Review: Westworld s01e01 – “The Original”

WESTWORLD É UMA SÉRIE BASEADA NUM LONGA-METRAGEM HOMÔNIMO DE 1973 e fiquei curioso com a série desde que a HBO começou a exibir os seus primeiros teasers. Parecia um sci-fi numa produção western que questiona a nossa própria realidade, uma combinação atraente para um cinéfilo como eu. Seria bobagem tentar resistir, especialmente depois de saber que a obra é uma criação de Jonathan Nolan, irmãozinho de Chris Nolan e responsável pelo roteiro da trilogia O Cavaleiro das Trevas, e J.J. Abrams.

O episódio piloto, dirigido pelo próprio Nolan, contextualiza o seu telespectador sem entregar informações demais e mantendo algumas perguntas no ar. Afinal, quando se trata de J.J. Abrams, manter o mistério é um pré-requisito. Conhecemos Dolores (Evan Rachel Wood) e a pacata vida da população de uma cidadezinha. De vez em quando tem um bang bang, alguém morre e depois todo mundo vai pro bar encher a cara.

O problema é que essa Disneyworld da perversão começa a entrar em colapso depois que alguns desses robôs passam a apresentar defeitos que precisam logo ser solucionados para evitar colocar os clientes humanos em risco.

“The Original” diz respeito justamente a Dolores, que é revelada como a PRIMEIRA “anfitriã” de Westworld. Ou seja, ela foi a primeira andróide do parque de diversões macabro para ricaços sem coração. Gosto de ver Rachel Wood vivendo a protagonista de uma série recheada de nomes famosos na indústria. A conclusão do episódio nos faz imaginar que teremos muitas surpresas acompanhando o amadurecimento de Dolores e também vamos descobrindo aos poucos as verdadeiras intenções do personagem de Ed Harris.

Imediatamente o roteiro já coloca as coisas no seu devido lugar. Já começamos a série sabendo que Dolores é um andróide e que mora num imenso parque de diversões para adultos em busca de sensações intensas. Isso não significa necessariamente “boas intenções”, vejam bem. Westworld coloca os humanos como verdadeiros monstros capazes de estuprar, agredir e matar qualquer um apenas pelo prazer de se sentir intocável e poderoso.

Desconhecer o longa-metragem original não atrapalha na compreensão da série. É até notável a intenção de Nolan em humanizar os andróides e oferecer um ponto de vista diferenciado em relação ao original, que foca apenas em dois humanos se divertindo no parque e fugindo de um andróide assassino vivido por Yul Brynner. A série nos coloca ao lado dos oprimidos, ao passo que vamos nos envolvendo e simpatizando com os andróides criados pelo Dr. Robert Ford (Anthony Hopkins).

Muito é falado sobre a intenção da HBO em transformar Westworld no seu “próximo Game of Thrones”, já que a obra inspirada nos livros de George Martin se aproxima de suas temporadas finais. Um detalhe sutil é a escolha de Ramin Djawadi para a canção tema, que possui ecos ao tema principal de GOT, criada pelo mesmo compositor. Golpe baixo mexer com nosso inconsciente, né?

Já que estamos falando de música, como é que se mantém indiferente em relação a uma série que de cara cria duas sequências usando releituras mais “leves” de canções porradas, como “Black Hole Sun”, do Soundgarden, e “Paint it Black”, do Rolling Stones (usada na sequência que introduz o personagem de Rodrigo Santoro num tiroteio sangrento)? E nem precisamos comentar que os créditos do episódio usam uma faixa de Johnny Cash como trilha sonora (“Ain’t No Grave”)…

Se Westworld será uma aposta de sucesso, ainda é cedo para dizer. No entanto, não tenho a menor dificuldade em reconhecer que se tratando de elenco e roteiro sci-fi mind fuck, não existem grandes concorrentes para desafiar a produção de Jonathan Nolan e J.J. Abrams.