Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança

Entrando em cartaz nos cinemas no dia 17 de agosto, “Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança” é o novo suspense brasileiro, dirigido por Marcos Bernstein (“Meu Pé de Laranja Lima”, 2012) e estrelado por Cláudia Abreu. Divulgado como parte de uma trilogia que retratará os estágios da violência na sociedade brasileira, este primeiro “Ato” acompanha Carla, uma advogada que vê a filha ser baleada durante uma tentativa de assalto no Rio de Janeiro. Enfrentando vários estágios do trauma e insatisfeita com a atuação da polícia, a mãe parte em uma busca por vingança que afeta toda a sua vida.

A premissa de representar as mazelas da sociedade brasileira já rendeu alguns dos melhores filmes de todos os tempos já produzidos no país – “Que Horas Ela Volta?” (2015), “7 Prisioneiros” (2021) e o clássico do cinema brasileiro, “Cidade de Deus” (2002), dentre tantos outros. Em “Tempo de Vingança”, várias temáticas sociais são abordadas, como a violência nas grandes cidades, as problemáticas da atuação policial e o tráfico de armas, mas aqui, tudo não passa da superfície. A sensação é que são vários temas abordados e nenhum é aprofundado devidamente, de forma a conseguir concluir uma crítica social.

Por outro lado, o roteiro e a atuação de Cláudia Abreu trazem o expectador profundamente para o sofrimento da mãe e todos os estágios do seu luto e vingança. Assim, o filme acaba sendo muito mais sobre luto, vingança e sobre as diferentes trajetórias das pessoas ao lidar com traumas impensáveis. Nada disso é um problema, pelo contrário, é uma temática interessante e que tem potencial para prender a audiência, mas não é como o filme tem sido vendido.

Alinhadas as expectativas, Claúdia Abreu carrega muito bem o filme, totalmente focado no seu desespero e culpa, e a trilha sonora e edição com flashbacks te leva a sentir a tristeza e o desespero da protagonista. É um filme pesado, não só emocionalmente, mas também no nível de violência, e talvez caberia uma classificação etária para maiores de 16 anos, não 14. Cabe também o aviso de gatilho, caso esteja passando por luto pela perda de alguém por violência.

Por fim, se posso destacar uma qualidade do filme que sobressaiu à todas as outras, seria a imprevisibilidade. Mesmo tendo deixado um pouco de sensação de ser mais longo do que o necessário, o roteiro desse “Primeiro Ato” consegue ser extremamente surpreendente, com diversas reviravoltas inesperadas. Mesmo que seja possível deduzir o final, o caminho que o roteiro percorre conseguiu sair do óbvio, gerando cada vez mais curiosidade para os próximos passos da protagonista.

“Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança” se vende como uma grande crítica social, mas acaba sendo um filme mais intimista, sobre a jornada de uma mãe, vítima da violência urbana, em luto profundo. Bem produzido e com reviravoltas surpreendentes, o filme deve agradar ao público que gosta de filmes de vingança, e deixa curiosidade sobre a produção dos próximos “Atos” e seus temas.