Gil do Vigor é o último ídolo da nação

Andrés Nicolás D’Alessandro, para aqueles que não estão familiarizados com o futebol, é um jogador argentino que por mais de 10 anos defendeu o Sport Club Internacional, de Porto Alegre. Dale, como foi apelidado pela torcida, se tornou um ídolo do clube pelo qual disputou mais de 500 partidas, ganhou títulos e respeito dentro e fora de campo. O argentino se notabilizou por “dar o sangue” pela camisa: aguerrido, ele peitou adversários e árbitros, provocou torcidas rivais, suou, correu e lutou durante os 90 minutos de cada jogo disputado, mesmo aos 39 anos. Mas só isso não tornaria D’Alessandro idolatrado. Ele só se tornou digno desse título porque, além disso, é um craque, e sempre mostrou a habilidade de quem conhece muito bem a bola e o gramado por onde ela rola. O futebol, porém, não é justo. Em 2020, sua história no Internacional terminou, deixando milhares de torcedores órfãos.

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Só a despedida do ídolo de um time causa a mesma comoção que a eliminação de um grande competidor do Big Brother Brasil: nós sabemos que ele continua vivo e poderemos vê-lo em um outro lugar, mas nunca mais onde ele se acostumou a desfilar seu talento diante dos nossos olhos admirados. Na noite de ontem, todos os brasileiros de bem entenderam a torcida do Internacional. Com 50,87% dos votos, Gil do Vigor foi eliminado do BBB 21.

A jornada do herói

Tal qual D’Alessandro, Gilberto deu o sangue durante sua participação. Comprou brigas, se emocionou, beijou, suou, voltou de paredões, perdeu peso, venceu provas do líder, provocou, errou, contou votos, emparedou ex-aliados e nunca subiu no muro. O economista também foi brilhante no objetivo do reality. Entregou entretenimento de alta qualidade. Facilitou o trabalho de edição ao preencher programas que, não fossem por ele, seriam monótonos. Movimentou jogos da discórdia e madrugadas pós-eliminação – os momentos favoritos do público. Vencedor da décima edição do BBB, Marcelo Dourado ressalta que o participante “mudou muito fisicamente, se transformou e viveu intensamente, usando o jogo para validar sua existência.” Se a 21ª temporada tem números tão positivos de audiência, ele tem mérito, como os craques em equipes campeãs. O público deveria tratá-lo como tal.

A injustiça

Há quem diga que o futebol de hoje tem poucos ídolos e, por isso, está decadente de talento e paixão. É fato que os jogadores ficam menos tempo nos clubes e estão interessados apenas nas cifras milionárias por trás da camisa que vestem, como produtos publicitários. Caso dos finalistas Camilla De Lucas, Fiuk e Juliette.

A primeira, que travou disputa acirrada contra Gil no último páreo, poucas vezes se posicionou no jogo e optou pela aborrecida estratégia de não se comprometer para evitar o paredão. Não entretém e chega à final porque a maior torcida a considerou uma adversária mais fácil de ser batida. O filho de Fábio Júnior, por sua vez, chegou à casa treinado para reproduzir o discurso da militância virtual que vota maciçamente nos paredões. Não se entrega e até levou uma bronca do apresentador Tiago Leifert por não se posicionar. Seu grande momento no programa foi ser chamado de “cuzão” por Arthur. Por fim, Juliette sempre agiu de maneira coreografada com suas redes sociais. Comandadas por gente ligada a campanhas políticas sujas, elas operaram ostensivamente contra torcidas adversárias para manter a participante na disputa. Ela certamente virará um “case” de sucesso para agências de marketing digital interessadas nos números, mas jamais sentirá o gosto da idolatria real, aquela que Gilberto Nogueira e Andrés D’Alessandro conhecem. Enquanto não houver limitação do número de votos por pessoa (como apontado pelo colunista Mauricio Stycer), os ídolos não serão justiçados e o Big Brother ficará ainda mais injusto do que o futebol.