Atenção, passageiros do mico alheio: o vôo para a Ilha da Vergonha está pronto para decolar. Invasão de Lua de Mel, nova comédia francesa da Netflix, tenta ser uma farra ensolarada no paraíso, mas acaba parecendo mais uma sessão de tortura emocional regada a piadas recicladas e vergonha alheia em doses tóxicas. A ideia é bizarra o suficiente para chamar atenção: um noivo abandonado no altar decide levar a própria mãe para a lua de mel. Até aí, você pensa: ok, tem potencial para o caos. Mas o filme vai além. Muito além. Os dois se passam por um casal romântico em um resort cheio de apaixonados. Freud provavelmente se revirou tão forte no caixão que provocou um tremor de terra.
Julien Frison interpreta Lucas, o banana mais banana da atual safra de bananas do cinema europeu. Jogado para escanteio por sua noiva na hora do “sim”, ele aceita o conselho (e a chantagem emocional) da mãe Lily (Michèle Laroque) e embarca com ela para o paraíso tropical de Maurício. O plano era esquecer a dor e, quem sabe, comer um buffet all inclusive de autoajuda. Mas assim que pisam no resort, são confundidos com um casal em lua de mel. E ao invés de esclarecer o mal-entendido, os dois… topam manter a farsa. Sim, você leu certo.
A partir daqui, Invasão de Lua de Mel se transforma em um festival de constrangimentos, onde a comédia parece ter sido escrita por um comitê de estagiários entediados e entorpecidos. Tem piada de cama compartilhada? Tem. Piada de macaco roubando papel higiênico? Tem. Piada de alucinógenos tropicais? Mas é claro! E não podemos esquecer da velha confiável: piadas com xixi em cima de sanguessugas.
Enquanto isso, Lily flerta com um galanteador grisalho chamado Peter, o que poderia ser um subplot interessante se o filme não estivesse tão obcecado com o incômodo fingimento conjugal entre mãe e filho. Lucas, por sua vez, se interessa pela guia turística Maya (Margot Bancilhon, a única que parece atuar num filme com roteiro), mas o romance é sabotado por situações tão absurdas que fazem American Pie parecer Shakespeare.
A direção também é preguiçosa. O filme não tem ritmo, as piadas são jogadas sem timing, e o desenvolvimento dos personagens é praticamente inexistente. A gente não torce por Lucas. Não ri com Lily. Não sente nada, exceto um desconforto crescente e o desejo de que uma tempestade tropical interrompa a filmagem. Em algum momento, o roteiro tenta nos empurrar uma reconciliação emocionada entre mãe e filho, como se a gente tivesse passado 90 minutos assistindo a um drama de superação familiar e não a um show de horrores onde a linha entre carinho e cringe foi obliterada com napalm.
Talvez o mais revoltante em Invasão de Lua de Mel seja que a premissa absurda é usada apenas como gancho para clichês exaustivamente batidos. Com um pouco mais de coragem (e direção), o filme poderia ter abraçado de vez o surto e se transformado numa comédia escrachada, no nível Todo Mundo em Pânico encontra Psicose. Mas não: ele tenta, de forma covarde, suavizar o incômodo, e acaba ficando no limbo entre o sem-graça e o perturbador.
No fim das contas, Invasão de Lua de Mel é um daqueles filmes que você termina de ver e se pergunta: quem achou que essa era uma boa ideia? Talvez os roteiristas estivessem mesmo de férias em Maurício quando escreveram isso em guardanapos de bar. Não duvido. O que eu duvido é que você consiga rir sem se contorcer de vergonha.
Se você curte comédias constrangedoras com tempero freudiano e roteiros escritos no modo “deixa que eu finjo que faz sentido”, essa é pra você. Mas se tiver algo melhor pra fazer — como reorganizar sua gaveta de meias — talvez valha mais a pena.

