Sofia Coppola tem uma maneira muito particular de retratar mulheres no cinema, com exceção do personagem de Stephen Dorff no ótimo “Um Lugar Qualquer”, todas suas protagonistas foram mulheres.
Em comum elas possuem uma aparente fragilidade, e ao contrário de muitos diretores, que gostam de retratar a transformação da “menina frágil” para a “mulher forte”, Sofia mantém a fragilidade de suas personagens, de modo que apenas olhares mais atentos e espertos irão notar que essa característica na verdade é a força dessas personagens. Esse também é o caso de Priscilla, conhecida mundialmente como a mulher de Elvis Presley, aqui ela tem sua história contada sob sua própria ótica, afinal o roteiro é adaptado de seu livro de memórias “Elvis e Eu”.
Priscilla (Cailee Spaeny) era filha de um oficial do exército e residia em uma base militar dos Estados Unidos na Alemanha Ocidental, enquanto Elvis (Jacob Elordi) já era famoso e prestava serviço militar no mesmo local no final dos anos 50. Ela tinha apenas 14 anos quando eles se conheceram, e claro que a questão sexual deve ter preocupado os empresários que gerenciam o patrimônio do rei do rock (que inclusive impediu que as músicas originais estivessem no filme), no entanto, a diretora surpreende ao retratar Elvis como um cara brochante, ele era extremamente conservador em relação ao sexo com ela antes da maioridade, e apesar do seu sex appel e uma vida sexual efervescente com outras mulheres, no filme a relação do casal é quase juvenil.
O Elvis de Jacob Elordi é elegante, inseguro e imaturo, um ótimo trabalho do ator que se distancia de uma caricatura e cria uma figura humana e interessante, na verdade, a melhor interpretação do filme. Uma pena não sentir o mesmo de Cailee Spaeny, sua atuação é fraca e me impediu de conectar ainda mais com a história. Mas apesar disso, Priscilla é um bom retorno às origens de Sofia Coppola, que assim como ninguém, retrata tão bem a vida de princesas, escancarando as imperfeições (e o tédio) dessas “vidas perfeitas”, mas também mostrando a beleza e a força que poucos conseguem ver.
O filme esteve em cartaz durante o Festival do Rio e estreia nos cinemas no dia 04 de janeiro de 2024.

