Jafar Panahi condenado

Jafar Panahi em Marrakech — Condenado à Prisão, Vencedor da Palma de Ouro e Inabalável

MARRAKECH – Na 22ª edição do Festival Internacional de Cinema de Marrakech, o cineasta iraniano Jafar Panahi se sentou diante de uma plateia ansiosa, encarnando o que é a desobediência cinematográfica.

Apenas dias antes, Panahi havia sido condenado in absentia pelas autoridades iranianas a um ano de prisão e a uma proibição de viagem de dois anos por “atividades de propaganda” contra o Estado. No entanto, mesmo após quase 15 anos de proibições, o mestre iraniano permanece resoluto: “Eu sou um cineasta. Não posso fazer mais nada senão filmes”, declarou com uma simplicidade característica.

O seu último trabalho, It Was Just an Accident (Foi Apenas um Acidente), já é um fenômeno: venceu a Palma de Ouro em Cannes em maio de 2025 e acabou de varrer o Gotham Awards, levando Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original.

A Gênese na Prisão: Som e a Experiência Coletiva

O novo filme de Panahi marca uma nova era, distante dos trabalhos onde ele interpretava versões de si mesmo. O filme foca em pessoas que compartilham experiências traumáticas da prisão, centradas em um homem sequestrado.

Puxando uma matéria do The Playlist, Panahi, que já esteve preso, explicou que a inspiração veio diretamente do seu entorno, definindo-se como um “cineasta social”:

  • A Observação: Na prisão, a prioridade não é o próximo projeto, mas “tentar suportar sua própria condição, sentando-se com os outros e ouvindo suas histórias.” O filme é o resultado de sua experiência pessoal, mas também de uma experiência coletiva.

  • O Foco no Som: Panahi revelou que o som é vital no novo filme, uma ênfase que nasceu das interrogações de prisioneiros políticos. Vendados e sentados diante da parede, o único sentido que se desenvolve é a audição. “Você tende a ouvir e tentar imaginar aquele homem, se pergunta quantos anos ele tem, qual é sua aparência.” O som se tornou a fundação da narrativa.

Essa nova perspectiva (por estar atrás da câmera, e não em frente) trouxe um ritmo diferente ao seu cinema: cortes mais rápidos e uma energia mais dinâmica.


O Humor Como Elemento de Sobrevivência

Apesar do tema sério, It Was Just an Accident mantém momentos de humor, uma assinatura do trabalho de Panahi.

“Não importa o quão sério seja o que passamos, há sempre alguma risada ou algum humor nisso,” observou. “E essa é a balança da nossa existência, e você não pode se livrar disso quando faz filmes.”

O filme também apresenta uma jovem — a filha do sequestrado — que faz perguntas perspicazes. Ela se conecta às protagonistas femininas audaciosas que Panahi sempre retratou (como em O Balão Branco e O Círculo), que se recusam a aceitar o que lhes é dito.

Essa determinação reflete o espírito do movimento “Mulher, Vida, Liberdade” no Irã. O que mais surpreendeu os oficiais da prisão durante os protestos, ele lembra, era “a idade das pessoas que se manifestavam. Eram extremamente jovens.” Panahi vê nesse movimento juvenil o “raio de esperança” que ele percebe no Irã.


O Retorno Inabalável: “Meu País É Onde Eu Posso Respirar”

Apesar do sucesso internacional e da oportunidade de se refugiar no exterior, Panahi reafirmou seu compromisso inabalável com o Irã.

  • O Passaporte: “Eu só tenho um passaporte. Este é o passaporte do meu país, e eu desejo mantê-lo.”

  • O Compromisso: Ele confirmou que, embora tenha recebido a oportunidade, “nunca considerou deixar meu país e ser um refugiado em outro lugar.”

  • A Missão: Panahi prometeu terminar sua campanha para o Oscar e “voltar para o Irã o mais rápido possível” após a condenação. “O país de um indivíduo é o melhor lugar para se viver, não importa quais problemas, quais dificuldades. Meu país é onde eu posso respirar, onde eu posso encontrar a razão para viver e onde eu posso encontrar a força para criar.”

Sua decisão de retornar, mesmo sabendo que enfrenta a prisão, é o maior ato de resistência. Panahi insiste em continuar observando, registrando e criando, recusando-se a apresentar o Irã “de uma maneira que se adapte à narrativa oficial” e buscando a verdade.