Crítica: Kobra – Auto Retrato (2022)

O ano é 2022, um século após a Semana da Arte Moderna, e ainda é necessário debater a importância da arte em diversas formas. Eduardo Kobra, artista de 47 anos nascido em São Paulo, cidade onde ocorreu o movimento liderado por Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti Del Pecchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade, é prova viva de que a arte está sempre em evolução e desconstrução, além de ser capaz de se manifestar nos mais diversos cenários. O documentário Kobra – Auto Retrato, de Lina Chamie (A Via Láctea) mostra quem é o homem por trás da arte mundialmente (re)conhecida.

Quem vê as pinturas de Kobra, que estão espalhadas pelas ruas de mais de 30 países, não imagina que sua história de vida não inclui muito incentivo artístico. Pelo contrário, o artista, desde muito jovem, se deparou com forte preconceito contra a sua arte. É difícil acreditar que quem fazia grafiti nas ruas ilegalmente viria a pintar mais de 50 murais em Nova York e atingir sucesso internacional.

No documentário, o próprio Kobra conta a sua história e relata suas angústias, fraquezas e as dificuldades que enfrentou e ainda enfrenta, como a insônia, a depressão, o abuso de álcool, a resistência à paternidade e a sua trajetória, que inclui uma relação complicada com os pais.

Ao longo de 84 minutos, o artista coloca em pauta diversos temas que estão ligados à arte e às oportunidades que cada indivíduo tem de se aproximar e se familiarizar com manifestações artísticas. A violência policial e a vida na periferia fazem parte dessa discussão, assim como a questão ambiental, a causa animal e o extermínio da população indígena.

O reconhecimento mundial e a extensão física do seu trabalho tornam ainda mais necessário o entendimento de que o seu ateliê são as ruas. É nelas que o muralista se sente à vontade e entende a importância de quem é hoje para a arte. Atualmente, Kobra é um dos artistas que consegue levar mais longe a representação da arte de rua e mostrar esse movimento como uma voz política e democrática.

Entendemos, assim, que Kobra é hoje o resultado de suas experiências como artista e como indivíduo. Tudo o que ele testemunhou e viveu resultou na pessoa que fala de si mesma no documentário de Lina Chamie.

Divulgação: Imovision

O artista deixa claro que prefere se mostrar através dos diversos murais que pinta pelo mundo, é a sua maneira de se mostrar ao mundo, mas o espectador pode captar a sensibilidade que ele carrega, junto do seu movimento de “baixar a guarda” para se mostrar um pouco.

Produzido pela Girafa Filmes e distribuído pela Imovision, Kobra – Auto Retrato foi exibido no 13º Festival de Documentários de Nova York, Festival do Rio e da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Estreia nos cinemas dia 17 de novembro.