quem morre em Stranger Things 5 -dustin

Teoria de Stranger Things indica um grande tributo a Stephen King. Isso te surpreende?

Upside Down é o Langoliers da Netflix?

Em Stranger Things 5, os roteiristas finalmente largaram a sutileza e começaram a esfregar tempo, fenda temporal e viagem mental na nossa cara. Até aí tudo bem: a série sempre foi um grande Frankenstein de referências oitentistas. Mas uma teoria específica começou a ganhar força e, convenhamos, faz sentido demais pra ser coincidência:

o Mundo Invertido seria, na verdade, um gigantesco tributo a “The Langoliers”, de Stephen King.

Não é exatamente chocante descobrir que os Duffer Brothers respiram Stephen King – It, The Talisman, Carrie, Firestarter, escolhe aí. O próprio King já elogiou Stranger Things algumas vezes. Mas agora a parada ficou mais específica: e se o Upside Down não fosse só “outro universo sombrio”, e sim o resto podre do nosso mundo depois que o tempo passa, exatamente como em The Langoliers?

Sim, é tão perturbador quanto parece. E, pior, combina demais com o que a 5ª temporada está fazendo.


The Langoliers: o “Mundo Invertido” original do King

Pra quem faltou nessa aula do terror: “The Langoliers” é uma novela de Stephen King, lançada em 1990 na coletânea Four Past Midnight. Um grupo de passageiros de avião passa por uma fenda bizarra e acorda num mundo vazio, morto, sem gente, sem vida, tudo com cara de cenário abandonado.

Depois eles descobrem o plot twist:

  • aquilo ali é o passado,

  • o tempo daquele lugar já acabou,

  • e o que resta é lentamente devorado por criaturas chamadas Langoliers, que vêm “comer” o que sobrou pra dar espaço ao presente.

Agora respira e pensa no Mundo Invertido:

  • mesma cidade, só que congelada e decadente,

  • tudo parado num momento específico,

  • flora e fauna bizarras destinadas a consumir aquilo,

  • portais que te jogam entre os dois lados…

Não é cópia 1:1, mas é o tipo de “coincidência” que a gente sabe que não é coincidência.


Stranger Things 5 e a obsessão repentina com tempo

Se fosse só estética parecida, dava pra enfiar na gaveta das referências gerais. Mas Stranger Things 5 – Volume 1 resolve ir além e transformar tempo em tema explícito, quase didático:

  • No episódio 1, eles jogam “A Wrinkle in Time”, da Madeleine L’Engle, na nossa cara logo de saída. Livro sobre quê? Dobras no tempo.

  • No episódio 2, rola menção direta ao Capacitor de Fluxo de De Volta para o Futuro, mais um ícone de viagem temporal.

  • O próprio Vecna aparece infiltrado na vida da Holly como “Sr. Whatsit”, ecoando a criatura de A Wrinkle in Time – não é nem referência, é grito.

  • No episódio 3, entram os wormholes, buracos de minhoca ligando espaços e tempos diferentes.

  • No episódio 4, a própria Holly Wheeler compara o “espaço de memória” de Vecna a viagem no tempo.

Quando uma série que sempre foi mais “monstro, trauma e amizade” começa a repetir “tempo, tempo, tempo” como mantra, é porque vem coisa grande por aí. E essa coisa pode ser exatamente isso:

o Upside Down não é simplesmente “outro mundo” — é o nosso mundo, depois que o tempo dele acabou.


Upside Down como passado morto: o encaixe sujo demais pra ignorar

Imagina o seguinte cenário kingiano:

  • o tempo de Hawkins em 1983 “fecha”,

  • aquilo vira uma carcaça temporal,

  • o Upside Down é esse resto morto, condenado a ser consumido por criaturas que deveriam “limpar” o que sobrou, versão demogorgon de lixeira temporal.

Em The Langoliers, as criaturas devoram o passado.
Em Stranger Things, os monstros do Mundo Invertido invadem o presente.

A teoria mais maligna diz que:

  • originalmente, as criaturas do Upside Down devorariam tudo quietinhas no canto delas;

  • até que Henry Creel / Vecna é jogado lá, se conecta ao “sistema” e toma o controle daquilo que era só um mecanismo de limpeza temporal;

  • em vez de deixar o passado ser digerido, ele resolve usar essa sucata de tempo como arma pra rasgar o presente e remodelar o mundo.

Ou seja:

  • o que era pra ser a faxina cósmica do King vira guerra multiversal de emo vingativo.


King, Duffer e a arte de plagiar com carinho

Importante: os Duffer nunca foram do time “copiar e colar”. Eles:

  • piscam pra It e fazem o próprio grupo de losers;

  • lembram Firestarter com Eleven, mas constroem outra relação com poder e trauma;

  • agora, pegam o conceito central de The Langoliers e, ao que tudo indica, giram a chave pro lado mitológico, conectando tempo, memória, trauma e apocalipse.

Se a teoria estiver certa, o que temos não é só fanfic maluca: é o maior tributo a Stephen King dentro de Stranger Things até agora. Não em referência visual, mas de estrutura.

E faz sentido que isso venha justamente na temporada final:

  • um universo que sempre foi montado a partir de King, Spielberg e cia.

  • se despede abraçando de vez o conceito kingiano de tempo podre, passado fantasmagórico e culpa cristalizada nas paredes de uma cidade.


E o que vem aí em Volumes 2 e 3?

Se o Mundo Invertido for mesmo um “passado morto” hackeado pelo Vecna, dá pra apostar em algumas coisas pros próximos episódios:

  • revelação explícita de que o tempo em Hawkins “trava” num ponto específico (aquela eternidade de 1983);

  • explicação de como as fendas entre presente e “resto temporal” foram abertas;

  • conexão direta entre as memórias do Vecna, o trauma de Will e o próprio funcionamento do Upside Down;

  • e, no pacote, o show fazendo seu último grande aceno pra Stephen King, não só em posters e falas, mas na própria espinha dorsal da mitologia.

Se a teoria estiver errada, pelo menos ela faz algo que a Netflix adora:

  • aumenta o tempo de tela da série dentro da sua cabeça.

Se estiver certa, prepare-se pra encarar o final de Stranger Things sabendo que o monstro verdadeiro nunca foi só o Vecna, o Demogorgon ou o Devorador de Mentes — e sim o tempo, esse langolier gigante que vem pra devorar tudo que você ama.