Review It’s Never Over, Jeff Buckley: O documentário mais essencial de 2025

poster its never over jeff buckleyFALAR DOS NOSSOS ARTISTAS FAVORITOS É SEMPRE UMA TAREFA COMPLEXA. Na maioria das vezes, pelo menos no meu caso, deixo o profissionalismo de lado para ser totalmente parcial — especialmente quando o material faz jus ao homenageado, como é o caso do maravilhoso documentário It’s Never Over, Jeff Buckley, de Amy Berg. 

O que não falta no cinema são cinebiografias ou documentários. Enquanto algumas são ridículas e com um reconhecimento constrangedor (estou olhando para você, Bohemian Rhapsody), outras surpreendem pela capacidade de fugir do óbvio (Rocketman, de Dexter Fletcher, ainda é a minha produção favorita sobre artistas). Quando pensamos em documentários, é fácil lembrar de Searching for Sugar Man, Mystify, Amy ou Cobain: Montage of Heck. E agora temos essa coisa linda feita para homenagear o legado de um anjo. 

(Eu avisei)

Retratar a vida/carreira de Buckley já foi desejo de vários nomes em Hollywood. James Franco e Brad Pitt tentaram levar seus projetos adiante, sem sucesso. No começo dos anos 2010, Reeve Carney estava escalado para interpretar o músico, mas o longa que realmente foi produzido e lançado tem Penn Badgley como protagonista. O resultado, Greetings From Tim Buckley, é um tanto descartável, ainda que curioso. 

O documentário de Berg é uma escolha mais acertada do que uma cinebiografia. Combinando fotos pessoais de quem conviveu com Buckley, depoimentos e registros históricos (apesar da notável ausência do músico Gary Lucas, co-autor de algumas das canções de Grace), o filme é avassalador na exposição da vulnerabilidade do artista. Não é exatamente um mérito a ser destacado, afinal esse é o elo em comum da maioria das adaptações de artistas no cinema. Mas é honesto. 

Com uma atenção especial para as mulheres que fizeram parte da vida do artista (duas namoradas e a mãe), a narrativa trata de colocar o relacionamento complicado com o pai como maior força e fraqueza de Buckley. Ao mesmo tempo em que busca mostrar o seu valor longe da sombra do pai, ele também sente o peso de lidar com a própria sensibilidade e visão do mundo. Berg conduz os conflitos do cantor com suavidade, escancarando a dor sem cair na tentação de explorar demais os dramas familiares.

Ao contrário de Bohemian Rhapsody, que usa as canções do Queen como muleta para disfarçar sua qualidade inexistente, o documentário de Amy Berg usa as músicas de Buckley como elemento de transição para cada momento da sua breve trajetória. Tem espaço para cada uma das suas principais canções, inclusive para falar das suas referências musicais, como Smiths e Led Zeppelin. 

Its Never Over, Jeff Buckley é essencial para iniciados na obra do compositor, mas também serve como um irresistível primeiro contato para quem nunca tinha ouvido falar do seu trabalho. Sinto um pouco de inveja dessas pessoas. Imagina só descobrir Jeff Buckley e ouvir as notas de “Mojo Pin” ou “Grace” pela primeira vez. É como se você tivesse seu primeiro orgasmo depois de descobrir que fazia sexo errado a vida inteira.

Recomendo o filme (e os orgasmos, claro).