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Review Motorista de Fuga: Mira em Baby Driver, derrapa, mas sobrevive

Samara Weaving já sobreviveu a casamentos sangrentos (Ready or Not), babysitters demoníacas e sequências de terror cafonas. Agora ela pisa fundo no acelerador de Motorista de Fuga, thriller cômico da Hulu/Disney+ que tenta ser um Tarantino com Wi-Fi fraco e Edgar Wright sem áudio. E olha, até entrega uma corrida com adrenalina, mas esquece de abastecer o roteiro com personalidade e alma.

A história gira em torno de Edie, apelidada de Eenie Meanie (Weaving), uma ex-motorista de fugas que largou o volante do crime para tentar uma vida mais civilizada. Mas como todo clichê grita mais alto que o bom senso, lá vem o ex-namorado babaca (Karl Glusman) colocando tudo a perder. Descobrimos que ele é o equivalente afetivo ao 11 de setembro: uma tragédia com replay emocional. E claro, Edie, grávida e ainda com algum afeto que desafia qualquer lógica, volta para salvá-lo, enfiando-se numa trama que inclui heist de cassino, mafioso cafona (Andy Garcia com sotaque de clichê) e um bando de figurantes que parecem ter saído de um sketch do Saturday Night Live sobre filmes de ação.

Shawn Simmons, criador de séries esquecíveis como Wayne e The Continental, estreia na direção com um roteiro que parece ter sido montado com recortes de ideias rejeitadas por Deadpool e Baby Driver. O filme tem cara de projeto de streaming feito com 50 milhões de dólares e zero planejamento emocional. Cada personagem fala como se tivesse acabado de sair de uma oficina de roteiristas tentando soar descolado. Mas só soa falso. E cansado.

Se você está se perguntando se pelo menos tem boas perseguições, a resposta é: sim, eventualmente. Simmons até sabe coreografar carros em movimento, o que já é mais do que se pode dizer sobre metade dos filmes de ação recentes. Mas o caminho até lá é tão previsível que você vai achar que está vendo uma repetição com dublagem ruim.

O elenco está lá, cumprindo tabela. Weaving tenta segurar a bronca, mas seu sotaque do Meio-Oeste é mais instável que o sinal do Globoplay. Randall Park, Steve Zahn, Marshawn Lynch e Jermaine Fowler aparecem rápido, soltam uma piadinha aqui e ali, e somem como se tivessem sido apagados do arquivo em pós-produção. Zahn, aliás, é o único que parece ter lido o roteiro inteiro antes de filmar, trazendo um toque de humanidade como o pai canalha de Edie.

Temos também aquela velha tentativa de romantizar relações fracassadas com redenção através de crimes. Uma mistura de “vamos fazer um último roubo antes do bebê nascer” com “ninguém aqui sabe usar camisinha emocional”. O casal protagonista não tem química nem quando estão em risco de vida. E se você torce para que fujam juntos no final, talvez seja apenas porque isso significa o fim do filme.

A trilha sonora tenta ser Tarantino, mas é mais “playlist genérica de filme de assalto” do Spotify. As reviravoltas que poderiam ser ousadas acabam sem direção e, quando o filme tenta emplacar um momento sentimental nos minutos finais, parece aquele amigo que fez piada o tempo todo e agora quer chorar no churrasco.

Motorista de Fuga é o tipo de filme que você assiste comendo salgadinho, esquece em duas horas e talvez confunda com outros três parecidos na sua lista do streaming. Samara Weaving merecia um papel que respeitasse sua capacidade de misturar carisma e caos. Aqui, ela só ganha um volante sem GPS.

Em resumo: acelera, derrapa, capota emocionalmente e ainda quer que você ache divertido. Mas se você curte um Fast & Furious com crise existencial, talvez valha a carona.