Imagine se White Lotus passasse por uma transfusão de sangue feita com LSD, esperma e um dedo de Dostoiévski. Bem-vindo a Piscina Infinita, o filme que pergunta: se você pudesse assistir ao seu próprio assassinato e depois sair pra jantar com quem te matou, você iria?
Dirigido por Brandon Cronenberg (filho de David, mas claramente saído de uma incubadora que mistura Buñuel com Gaspar Noé), o filme é uma mistura brutal de sadismo, humor negro, orgias mascaradas e crise existencial de resort. Não é fácil, não é fofo e não vai te deixar dormir em paz.
O protagonista é James (Alexander Skarsgård), um escritor com bloqueio criativo e ego inflado, que resolve buscar inspiração num paraíso de ricos cafonas. Ele é casado com Em (Cleopatra Coleman), herdeira de conglomerado midiático, e a viagem do casal é logo desviada pela presença de Gabi (Mia Goth, numa atuação entre o sátiro e o satânico). A partir do momento que ela sussurra “adoro seu livro”, sabemos que a merda vai bater no ventilador.
Depois de um jantar regado a linguiças fritas, mijo e esperma (literalmente), James atropela um camponês. E é aqui que o turismo de elite mostra sua verdadeira cara: você pode pagar por um clone pra morrer no seu lugar. Sim, se você for rico o bastante, pode assistir sua execução sem sujar as mãos. E a cada nova transgressão, um novo clone. Um novo ritual. Uma nova chance de se perder de si mesmo.
O filme mergulha num delírio sem volta, em que a identidade é líquida, os limites morais evaporam e a dor se transforma em entretenimento. O visual é onírico, repleto de câmeras giratórias, luzes estroboscópicas e alucinações carnais que fazem orgias parecidas com performances do Cirque du Soleil numa rave demoníaca.
O roteiro não está interessado em coerência narrativa tradicional, mas sim em provocar, chocar e colocar o espectador num estado de hipnose moral. E nisso, Brandon Cronenberg acerta em cheio. O questionamento de identidade à la O Grande Truque se mistura com zombarias ao privilégio da elite globalizada.
Mas o show é todo dela: Mia Goth. Se você ainda não entendeu por que ela é a nova rainha do horror autoral, Piscina Infinita resolve isso. Ela é sedutora, insana, hilária e monstruosa. Quando ela grita “JAMES, YOU’RE A BABY”, você sente a alma sair do corpo de vergonha alheia e prazer estético ao mesmo tempo.
Sim, tem escândalos. Sim, tem clones pelados. Sim, tem tortura com dublê de existencialismo. E sim, tem um Alexander Skarsgård coleira e quatro patas, latindo no chão feito um golden retriever traumatizado por Hegel.
No fim, Piscina Infinita é menos sobre clonagem e mais sobre o vazio absoluto que surge quando você tem dinheiro ilimitado e nenhum limite interno. Uma viagem de horror que vai fundo na lama da alma humana e volta com um sorriso deformado no rosto.
Cronenberg Jr. talvez ainda não tenha feito sua obra-prima, mas essa piscina infinita já está transbordando de personalidade.

