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RetrospectivaButeco2014 #2 – 10 Principais Decepções de 2014

NEM SEMPRE ENCONTRAMOS NOS CINEMAS aquilo que esperávamos. Lidar com expectativas cinematográficas é um flerte constante com a possibilidade de sair decepcionado. No entanto, como acontece no amor, qual é a graça de não se esperar absolutamente nada de um filme apenas pelo prazer de ser surpreendido? Será tão errado assim ficar ansioso por um lançamento e de repente descobrir que ele foi ainda melhor que o imaginado? Claro que não. Pensando exatamente nessas questões que convidamos o jornalista e crítico Marcelo Seabra (O Pipoqueiro) para a segunda edição da dobradinha de Principais Surpresas e Principais Decepções do Cinema em 2014.

Não deixe de participar comentando quais foram as grandes decepções do cinema para você esse ano!

Nota do editor: A lista de Principais Surpresas e a lista de Principais Decepções são baseadas na opinião de dois críticos que foram ao cinema com expectativas prévias em relação aos filmes mencionados, e acabaram surpreendidos de uma maneira positiva ou negativa após assisti-los. De maneira alguma, as duas listas representam os “melhores” ou os “piores” filmes do ano, como parece que ficou subtendido nos comentários de alguns leitores que se queixaram das opiniões aqui apresentadas. 

Top 5 – Principais Decepções do Cinema em 2014, por Marcelo Seabra

É bom lembrar que uma lista de maiores decepções não traz filmes necessariamente ruins, mas aqueles que não cumpriram a grande expectativa que criaram no público. Este ano, a menção principal vai para Christopher Nolan e seu Interestelar. Com elenco competente e orçamento mais do que generoso, o projeto do diretor e roteirista vinha recebendo elogios e comparações desmedidas, e desenvolvimento se arrastava há anos. O resultado infelizmente é frio, não consegue empolgar ou se conectar a seu público. E o número de situações inexplicadas é grande, é preciso um grande salto de fé para acreditar e, o pior, aceitar tudo. Interestelar não é de todo ruim, claro, mas está longe do brilhantismo que aprendemos a esperar de Nolan.

decepções do ano - interestelar

Outro diretor que se cercou de louros é Darren Aronofsky, e decidiu desagradar tanto cinéfilos quanto religiosos com sua visão sobre a história de Noé, um dos personagens mais famosos dos textos bíblicos. Não é preciso ser muito envolvido com alguma religião para conhecer os pontos básicos da trama do patriarca que salvou a vida na Terra colhendo pares de todos os animais que andavam e voavam por aqui. Várias situações no roteiro que dependem pura e simplesmente da fé soam como furos e enfraquecem a obra, afastando um espectador minimamente cético. E aqueles que esperavam ver um retrato fiel do que é narrado na Bíblia também se frustram, com anjos transformados em gigantes de pedra. Esse é um exemplo das loucuras de Aronofsky, que fez um longa tecnicamente perfeito, mas cansativo e difícil de acompanhar.

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Depois de quatro longas que tinham em comum um senso de humor crítico, cínico e inteligente, Jason Reitman (de Jovens Adultos, Amor Sem Escalas, Juno e Obrigado por Fumar) se tornou um diretor a se acompanhar. Por algum motivo incompreensível, ele decidiu partir para um drama e mostrar um lado mais sensível em Refém da Paixão. Com personagens sofridos e injustiçados numa situação bem forçada e inverossímil, Reitman parece ter cometido seu primeiro pecado, mostrando que nenhuma carreira cinematográfica é perfeita. É louvável que ele tenha decidido se arriscar em terreno inédito, mas isso não significa que tenha sido bem sucedido. Seu forte segue sendo as comédias ácidas, que ele já fez tão bem e às quais pode eventualmente voltar.

refem da paixao 2

Uma comédia já clássica teve sua esperada continuação esse ano. Os personagens são os mesmos, mas o humor se perdeu no caminho e Tudo por Um Furo – ou O Âncora 2 – é um fracasso retumbante. A história de Ron Burgundy segue para os anos 80 e pouca coisa se aproveita. Nem os coadjuvantes, antes tão interessantes, conseguem trazer ar fresco a esta produção. Will Ferrell se repete, a rusga entre ele e James Marsden não gera interesse algum e até Steve Carell consegue sair por baixo, já que seu Brick Tamland deixa de ser engraçado e se concentra em ser estúpido. Nem a tão falada sequência final salva, sendo apenas um ponto nonsense que requenta o longa anterior e tenta chamar a atenção com participações especiais.

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Ao fazer o terceiro filme dos Mercenários, Sylvester Stallone exaure uma fórmula que funcionou bem da primeira vez e se mostrou gasta já na segunda. Mais entrou gente do que saiu, e há jovens e veteranos entre as novidades. Com tanta gente famosa em cena, é difícil querer desenvolver alguma coisa, e outra tarefa dura é dividir o tempo em cena desse povo todo. Além de repetir a si mesma, a série repete coisa pior. O papel do desafeto da vez coube a Mel Gibson, que já havia sido o vilão do horroroso Machete Mata, o que tira qualquer possibilidade de ineditismo. Os momentos de “bromance” também são constrangedores: os brutamontes param em cenas prolongadas rindo e “dividindo um momento”, e parece apenas erro de edição. Stallone ganhou fôlego com essa franquia e ajudou muita gente a se levantar. Agora, é hora de seguir adiante.

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Top 5 -Principais Decepções do cinema em 2014, por Tullio Dias

Muito difícil quando um de nossos livros favoritos (ou que pelo menos marcaram uma parte de nossas vidas) é levado para o cinema de maneira discreta. A adaptação do best-seller A Menina Que Roubava Livros ficou muito abaixo da média. Ainda que não se trate de uma obra ruim, o resultado é decepcionante. Talvez seja uma questão do timing (afinal, o buzz em torno do livro aconteceu há quase dez anos) ou da trilha sonora medíocre do outrora genial John Williams. Ou simplesmente as mudanças na estrutura da narrativa ou a falta de um diretor capaz de arrancar lágrimas dos espectadores da mesma forma que o escritor australiano Markus Zusak conseguiu no seu livro. Não dá para saber. A questão é que Liesel merecia um tratamento melhor nos cinemas, assim como os estúdios poderiam ter investido um pouco mais na adaptação. Potencial existia, mas acabou sendo jogado pela janela.

a menina que roubava livros coluna
Experiências pessoais negativas podem ter me tornado uma pessoa mais amarga em 2014. Essa seria uma boa razão para eu incluir aqui Jennifer Lawrence, Christian Bale, Bradley Cooper, Amy Adams, David O. Russell e seu Trapaça. O absurdo maior seria afirmar que se trata de uma obra completamente equivocada, mas não existiu exemplo melhor para se explicar uma broxada cinematográfica durante o ano. Depois do excelente O Lado Bom da Vida, a oportunidade de ver toda a turma reunida novamente (e com Bale e Adams somando no elenco) parecia a garantia de uma das melhores produções da temporada. Não é. Trapaça se arrasta em toda a pretensão de emular os trabalhos de Martin Scorsese. Com todo o trabalho de divulgação feito em cima e o buzz da imprensa internacional, o resultado acaba sendo frustrante. Tanto que me fez dormir no cinema e ter que assistir ao filme novamente em outra oportunidade – sem mudar absolutamente nada da minha opinião inicial.

trapaça jennifer lawrence

Darren Aranofsky é um dos meus cineastas favoritos. Ao lado de David Cronenberg, David Fincher, Quentin Tarantino e Christopher Nolan, qualquer anúncio de novo projeto garante a minha atenção e interesse. Acompanhei toda a etapa de pré-produção de Noé, inclusive na época em que o cineasta ainda estava cotado para dirigir Wolverine: Imortal, e quando Christian Bale negociava para o papel que acabou nas mãos de Russell Crowe. Peguei uma sessão conturbada com um bando de idiota conversando o tempo inteiro, mas a grande verdade é que me irritei mais com a falta de noção, sentido, coerência, qualidade do roteiro e uma narrativa bem desenvolvida do que os mal-educados do cinema. Noé é um belo filme para ser assistido, não há a menor dúvida, porém Aranofsky cria obras para serem sentidas. A única coisa que senti enquanto assistia ao longa-metragem foi que estava perdendo preciosas duas horas da minha vida que poderiam ser investidas jogando Sudoku.

Noé-2
Como disse, o rancor tomou conta da minha alma. Jogos Vorazes: Em Chamas foi um dos melhores lançamentos da temporada passada. O curioso é que o primeiro filme havia sido medíocre, o que me fez ir com zero expectativas para a continuação. Me surpreendi com a evolução nítida do elenco e do trabalho do diretor: Gary Ross e seu “estilo” felizmente foram substituídos pela eficiência de Francis Lawrence em conduzir melhor o elenco e as sequências de ação. No entanto, o grande problema de Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 é o fato de ser apenas um grande preparativo para o derradeiro quarto filme. A decisão dos executivos de Hollywood em estender demais a adaptação teve como consequência um longa apático, lento e que monta as peças para o grande cheque-mate da Parte 2.

decepções - jogos vorazes - a esperança
Pensei em incluir Planeta dos Macacos: O Confronto como minha quinta maior decepção do ano, e seria merecido. Apesar de todos os seus méritos como filme de ação, a continuação da prequel estrelada por James Franco peca pelos diálogos infantis, feios e bobos de seus personagens – não apenas os macacos, vejam bem. Só que preferi reconhecer a qualidade do vilão Koba (devidamente homenageado em nossa lista de principais vilões de 2014) e jogar o balde de água fria em Seth MacFarlane no irregular Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola. Muito conhecido por seu trabalho na série Uma Família da Pesada, MacFarlane ganhou o público dos cinemas com a genial comédia Ted. Claro que seu trabalho seguinte teria que lidar com a pressão de superar o sucesso da história do ursinho punheteiro e desbocado, e infelizmente não deu conta do recado. Existem poucas piadas realmente engraçadas e um aparente desconforto de todo o seu elenco, que não parece estar ali de verdade. Todo mundo está flutuando como se fosse apenas um grande esquete de uma hora e meia. Uma pena.

decepções - um milhão de maneiras de pegar na pistola

Saiba quais foram as principais decepções do cinema em 2013 aqui!