenuado. Parece que naquela época tinham apenas alguns militares no poder e que fora isso estava tudo bem. As batidas policiais que ocorrem com Renato e seus amigos mais parecem blitz da lei seca. Toda a repressão, a falta de liberdade de expressão e etc. pouco transparecem, apesar de Renato não ter sofrido muito com isso, mas era um contexto do período em questão. A relação de Renato com os pais também pouco aparece em cena. E a estratégia de construir alguns diálogos a partir de versos de canções de Renato é ridícula. Parece que suas músicas foram criadas por geração espontânea ou foram escritas inconscientemente. Além do mais, a estratégia de reunir todas as mulheres importantes que passaram na vida de Renato em uma única personagem, Ana Cláudia, inclusive criando uma falácia (a de que uma de suas canções teria sido escrita para ela), não funciona. A verdade é que, em resumo, o filme mais parece um episódio de Malhação. Uma pena, pois uma personalidade como a de Renato Russo merecia algo muito melhor e, provavelmente, ele deve estar se revirando no caixão.

3 – Se Puder… Dirija, de Paulo Fontenelle

se puder... dirija

Se Puder… Dirija  foi vendido como o primeiro filme brasileiro realizado em 3D (?). Entretanto, durante cerca de uma hora e meia de projeção somente duas cenas se apresentam nessa tecnologia, sendo que em ambas são jogados objetos no espectador (no caso uma chuva de papéis picados), uma completa falta de compreensão do processo de projeção em três dimensões que vem sendo propagada por noventa e nove por cento dos filmes realizados com ela – com as exceções de Avatar (2009), de James Cameron; A Caverna dos Sonhos Esquecidos (2010), de Werner Herzog; A Invenção de Hugo Cabret (2011), de Martin Scorsese; e Pina (2011), de Wim Wenders. Fica claro que a estratégia de anunciar Se puder… Dirija! como um filme 3D é nada mais do que uma forma de aumentar o lucro obtido por ele, uma vez que os ingressos para se assistir à projeção em três dimensões são mais caros, mesma estratégia utilizada com o recente relançamento de filmes de animação da Disney não realizados em processo 3D em “novos” formatos dentro dessa tecnologia – “que coincidência”, Disney, a mesma distribuidora de Se Puder… Dirija!, que aliás parece mais uma produção de seus canais a cabo infantis. E para piorar (se é que é possível), Se Puder… Dirija! é a velha história do pai relapso que trabalha bastante e não tem tempo para seu filho, sendo novamente contada com um final feliz que julga construir uma moral fabular (sem, no entanto, consegui-lo de fato) através de uma narrativa de cunho essencialmente moralista que seria linda caso fosse ali feita uma crítica ferrenha ao capitalismo selvagem que leva a maioria das pessoas a trabalharem loucamente para darem algum conforto a seus filhos sem, no entanto, terem tempo para eles. Paciência…

4 – Vendo ou Alugo, de Betse de Paula

vendo ou alugo

Vendo ou Alugo é mais um de tantos filmes da safra de comédias comerciais brasileiras contemporâneas que tentam fazer alguma homenagem às saudosas chanchadas sem, no entanto, se valer da principal característica delas: a paródia ou pastiche dos grandes sucessos do cinema estrangeiro, abrasileirando os mesmos para atrair o público em cima do bom êxito alheio. Trabalhando com estereótipos deturpados, preguiçosos e preconceituosos, Betse de Paula cria uma caricatura nada real do Brasil onde se ri do processo de pacificação das favelas cariocas e tudo se resolve com o lendário e irreal jeitinho brasileiro, mostrado em um final feliz e autoexplicativo. Parece mais uma mistura grotesca de telenovela com Zorra Total aliada a uma estética clean e publicitária. E o pior de tudo: o filme venceu os principais prêmios da mostra Cine PE, inclusive os da crítica, do júri e do público, demonstrando o quanto os curadores da maioria dos festivais brasileiros encontram-se perdidos.

5 – Os Miseráveis, de Tom Hooper

Os Miseráveis - 05

Tom Hooper demonstrou certa competência em filmes como Sombras do Passado (2004), Longford (2006) e Maldito Futebol Clube (2009), vindo a vencer um Oscar de melhor diretor com o azarão O Discurso do Rei (2010), um filme certinho e nada mais. Com uma série de projetos batendo à sua porta, logo começaram as especulações sobre qual seria seu próximo filme. Assim, Hooper terminou por adaptar o musical da Broadway Os Miseráveis (que já era adaptado do romance de Victor Hugo). Porém, o resultado foi desastroso e o suposto talento de Hooper passou a ser questionado. Apesar de Os Miseráveis ser grandiloqüente, como era de se esperar, em sua direção de arte e figurinos, o diretor destrói tudo através de close-ups espartanos e claustrofóbicos que pouco ou nada mostram o trabalho de sua competente equipe de arte. Se houvesse alguma justificativa plausível para sua escolha estética, estaria tudo bem, mas não há e tudo acaba soando ridículo. Além do mais, a escolha de parte do elenco se mostra desastrosa, principalmente tendo-se em vista que a idéia (nada original, mas interessante) era a de não usar playback, ou seja, os intérpretes cantarem ao vivo no set de filmagem, dando maior realismo às personagens. Entretanto, como dito, algumas escolhas falham, como a de Russell Crowe, que atua bem, mas tem dificuldades em cantar ao vivo, e os coadjuvantes Helena Bonham Carter e Sasha Baron Cohen, cujas personagens parecem perdidas em meio à narrativa.

6 – R.I.P.D. – Agentes do além, de Robert Schwentke

Responsável pelo sucesso da adaptação de H.Q. RED – Aposentados e perigosos (2010) – espécie de misto de Cocoon (1985), de Ron Howard, com O procurado (2009), de Timur Bekmambetov – Robert Schwentke apareceu em 2013 com outra adaptação de uma grafic novel de inspiração pulp: R.I.P.D. – Agentes do além. O filme em si não tem nada demais, nenhum grande atrativo a não ser a diversão pura (principalmente por ele haver sido lançado em cópias 3D, tal como dita a nova moda), porém o que chama a atenção são o punhado de chavões com que o diretor trabalha, mas que em suas mãos funcionam, de forma a fazer com que R.I.P.D. atinja seu principal objetivo: o entretenimento vazio e puro por pouco mais de uma hora. Não que retirar do espectador a tarefa de pensar sobre algo possa ser visto como algum tipo de êxito (muito pelo contrário), porém nos dias de hoje, em que as pessoas trabalham tanto e que mal têm tempo de refletirem sobre alguma coisa e onde pouquíssimos filmes conseguem a tarefa de distrair o público com alguma coisa que tenha pelo menos algum tipo de qualidade, quem consegue fazê-lo, pelo menos se destaca. Em R.I.P.D., portanto, não há nada de novo: as personagens são as mesmas dos tipos de filmes que flertam com o gênero ação, ou seja, homens da lei durões e que abusam do poder conferido a eles, e que, enganados, deixaram de confiar em todos e que, após fazerem alguma grande bobagem e serem retirados do caso que investigavam, decidem por resolvê-lo mesmo assim, colocando a sua própria conta em risco. Não é muito diferente de MIB – Homens de preto (1997), de Barry Sonnenfeld, ou Os caça-fantasmas (1984), de Ivan Reitman, com a diferença de que, ao invés de caçarem alienígenas ou fantasmas, respectivamente, os agentes de R.I.P.D. correm atrás de almas que vagam pela Terra e, por isso, eles estão mortos e assumem avatares humanos. Ao final das contas, como dito, o que resta de R.I.P.D. é um entretenimento vazio logo esquecido.

7 – Django Livre, de Quentin Tarantino

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Django livre é a prova de que Quentin Tarantino deixou de ser um cineasta independente para se tornar um pretensioso e megalomaníaco – algo já visto em Kill Bill (2003 e 2004), e principalmente nos pavorosos À prova de morte (2007) e Bastardos inglórios (2009). Django livre custou, sabe-se lá porque, mais de cem milhões de dólares, um absurdo para quem até outro dia se dizia independente. Além do mais, o filme é um desvio besta da história dos escravos americanos que tenta de alguma forma reescrever a história dos EUA sem buscar entender os processos históricos que levaram ao fim da escravidão após a aprovação da décima-terceira emenda, colocando, assim, um negro justiceiro que, na verdade, é auxiliado por um alemão (?) a sair de sua condição, sendo isso uma deturpação estúpida que constrói o ideário de que os escravos não se rebelaram à época de forma independente necessitando de ajuda do homem branco, novamente criando uma situação de dependência. O diretor nada entende de História (o que ficava claro em Bastardos inglórios) e deveria não se meter com ela. Além do mais, a intenção maior de Tarantino era homenagear o western spaghetti, mais precisamente o filme Django (1966), de Sergio Corbucci, porém acaba edificando um filme trash (lotado de muito sangue artificial) e sem substância, realizado com muito dinheiro. Em suma, uma grande bobagem…

8 – A hora mais escura, de Kathryn Bigelow

A hora mais escura conseguiu ser pior do que o filme anterior de Kathryn Bigelow: o superestimado e laureado com vários Oscars Guerra ao terror (2009). Pelo menos o filme de 2009 discutia o prazer dos americanos pela guerra de forma metafórica e com cenas de ação de tirar o fôlego. Já A hora mais escura não questiona nada, não coloca nada em crise, apenas se contenta em mostrar uma situação, no caso a questionável captura de Osama Bin Laden. E pior: faz isso através de exagerados sadismos em relação ao espectador – a primeira seqüência, que mostra uma tortura em detalhes tem intermináveis vinte e dois minutos. Dessa forma, ele se mostra como uma apologia à tortura e aos métodos antiéticos da CIA, sendo, por isso, um dos filmes mais nojentos e deturpadores dos últimos anos, que simplifica de forma estúpida a invasão americana ao Iraque e a captura de Osama Bin Laden (cujo corpo foi supostamente jogado ao mar, sem contar o fato de sua foto morto divulgada ao mundo mais parecer uma porca montagem), sem questionar determinadas técnicas da CIA, demonstrando, ao invés disso, um enorme sadismo por parte de sua diretora, o que mata todo o discurso visto antes em Guerra ao terror. Além do mais, A hora mais escura parece um filme sem alma, feito no piloto automático. Para se entender melhor a invasão americana ao Iraque, bem como o suposto envolvimento de Osama Bin no ataque às Torres Gêmeas empreendido em 11 de setembro, é muito melhor assistir os filmes Guerra sem cortes (2007), de Brian De Palma, e Zeitgeist (2007), de Peter Joseph.

9 – Serra Pelada, de Heitor Dhalia

serra_pelada_xlgHeitor Dhalia é um péssimo roteirista e diretor, que parece construir suas personagens em seus roteiros de modo a que esses oscilem de acordo com cada momento da narrativa a seu bel-prazer e incapaz de dirigir uma cena dramática sem apelar para os recursos mais óbvios possíveis. Responsável por obras pavorosas como a adaptação de Crime e castigo, de Fyodor Dostoyevsky, para um universo urbano e contemporâneo em Nina (2004) – algo que fez o escritor russo se revirar no caixão –, o bobo O cheiro do ralo (2006) – que pega carona nas comédias pseudo-intelectuais moderninhas –, além do razoável À deriva (2009) e sua incursão no cinema estrangeiro com o péssimo 12 horas (2012), fracasso de bilheteria e crítica que fez Dhalia retornar ao Brasil com o rabo entre as pernas para realizar Serra pelada, vendido como um retrato definitivo da ganância. No final das contas, o filme não funciona, exatamente por explorar pouco as personagens mais interessantes da narrativa e por criar perfis unidimensionais e maniqueístas dos protagonistas, algo quase comum na obra do diretor. Lotado de diálogos com frases de efeito vazias e sem sentido cerebral, sem conseguir levar o espectador à reflexão sobre o que o que foi essa espécie de corrida do ouro moderna e sobre a ambição humana, Dhalia prefere se valer de um embate simplório entre o bem e o mal, o que gera um filme pavoroso.

10 – Gravidade, de Alfonso Cuarón

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Ao redor da história do cinema, muitos cineastas abdicaram de realizar imagens bonitas e planos engenhosos e bem trabalhados a favor de não iludirem seus espectadores com os dispositivos cinematográficos e sim fazê-los refletir com o que é exposto na tela. Hitchcock, por exemplo, sempre se arrependeu de ter realizado Festim diabólico (1948), seu único filme onde a decupagem frenética não é utilizada e onde os vários planos-seqüências são montados de modo a enganarem o público, levando-o a imaginar que está vendo um filme feito em uma única tomada. Alguns diretores europeus que, além de possuírem uma importância ímpar para a história do cinema, foram grandes inovadores em sua época, como Roberto Rossellini e Robert Bresson, sempre deixaram claro que as belas imagens, na maioria das vezes, nada mais são do que belas imagens e apenas servem para fascinar e não levar à reflexão, destituindo o espectador de um dos principais caráteres do cinema como arte: a catarse e/ou fruição meditativa, por vezes ruminante, que leva o espectador ao crescimento pessoal. Entretanto, há exceções, realizadores que conseguem ambas as tarefas, ou seja, dirigir imagens de grande engenhosidade e beleza e, ao mesmo tempo, reflexivas. Esses são os casos dos cineastas clássicos ou dos muitos que veneram e fazem referências a seus filmes. Infelizmente esse não parece ser o caso de Alfonso Cuarón, que causou furor na crítica e no público com Gravidade. Mas afinal, o que se quer dizer com a expressão “belas imagens”? Tratam-se de imagens de natureza perfeita ou quase perfeita, de geometria e formas acuradas, de fotografia com cores e iluminação que transmitem os padrões da arte clássica (reservando em si outros significados), que não transgredem paradigmas, que nunca sonhariam em apresentar tons granulados, a câmera na mão e tremeluzente, luzes fortes e objetos tortuosos. Gravidade tem início com um plano-seqüência de doze minutos, engenhoso, bem arquitetado, mas ele acrescenta o que ao filme, além de uma necessidade de Cuarón em realizar algo que chame a atenção de seu espectador para o dispositivo cinematográfico? A verdade é que a maioria dos críticos embarcaram na viagem de do diretor, mas, afinal de contas, como diria Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra, quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Simples assim…

Menção desonrosa:

Colegas, de Marcelo Galvão

Entendo que as intenções do diretor são ótimas e cativantes e o filme funciona muito bem como homenagem não apenas às pessoas com Síndrome de Down, mas também a todos que correm atrás de seus sonhos. Porém, não dá para esconder que existem sérios problemas no roteiro que comprometem o filme seriamente. Galvão é um cineasta competente e isso se atesta principalmente em seu primeiro filme, Quarta B (2005), que considero como um dos melhores do cinema brasileiro contemporâneo. Colegas, no entanto, tem uma série de personagens desnecessários, uma narração em voice over da personagem de Lima Duarte que aparece sem justificativa alguma (que além de injustificadamente onisciente é redundante) e piadas – tanto fazendo referência ao cinema em si, quanto parodiando ou debochado de determinados estereótipos – que não funcionam. Não gosto de dar palpite em filmes dos outros, porém acho que Colegas funcionaria melhor se os três protagonistas não se envolvessem necessariamente com toda a trama que diz respeito a roubos, crimes e etc., que muitos espectadores com certeza questionariam caso ali estivéssemos diante de uma história com crianças sem Síndrome de Down.

Elena, de Petra Costa

Mesmo se propondo a buscar as supostas razões que fizeram a irmã que dá nome ao filme se suicidar após não conseguir se tornar atriz em Hollywood, Petra Costa não consegue e acaba realizando um filme por demais poético, que parece uma viagem ególatra, egoísta e altamente pessoal, sem, no entanto, explorar nada da história de Elena. Ao final, mesmo sendo apresentadas imagens de filmes caseiros e de seus diários gravados (o que para mim soou altamente invasivo, assim como ler a carta de despedida da moça), não conseguimos descobrir quem de fato foi Elena. A busca de Petra Costa por explicações (se é que elas são possíveis) para o suicídio da irmã guardam inúmeras omissões, como, por exemplo, a não exploração da relação de Elena com a família. Apenas ficamos sabendo que ela foi estudar arte dramática em Nova York (mas por quê?) e, por não conseguir se tornar uma atriz bem sucedida, se matou. Como bem afirmou Inácio Araújo, “se cada um que não tenha sido bem sucedido nesse aspecto se suicidasse não haveria braços para enterrar todos eles.” Além do mais, se todos que perdem um ente querido por suicídio resolvessem fazer um documentário, o mundo estaria cheio de filmes desse tipo.

Faroeste caboclo, de René Sampaio

Não é um filme de todo ruim, mas a necessidade de aproximar a narrativa da música (apenas em termos de personagens e de suas respectivas trajetórias) não funciona, sendo todo o resultado bastante previsível. Em alguns momentos buscou-se certo distanciamento da canção de Renato Russo (como se houvesse certo receio de haver uma acusação de previsibilidade da narrativa), mas isso acaba por criar um filme sem alma. Além do mais, a necessidade de René Sampaio em recriar referências óbvias ao western, principalmente os de Sergio Leone – ou mais precisamente Três homens em conflito (1966) – soam injustificadas, como se estivessem ali apenas com o intuito de criar um estilo. Uma pena…

* Jefferson Assunção é graduado em Cinema e Vídeo pelo Centro Universitário UNA. É pesquisador da obra de John Ford e do gênero western. Atualmente é sócio na empresa Artesãos Tagarelas e é crítico de cinema dos Blogs “A Tela do Aventurar” e “O Formalismo”, além de cineasta e poeta. Seu mais recente curta-metragem, “A Mortalha da Morte”, foi selecionado para a 7ª Mostra de Cinema de Ouro Preto. Está em processo de finalização de seu primeiro longa-metragem, intitulado “Resíduos da Memória”.