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Review Duplicidade: Tyler Perry ataca novamente com suas novelas “tensas”

Tyler Perry é aquele vizinho que te promete um churrasco de primeira, mas aparece com salsicha fervida e refrigerante genérico. Em Duplicidade, seu novo drama na Prime Video, ele tenta fritar um bife narrativo com temas como brutalidade policial, corrupção, luto, jornalismo, amizade, traições e uma pitada de CSI do Paraguai. O resultado? Um caldeirão de intenções boas que explode na cara da gente sem aviso prévio.

A sinopse até promete: Marley (Kat Graham), uma advogada de sucesso, e Fela (Meagan Tandy), uma jornalista de renome, têm suas vidas viradas do avesso quando Rodney, irmão de uma e namorado da outra, é morto por um policial durante uma “confusão” (leia-se: mais um caso genérico de brutalidade policial em bairro chique). O tiro foi dado, o corpo caiu, e começa o circo. A imprensa especula, a cidade protesta (só que não vemos isso na tela), e o filme mergulha num thriller político que tenta fazer Sidney Lumet e Shonda Rhimes chorarem juntos no cantinho.

Mas o que poderia ser um drama incisivo se perde numa salada de cenas expositivas, atuações que variam entre o esforçado e o teatral de novela das seis, e uma direção que parece usar filtro de Instagram errado em todas as cenas. A paleta de cores azuladas dá um tom frio ao filme, mas também deixa todo mundo com cara de quem não dorme desde 2016. A intenção pode ter sido estilosa, mas o resultado é mais “TV de tubo com contraste estourado” do que “thriller visualmente marcante”.

No meio desse turbilhão de intenções, temos também o investigador Tony (Tyler Lepley), que é namorado de Marley, ex-policial e atual conveniência de roteiro. Ele está lá pra conectar os pontos, ser fofo, e te lembrar que em filmes assim, se o casal é bom demais pra ser verdade… você já sabe onde isso vai dar.

As reviravoltas vão surgindo com o ritmo de quem esqueceu de colocar o feijão de molho: do nada. Quando tudo parece caminhar para um desfecho, Perry joga três novos personagens, dois passados obscuros e um “AH-HA!” de vilão de desenho animado no meio da tela. A tentativa de complexidade vira novela da Record com tiroteio na garagem do prédio.

Kat Graham entrega um esforço sincero, mas é como se estivesse num tribunal onde o juiz é o roteirista e as regras mudam a cada cena. Meagan Tandy, como Fela, tenta trazer emoção, mas o roteiro insiste em deixá-la como comentarista do próprio drama. E sim, o policial branco Caleb é o único que recebe um arco narrativo com complexidade. Claro. Não seria um filme de Tyler Perry se o foco não desviasse dramaticamente pra um personagem que você não esperava.

O problema não está apenas no que o filme tenta abordar (afinal, os temas são importantes), mas no fato de que ele só os usa como decoração de palco para um show de reviravoltas que acham que estão reinventando o suspense, mas mal passam do “episódio de quinta do plantão policial”.

No fim das contas, Duplicidade é um exemplo de como até mesmo a tentativa de ser relevante pode se tornar uma distração. Ele quer ser um filme de protesto, mas se comporta como um comercial de sabão em pó: tudo é branco, limpo, e com pouca sujeira emocional real. Uma pena. Com um roteiro mais enxuto, uma direção menos confusa e, quem sabe, uma equipe de roteiristas (Tyler, amor, dê férias pro seu ego e contrate um writer’s room!), esse filme poderia ser muito mais.

Duplicidade não é totalmente ruim. Ele apenas não é bom o suficiente pra justificar os 117 minutos que você vai passar tentando entender quem traiu quem, por quê está todo mundo sempre de terno e por que o azul é tão predominante. Se você assistir, vai sair com uma pergunta na cabeça: o título é Duplicidade ou Confusão mesmo?

Se quiser saber como Duplicidade acaba, leia esse especial de final explicado.