Se você achava que a maior ameaça à cultura pop era a falta de criatividade em Hollywood, espere até ver como os bilionários politicamente engajados fazem negócios. O ano de 2025 foi marcado por uma fusão corporativa gigantesca: a Skydance Media de David Ellison assumindo o controle da Paramount Global.
E qual foi a primeira grande decisão artística desse novo regime? Contratar um cineasta que estava no “limbo” de Hollywood para reviver uma franquia de comédia de ação dos anos 90, após um pedido pessoal do Presidente dos EUA, segundo uma nota do blog The Playlist.
Não se trata de nostalgia. Trata-se de corrupção suave, quid pro quo e a fusão aterrorizante entre poder político e o controle do seu streaming.
1. O Favor Pessoal: A Hora do Rush 4 e a Reabilitação de um Diretor
O escândalo começou com a notícia de que Donald Trump “pressionou pessoalmente” o bilionário Larry Ellison (e, por extensão, seu filho David Ellison, CEO da Skydance/Paramount) para reviver a franquia A Hora do Rush.
O resultado dessa pressão é a Paramount finalizando um acordo de distribuição para A Hora do Rush 4, trazendo de volta o diretor Brett Ratner.
Onde o Sinal Amarelo Vira Vermelho:
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Exílio de Ratner: Ratner estava em “exílio” desde 2017, quando diversas mulheres o acusaram de má conduta e assédio sexual. Studios como a Warner Bros. romperam contratos lucrativos e o deixaram de lado. Ninguém em Hollywood queria ser associado a ele.
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O Documentário de Propaganda: O “passe livre” de Ratner veio com Melania, um documentário luxuoso sobre Melania Trump, que a Amazon licenciou por cerca de US$ 40 milhões (com Melania como produtora creditada). Este filme foi a reentrada gloriosa de Ratner no circuito A-list.
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O Loop Fechado: Trump ganha um documentário de propaganda polido sobre a esposa, e Ratner, em troca, ganha um emprego de estúdio mainstream graças a uma pressão política direta. A Paramount, ao assumir a distribuição (o verdadeiro poder de marketing e exibição), transforma um projeto tóxico em um produto oficial.
2. ️ A Mídia Capturada: CBS News e a Guerra Cultural
O domínio de David Ellison não se limita a ressuscitar sequels. Ele está ativamente rearranjando o ecossistema da informação americana, com claro viés ideológico.
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A Compra da The Free Press: Ellison adquiriu o outlet digital The Free Press, fundado por Bari Weiss (uma figura notória da guerra cultural, conhecida por suas posições anti-“woke” e pró-Israel).
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Weiss no Comando da CBS News: Weiss foi imediatamente instalada como Editora-Chefe da CBS News, reportando-se diretamente a Ellison. Essa estrutura destrói o muro de fogo entre o editorial e os interesses comerciais/políticos do dono.
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O Purge Ideológico: A chegada de Weiss coincidiu com demissões em massa e a eliminação de desks de raça e cultura na CBS, enquanto há um movimento explícito para trazer mais vozes conservadoras (como Alan Dershowitz, advogado controverso).
Isso não é jornalismo independente; é um bilionário comprando a visão de mundo que ele deseja e a instalando no coração de uma das maiores redes de notícias dos EUA.
3. O Fantasma do Petrodólar e o Monopólio
A ambição de Ellison não para na Paramount. Ele está ativamente tentando engolir a Warner Bros. Discovery (WBD), uma fusão que criaria um monopólio no mercado.
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O Arquiteto Antitruste: Para “lubrificar” o caminho legal, Ellison contratou Makan Delrahim, ex-chefe antitruste do Departamento de Justiça (DOJ) de Trump, para ser seu arquiteto legal. O homem que antes supervisionava a regulação antitruste agora está desenhando o argumento para permitir uma mega-fusão.
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O Dinheiro Estrangeiro: Reports indicam que a equipe de Ellison explorou a parceria com fundos soberanos de riqueza da Arábia Saudita, Catar e Abu Dhabi para montar um lance de US$ 70 bilhões pela WBD.
O cenário é claro: um magnata alinhado a Trump, usando um ex-regulador de Trump, e possivelmente capital estrangeiro (petrodólares) para consolidar um terço do mercado de cinema e uma vasta rede de notícias (CBS, HBO, CNN) sob um único teto politicamente comprometido.
Isso Não é Hollywood, É Uma Operação de Influência
A Hora do Rush 4 não é apenas um sequel idiota. É a ponta brega e desnecessária de um iceberg gigantesco que dita como o noticiário será enquadrado, quais fusões serão permitidas e quem pode se reabilitar em Hollywood.
A nova Paramount de David Ellison não parece um gigante do cinema renascido, mas sim uma operação de influência capturada, onde os filmes servem de camuflagem para os caprichos de seu dono e seus aliados políticos. E para quem se preocupa com monopólios ou a integridade da mídia, isso é o roteiro de terror que se desenrola na vida real.

