Conhecido por sua obra intimista e delicada, o cineasta sul-coreano Hong Sang-soo mostra em seu trabalho o cotidiano de personagens que buscam algo nem sempre concreto, mas ideais de satisfação pessoal. Ideais que não são bem definidos por ninguém e que carregam definições diferentes para cada pessoa. No premiado Encontros, o diretor mostra que ainda tem muito o que explorar das relações interpessoais.
A vida do jovem Young-ho (Shin Seok-ho) é exposta ao espectador através do que ele espera da namorada, do pai e da mãe, em encontros distintos e com propósitos diferentes, mas sempre com uma dose de melancolia e surpresa.
No primeiro momento, somos apresentados ao relacionamento do Young-ho e da namorada, Ju-won (Park Mi-so), que fica em segundo plano quando passamos a acompanhar a tentativa do jovem em encontrar o pai, um médico acupunturista. Aos poucos percebemos que se trata de uma relação conturbada e marcada pela hostilidade e por mágoas do passado.
Na segunda parte, em Berlim, para onde Ju-won se mudou a fim de estudar, é possível conhecer melhor os anseios e vontades da estudante, enquanto o namorado pode apresentar boas intenções misturadas a um comportamento que não necessariamente ilustra isso. O peso do relacionamento à distância é inevitável e dá as caras quando os namorados percebem que seus objetivos são divergentes.
Fica fácil perceber as mudanças em quem vai para longe e em quem fica à espera. Nem sempre essas mudanças são para melhor, mas ilustram os sentimentos que carregamos, estes podem ser bons ou ruins.
Por fim, Young-ho encontra a mãe, que não está sozinha, em um almoço, de volta à Coreia. A complexidade de todas essas relações na vida do jovem deixa claro que o cinema de Hong Sang-soo existe para tratar dos sentimentos humanos, que estão em constante transformação e que dificilmente são bem definidos. Enquanto acreditarmos que relacionamentos e sentimentos são definitivos, corremos o risco de nos tornarmos pessoas frustradas.
A narrativa de Encontros traz peso aos diálogos e, através destes, podemos compreender a passagem do tempo entre um encontro e outro. A fotografia em preto e branco é marcante e nos traz uma sensação de tristeza no fundo do que, aparentemente, seria felicidade.
Encontros foi premiado no Festival de Berlim (Melhor Roteiro) e com Prêmio da Associação Coreana de Críticos de Cinema (um dos Dez Melhores Filmes do Ano). Distribuído pela Pandora e exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme estreia nesta quinta-feira, 01/09, em São Paulo, Recife, Salvador, Aracaju, Porto Alegre, Belo Horizonte e Niterói. Quem tiver interesse em outros títulos de Hong Sang-soo pode conferir A Câmera de Claire (2017), O Dia Depois (2017) e A Mulher que Fugiu (2020) na plataforma de streaming Belas Artes à La Carte.

