Ah, M. Night Shyamalan, o mestre do suspense e dos finais de virar o estômago (e às vezes os olhos), volta aos holofotes com Armadilha, uma produção que prova que nem todo truque velho faz mágica. Para quem ainda guarda a esperança de reviver os dias de glória de O Sexto Sentido ou Corpo Fechado, aqui vai uma verdade difícil de engolir: Armadilha faz você querer se prender na sua própria armadilha para escapar da decepção.
A premissa que soa promissora, mas se desmancha em clichês: Josh Hartnett, em uma performance que realmente merece destaque, interpreta Cooper, um pai dedicado que leva sua filha Riley (Ariel Donoghue) para um show pop. Parece o início de um filme de drama familiar, mas logo Shyamalan joga todas as cartas na mesa e revela que Cooper é “O Açougueiro”, um serial killer infame. E adivinhe? As autoridades montaram esse show para prendê-lo em flagrante. Se a ideia parece absurda, é porque é. Com milhares de pessoas em um local lotado, a estratégia soa menos como uma operação policial e mais como um plano de Scooby-Doo.
Suspense, cadê você? O filme até tenta emular o clima de tensão dos velhos tempos de Shyamalan, mas a execução tropeça em uma série de coincidências risíveis e uma trama que faz a lógica querer pular pela janela. Enquanto Cooper perambula pelos bastidores tentando escapar, ele encontra um vendedor de souvenirs (Jonathan Langdon, excelente em um papel subaproveitado) que, convenientemente, sussurra detalhes da armadilha policial. E quando tudo parece um beco sem saída, Shyamalan, que adora um cameo, aparece como um produtor que magicamente oferece a solução perfeita para o vilão: colocar Riley no palco e, de quebra, abrir o caminho da fuga.
O elenco salva um pouco o naufrágio: Hartnett, em uma performance que mistura carisma sombrio e psicopatia, é o único que parece estar em um filme digno de nota. Seu Cooper é incrivelmente crível, uma mistura de pai amoroso e assassino cruel que funciona, mesmo que o roteiro não ajude. Já Ariel Donoghue cumpre bem o papel de filha inocente, mas fica limitada pelo roteiro que não permite que sua personagem se desenvolva além de ser o “motivo” do pai.
Polícia ineficiente e absurdos sem fim: A personagem da chefe de polícia, interpretada por Hayley Mills, é uma das mais frustrantes. Apesar do talento e da presença de uma atriz querida, ela é relegada a um papel que beira o cômico em termos de incompetência. A sensação é de que, em vez de policiais, temos figurantes de um episódio malfeito de reality show tentando capturar um gato escorregadio.
O que faltou? Coerência e um twist que fizesse jus à reputação de Shyamalan. O filme entrega tudo muito cedo e deixa pouco espaço para surpresas genuínas. Até os momentos que poderiam ter um peso dramático, como o contraste entre o show pop e a caçada ao assassino, são tratados de forma apressada e sem impacto.
Conclusão: Armadilha é uma promessa quebrada, mais um exemplo de como Shyamalan parece estar esgotando seu repertório de truques. Com um enredo que desafia a lógica e risadas involuntárias que minam o suspense, a obra faz você repensar por que ainda dá chance ao diretor. Josh Hartnett carrega o filme como um verdadeiro Atlas, mas até os ombros mais fortes não podem suportar um roteiro furado. No fim, a verdadeira armadilha é a expectativa.

