Se você gosta de thrillers policiais com reviravoltas a cada cinco minutos e roteiros com mais buracos do que queijo suíço vencido, parabéns: Na Teia da Aranha foi feito pra você. Agora, se você espera que um filme com Morgan Freeman use a inteligência do personagem principal de forma coerente… talvez seja melhor rever Seven e fingir que esse aqui nunca aconteceu.
Morgan Freeman volta ao papel de Dr. Alex Cross, o detetive/psicólogo/autor de best-sellers e aparentemente também gamer (spoiler: ele zera um desafio de Google com um clique). O filme começa com uma sequência de ação absurda: uma policial com câmera escondida e sinal de TV ao vivo dentro de um carro em movimento, tudo sendo assistido por Cross de um helicóptero (!). O vilão foge, a policial morre, e o orçamento do contribuinte americano é estourado em cinco minutos de filme.
A partir daí, Cross entra em luto – e na fase “modelismo de barcos” do personagem depressivo™ – até que uma nova ameaça o tira da aposentadoria-relâmpago. Uma estudante de elite é sequestrada. Mas calma, não basta sequestrar. O vilão precisa mandar charadas, pistas e desafios, porque aparentemente todos os psicopatas de Washington D.C. fizeram curso de gamificação.
A trama ganha o reforço de Jezzie Flannigan (Monica Potter), agente do serviço secreto com nome de personagem que parece ter saído de um fanfic do Harry Potter. Juntos, eles tentam desvendar o sequestro enquanto o espectador tenta desvendar… o roteiro.
High-tech versão 2001
Os alunos da escola de elite têm computadores nas mesas. A aula? Quem acha a página de Charles Lindbergh primeiro no Google. Isso mesmo. O sequestrador planta um site fake com transmissão ao vivo em resolução 4K do esconderijo. O tipo de coisa que exige 1) conhecimento técnico avançado ou 2) roteirista em surto criativo. Apostamos na opção 2.
Cross, o mago dos furos
Morgan Freeman tem carisma suficiente pra te convencer que tudo faz sentido. Mas não faz. O cara aponta que alguém sabia de um resgate de 12 milhões quando o valor era 10 milhões — e isso seria uma grande revelação… se essa pessoa tivesse qualquer motivo para saber do resgate em primeiro lugar. Achar lógica aqui é tipo jogar Campo Minado bêbado: você vai clicar num buraco e explodir a paciência.
Reviravolta da reviravolta da reviravolta
O filme tenta te enganar o tempo todo com surpresas que seriam geniais se não fossem… preguiçosas. A cada nova virada, você começa a rir não porque é engraçado, mas porque não dá mais pra levar a sério. “Claro, agora a sequestradora é quem?”, “O plano dela era esse desde o início?”, “Mas e o cara que fingiu ser o vilão?”, “E o barquinho de madeira, vai servir pra algo?”. Respostas? Nenhuma.
Freeman: o Oscar moral
Sinceramente, Morgan Freeman deveria ter um Oscar só por sobreviver a esse roteiro. Ele fala frases como “Ele está atrás de outra pessoa” com tanta convicção que quase esquecemos que o roteiro está mais perdido que a criança sequestrada.
️ Ambientação nota 10
Se tem algo bom aqui, é o clima sombrio. Lee Tamahori cria uma atmosfera úmida, sombria, com aquela vibe de floresta molhada que te faz sentir o cheiro de mofo através da tela. Pena que o roteiro também parece ter mofado antes de chegar na versão final.
Veredito final:
Na Teia da Aranha é como montar um quebra-cabeça com peças de caixas diferentes. Tem suspense, tem reviravolta, tem Morgan Freeman sendo excelente… e tem um roteiro que parece escrito por um algoritmo bêbado. Vale assistir se você curte rir de plot twists que desafiam até a gravidade — ou se quiser ver como não adaptar um livro de suspense.

