Antes de dirigir A Entidade e brincar com super-heróis na Marvel, Scott Derrickson assinou em 2005 um dos filmes mais curiosos do terror moderno: O Exorcismo de Emily Rose. Longe de ser apenas mais uma história de possessão com padres gritando em latim e cruzes tremendo na parede, o longa é um híbrido improvável — parte drama de tribunal, parte horror sobrenatural.
A narrativa bebe de um caso real: a alemã Anneliese Michel, cuja morte dividiu opiniões entre a psiquiatria e a Igreja. O roteiro transplanta a história para os Estados Unidos, transformando a jovem Emily em uma estudante que começa a sofrer alucinações, ataques violentos e episódios noturnos sempre às três da manhã. É aí que entra a figura do padre (Tom Wilkinson), acusado de homicídio após conduzir o ritual de exorcismo que termina com a morte da garota. O julgamento conduzido pela advogada Erin Bruner (Laura Linney) é a espinha dorsal do filme, que nunca responde definitivamente se Emily foi vítima de epilepsia e esquizofrenia ou de forças malignas.
O que impressiona é a ousadia da mistura. De um lado, temos as sequências de terror puro, com Jennifer Carpenter se contorcendo em performances físicas que impressionam até hoje (quem viu a atriz também em Dexter sabe que aqui ela se entregou por inteiro). Do outro, temos longos debates jurídicos sobre liberdade religiosa, responsabilidade médica e culpa moral. É como se O Advogado do Diabo tivesse feito intercâmbio em um convento abandonado.
Um detalhe saboroso é a explicação do filme para a famigerada “hora do demônio”: 3h da manhã seria a resposta satânica às 15h, horário da morte de Cristo segundo a tradição católica. Essa obsessão pelo relógio rende algumas das cenas mais incômodas do longa, quando a advogada começa a acordar de madrugada, tomada pela dúvida entre ceticismo e crença.
Claro, há quem ache que o filme peca por não entregar sustos em quantidade industrial. Derrickson prefere a ambiguidade à pirotecnia, o que frustrou parte do público acostumado a jump scares. Mas justamente por isso o filme envelheceu bem: o que está em jogo não é só se Emily estava possuída, mas o que significa acreditar — e até onde a fé pode ser aceita como justificativa perante a lei.
No fim das contas, O Exorcismo de Emily Rose não é “indispensável” no panteão do terror, mas é mais do que apenas um passatempo de sustos. É um thriller que nos faz encarar a tênue fronteira entre medicina e religião, razão e medo, e nos lembra que às vezes o verdadeiro horror não está na menina arqueada sobre a cama, mas na incapacidade humana de lidar com aquilo que não entendemos.
FAQ – O Exorcismo de Emily Rose
É baseado em uma história real?
Sim. O caso se inspira em Anneliese Michel, jovem alemã cuja morte nos anos 1970 gerou debate entre Igreja e ciência.
O filme é mais terror ou drama?
É uma mistura. Tem cenas de possessão assustadoras, mas boa parte do tempo está no tribunal discutindo fé e responsabilidade.
Jennifer Carpenter está bem no papel?
Mais que bem: sua entrega física e vocal dá credibilidade às cenas mais impactantes.
Por que 3h da manhã é tão importante?
O filme explica que é a “hora do demônio”, em oposição às 15h, ligadas à crucificação de Cristo.
Vale a pena rever hoje?
Sim. O ritmo é mais contido do que blockbusters de terror, mas a reflexão sobre fé e ciência continua atual.
É comparável a O Advogado do Diabo?
Sim, no sentido de usar a estrutura jurídica para discutir temas metafísicos, ainda que com estilos bem diferentes.

