Ladrões: Aronofsky larga o existencialismo e entrega uma comédia de erros com gângsteres, beisebol e um gato muito suspeito

Darren Aronofsky, o homem que fez você perder o apetite com Réquiem para um Sonho e questionar sua sanidade em Mãe!, resolveu… relaxar? Pois é. Ladrões marca a fase “e se eu fizesse um filme com Austin Butler, Zoë Kravitz, e um gato chamado Bud?” do diretor. E olha: funciona, mesmo que Aronofsky ainda esteja visivelmente tentando entender quem ele é sem a intensidade sufocante de sempre.


Sobre o que é Ladrões?

Nova York, 1998. Hank (Austin Butler) é um bartender bonitão, viciado em beisebol, álcool e… decisões ruins. Sua vida muda quando o vizinho meio esquisito (Matt Smith, em modo “estranhamente charmoso”) pede para ele cuidar do gato Bud. Spoiler: Bud não é só um felino fofo. Em questão de horas, mafiosos estão batendo à porta, gângsteres com nomes bíblicos aparecem e Hank se vê no centro de um esquema criminoso mais enrolado que roteiro de Nolan depois de três cafés.

É ação, comédia, um toque de suspense e zero pretensão existencial. Quer dizer, quase zero — Aronofsky não consegue evitar umas escatologias e monólogos malucos no meio do caos.


Menos Freud, mais Guy Ritchie?

Os trailers prometeram uma vibe à la Guy Ritchie, mas Ladrões bebe mesmo é da fonte de Shane Black (Beijos e Tiros, Dois Caras Legais). O humor aqui é afiado, às vezes pastelão, mas nunca deslocado. Aronofsky substitui as crises existenciais por piadas sobre gatos, decisões burras e mafiosos que parecem saídos de uma rave temática.

A ambientação em Nova York pré-11 de setembro serve mais como pano de fundo do que crítica social. Tem lá seus comentários sobre gentrificação e racismo institucional, mas ficam no plano decorativo, como aquela citação inteligente que você joga na conversa só pra parecer culto.


Austin Butler: de Elvis a… bartender atrapalhado

Butler acerta o tom. Depois de interpretar ícones e vilões, aqui ele é só um cara tentando sobreviver — tropeçando, suando, errando a mira e se safando por pura sorte e charme. Zoë Kravitz faz a femme fatale indie perfeita, enquanto Regina King e Bad Bunny (sim, ele) entregam participações que variam entre o eficaz e o hilário involuntário.

Ah, e sim, há uma cena de ação com drone que parece saída de West Side Story com anfetaminas. Aronofsky ainda sabe criar planos que arrancam um “uau”, mesmo quando está rindo de si mesmo nos créditos finais.


Para quem é

Pra quem sempre achou que Réquiem para um Sonho só precisava de umas piadas e um gato. Se você curte comédias de erros com um toque de violência, ama a estética dos anos 90, sente saudade de Dois Caras Legais e quer ver Austin Butler interpretando alguém que não exige 12 meses de preparação vocal… este filme é pra você.

Ah, e se você tem um gato, talvez repense esse relacionamento.


Com quem é

  • Austin Butler como Hank, o bartender ex-jogador, ex-promessa, atual ímã de confusão.

  • Zoë Kravitz como Yvonne, o tipo de namorada que você nunca sabe se vai te beijar ou te trair.

  • Matt Smith como Russ, o vizinho que some e deixa um gato e um caos no seu colo.

  • Bad Bunny (Benito Ocasio) como o mafioso que parece saído de um TikTok de humor físico.

  • Regina King como a policial que entrega monólogos sociopolíticos no meio da perseguição.

  • Liev Schreiber e Vincent D’Onofrio como gângsteres judeus — sim, e funciona.

  • Direção de Darren Aronofsky, versão “respiro criativo entre surtos existenciais”.


Veredicto

Ladrões é o “Aronofsky light”, um filme que parece ter sido feito depois de uma meditação guiada, três doses de tequila e um binge de Snatch. Ainda tem suas marcas registradas — planos ousados, uma pitada de trauma — mas no geral, ele troca a psicanálise por pancadaria e o sofrimento por sarcasmo.

É como ver um poeta deprimido fazendo stand-up: meio desajeitado, meio genial, mas genuinamente divertido. E olha, se esse é o novo Aronofsky, talvez a gente esteja pronto pra mais.


Vale a pena assistir?

Ladrões é um Aronofsky mais leve, mais pop, talvez menos ambicioso — e tudo bem com isso. É como se ele dissesse: “Tá bom, já te fiz sofrer, agora deixa eu só brincar um pouco com esses personagens excêntricos e esse gato que parece saber demais.”

Pode não ser um home run, mas é uma rebatida boa o suficiente pra garantir a base. E, no caso de Aronofsky, isso já é um plot twist.


Onde assistir Ladrões?

Ladrões estreou nos cinemas brasileiros em 28 de agosto. Prepare a pipoca, abrace o seu gato (ou desconfie dele) e curta esse filme que é meio noir, meio nonsense e 100% fora da curva do seu diretor.