Se Guy Ritchie dirigisse um episódio de Dora, a Aventureira, mas com orçamento de superprodução e atores do Oscar, o resultado talvez se parecesse com A Fonte da Juventude, aventura pulp estrelada por John Krasinski e Natalie Portman que acaba de estrear no streaming. A ideia, à primeira vista, soa irresistível: misturar ação, comédia e caça ao tesouro em plena era do streaming, com um elenco carismático e uma trama que envolve arte, mistério e a promessa de vida eterna. O problema é que o filme, embora divertido em alguns momentos, parece mais preocupado em fazer pose do que em contar uma história envolvente. O charme está todo ali, mas o coração e a originalidade ficaram no fundo da fonte.
A trama começa em 2020, quando o excêntrico bilionário Owen Carver (Domhnall Gleeson) descobre que tem poucos meses de vida e resolve investir sua fortuna na busca da lendária Fonte da Juventude. Para isso, contrata o descreditado arqueólogo Luke Purdue (Krasinski) e sua irmã Charlotte (Portman), uma restauradora de arte obcecada por pistas escondidas em obras renascentistas. A dupla parte numa corrida contra o tempo que envolve códigos secretos, inimigos misteriosos e locações que vão de igrejas em Florença a desertos no Egito, passando por todos os clichês geográficos e narrativos do gênero.
É inegável que o diretor Guy Ritchie sabe criar ritmo. Logo nos primeiros quinze minutos somos apresentados a personagens, conflitos, reviravoltas e até uma sequência de ação estilizada com cortes rápidos, trilha pulsante e aquela montagem “explicativa” que virou sua assinatura desde Snatch e Sherlock Holmes. Mas a energia inicial não se sustenta. O filme se atropela em sua própria estrutura, tentando ser muitas coisas ao mesmo tempo — sátira, homenagem, blockbuster — e acaba não acertando o tom de nenhuma delas. A ação é capenga, o mistério é óbvio e o humor, por vezes, beira o constrangedor.
John Krasinski parece interpretar uma versão mais desencantada de seu personagem em The Office, trocando o tédio corporativo por ruínas antigas e frases de efeito. Seu Luke tem carisma, mas carece de profundidade dramática. Já Natalie Portman tenta injetar dignidade ao papel de Charlotte, uma mulher inteligente e emocionalmente abalada, mas o roteiro não lhe dá muito com o que trabalhar além de diálogos expositivos e reações previsíveis. Domhnall Gleeson, normalmente um ator magnético, é desperdiçado num papel caricato de milionário que parece saído de um comercial de criptomoedas.
Visualmente, o filme é competente — a fotografia de Ellen Kuras (de Eternal Sunshine of the Spotless Mind) valoriza as paisagens exóticas e os ambientes históricos. Mas nem mesmo as imagens bonitas salvam o longa de parecer genérico. Há momentos em que você poderia jurar estar vendo uma paródia de O Código Da Vinci com orçamento da Disney. A trilha sonora, composta por Daniel Pemberton, tenta compensar a falta de tensão com batidas eletrônicas dramáticas e violinos épicos, mas soa mais como trilha de trailer estendido do que de uma narrativa que se sustenta.
O maior problema de A Fonte da Juventude talvez seja sua superficialidade. O filme levanta questões interessantes — sobre obsessão com a imortalidade, manipulação da fé e os limites da ciência — mas prefere deixá-las em segundo plano, como decoração de cenário. Tudo é resolvido com pressa e pouca emoção. Quando finalmente chegamos à tal fonte, o momento deveria carregar peso simbólico e catártico, mas o que sentimos é apenas um leve tédio com gosto de déjà vu.
No fim, A Fonte da Juventude não é um desastre, mas tampouco é memorável. Funciona como passatempo para um domingo preguiçoso, especialmente se você já viu tudo da franquia Indiana Jones, sente saudade de um bom National Treasure e não se importa com um roteiro que parece escrito por um algoritmo alimentado por palavras-chave como “aventura”, “mistério”, “arte renascentista” e “cara com chapéu”. É o tipo de filme que bebe da fonte certa, mas esquece de trazer a alma junto.

