Imagine se “Beau Tem Medo” trocasse o surrealismo por conspiração de WhatsApp, Trumpismo e crise de meia-idade. Agora adicione Emma Stone surtada, Pedro Pascal como político “gente boa” e Joaquin Phoenix parecendo um meme ambulante com problemas respiratórios. Pronto: você tem Eddington, o novo filme de Ari Aster, que basicamente é “Doomscrolling: O Filme”.
Ambientado no pântano psicológico de 2020, o longa acompanha Joe Cross (Phoenix), um xerife do Novo México tão anti-máscara quanto pró-conspiração. Joe decide se lançar à prefeitura quando percebe que gritar nas redes não basta mais. Como todo bom homem branco em crise, ele acha que salvar o condado (e sua masculinidade) vai consertar tudo — inclusive seu casamento com Louise (Emma Stone), que está ocupada caindo nas graças de um coach apocalíptico interpretado por Austin Butler numa performance que beira o meme religioso.
Surrealismo político com gosto de cloroquina
Aster pega o caos do mundo real, tritura no liquidificador, joga pólvora e filma tudo como um faroeste moderno. Joe é nosso cowboy deprimido, enfrentando protestos Black Lives Matter, colapsos mentais, fake news impressas pela sogra (a sensacional Deirdre O’Connell), o espectro do aborto adolescente e uma cidade que parece saída de um episódio de “South Park” dirigido por Lars von Trier.
A trama é tão abarrotada de temas que parece um feed do Twitter em 3x de velocidade: uma hora você está rindo de uma briga de supermercado por máscara, e na outra está assistindo uma sequência de tiroteio noturno que parece ter sido coreografada pelo espírito de Sam Peckinpah.
Phoenix brilha como o herói mais patético da história recente
Phoenix entrega uma performance tragicômica que oscila entre o patético e o brilhante. Seu Joe é um cara que se afoga em teoria conspiratória e se apega a memes como se fossem boias emocionais. Aster entende que, em 2020, a loucura virou linguagem oficial — e Phoenix domina esse dialeto como poucos.
Emma Stone, por sua vez, transforma a esposa instável num furacão tragicômico. Sua jornada de esoterismo de coach até o colapso absoluto é desconfortável e hilária na medida certa — ou seja, na medida Ari Aster.
Humor ácido, sátira sem filtro e zero esperança
A maior provocação de Aster não está nos temas que ele aborda (COVID, racismo, big techs, crise de fé, apatia millennial), mas no fato de que ele não oferece saída. Eddington não aponta culpados nem resolve seus conflitos. O filme parece dizer: “Sim, o mundo pirou — agora assista essa bagunça por duas horas e meia.” E você assiste. Hipnotizado. Enjoado. Fascinado.
Conclusão: um faroeste para tempos de feed infinito
Eddington é o tipo de filme que vai dividir opiniões, acender debates, ser acusado de tudo e elogiado por nada. Mas em tempos em que o cinema hesita, Aster surta — e isso, honestamente, é bem mais interessante.
Prepare-se para rir, se irritar, bocejar e aplaudir, tudo no mesmo frame. Ari Aster entregou um filme-monstro, e mesmo que ele não diga nada, ele diz tudo. E isso, em 2025, já é muito.
Veredito final:
Um “Taxi Driver” pandêmico com máscara de cowboy e alma de shitpost. Divertido, exaustivo, necessário — e totalmente insano.

