Echo Valley é um desses filmes que você começa achando que vai ser só um drama indie sobre luto e cavalos, mas que de repente vira uma mistura de Mildred Pierce com Breaking Bad: Edição Reabilitação. Dirigido por Michael Pearce e roteirizado pelo criador de Mare of Easttown, Brad Ingelsby, o longa promete mais do que entrega, mas ainda assim deixa a gente tonto, emocionalmente falando. Tipo levar coice de égua com trilha sonora triste ao fundo.
Julianne Moore interpreta Kate, uma mulher que perdeu a esposa num acidente e agora tenta se reerguer entre fardos de feno e sessões de hipoterapia. Sua filha, Claire (Sydney Sweeney), aparece e desaparece como notificação de SMS: sempre trazendo problema. E dessa vez, a mensagem vem acompanhada de um cadáver no porta-malas. A partir daí, mãe e filha se envolvem numa espiral de decisões ruins, drogas, ameaças e um traficante chamado Jackie que parece ter saído direto de um pesadelo molhado do Domhnall Gleeson.
O filme abre com Moore fazendo o que sabe melhor: sofrer com classe. Ela transmite o cansaço existencial de quem já lidou com luto, abandono e sessões intermináveis de terapia sem resultado. Fiona Shaw surge como a vizinha gente boa que toda mãe solo emocionalmente devastada merece. Já Kyle MacLachlan faz uma ponta como o ex-marido escroto, só pra lembrar que ninguém ali vai ajudar de verdade.
Sweeney, por sua vez, entrega uma performance que oscila entre a filha carente, a sociopata em treinamento e a garota propaganda de reabilitação que você sabe que vai fugir na primeira semana. Ela muda de humor mais rápido que o tempo no interior da Pensilvânia. E cada vez que ela aparece com um novo surto, você entende um pouco mais o motivo da Kate manter tanto feno à disposição: provavelmente é pra se esconder atrás.
Mas o grande problema de Echo Valley não é a atuação, nem a direção (que é bela, escura e gótica como uma HQ da Vertigo). É o roteiro que, depois de um começo promissor, se perde mais do que Claire num detox. As reviravoltas são tão exageradas que fazem How to Get Away with Murder parecer realista. Tem um lago que engole corpos, um cadáver que aparece como se tivesse pedido Uber até lá, e decisões tão absurdas que você começa a duvidar que essas pessoas tenham o mínimo de QI funcional.
A dinâmica mãe e filha tem força, mas falta fôlego. Quase não temos tempo pra ver as duas interagindo antes de tudo virar bagunça. O filme quer ser um estudo de personagem, um suspense, um retrato da dor materna e um drama criminal com comentário social – tudo ao mesmo tempo. Resultado: acaba sendo um pouco de tudo e muito de nada.
Ainda assim, tem algo ali. A dor de Kate é palpável. As frustrações com a filha viciada, o desejo de proteger alguém que não quer ser salvo, o senso de culpa de quem tenta controlar o incontrolável – tudo isso é real. E talvez seja isso que Echo Valley faça melhor: mostrar que o amor, às vezes, é um cavalo bravo que você tenta domar sabendo que ele vai te derrubar. Mesmo assim, você monta.
É um filme imperfeito, mas com momentos poderosos. Se você curte thrillers familiares com atmosfera pesada, personagens fodidos da cabeça e uma boa dose de “onde foi que essa mãe errou?”, pode entrar na trilha com elas. Só não espere final feliz – e nem coerência absoluta. Aliás, coerência é pra quem não tem um corpo pra esconder no porta-malas, né?
Echo Valley é sobre isso: o desespero de uma mãe, o caos de uma filha, e um cavalo que provavelmente tá cansado de tanta treta emocional.

