CRITICA SUPERMAN 2025

Review Superman: A maior surpresa da temporada de filmes de 2025

O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de Superman possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.

 

poster supermanOS IDIOTAS VÃO REPETIR O DISCURSO. Podem nem mesmo entender o motivo, mas seguirão suas agendas. O otimismo de acreditar na interpretação alheia só existe em algumas rodas de conversa entre amigos. Eu acredito na ignorância, pura e simples, e libertadora. Os idiotas vão replicar o que outros já dizem. Vão dizer que o Superman (James Gunn, 2025) tem política demais, história de menos. Devem falar que é um filme para lacrar. Devem falar que é woke. Bem. Eles vão precisar se esforçar muito para tentar enterrar essa releitura da Warner. 

A trama é bem simples. Superman (David Corenswet) precisa lidar com as tentativas de Lex Luthor (Nicholas Hoult) provar que o kriptoniano é uma ameaça. O Super tem o apoio de super-amigos, além da sua eterna parceira Lois Lane (Rachel Brosnahan) e do supercão Krypto, para salvar o dia. 

O novo Superman poupa seus espectadores de mais uma história de origem. Ele começa com um letreiro resumindo a existência do herói e preparando todo o contexto necessário para a audiência curtir a aventura. Essa decisão pode parecer uma quebra do lugar comum das adaptações/remakes, mas a ousadia de Gunn tropeça. 

Existem problemas que abalam a estrutura do primeiro ato com excesso de diálogos expositivos. É como se o roteiro voltasse atrás na sua coragem. Felizmente, só acontece naqueles minutos iniciais, onde tudo é novidade, e algum produtor certamente encheu o saco insistindo que nós, espectadores, somos dementes. Não fosse a qualidade da obra, subestimar a inteligência da audiência poderia ter significado a ruína do herói. 

São justamente os corajosos méritos narrativos que podem despertar a ira dos idiotas, passar despercebido para a maioria das pessoas e cativar a minoria mais atenta. São pelo menos quatro elementos polêmicos escondidos no meio da ação e do combate contra o vilão. A mais óbvia é a insinuação de retratar o genocídio palestino com o confronto histórico de duas nações fictícias. Triste dizer que vai cativar apenas a minoria, mas não penso diferente. Quem perceber pode dizer que “nada a ver” ou postar nas redes sociais que sentiu saudades do Superman que fazia a Terra girar ao contrário. “Aquele era o Superman de verdade.” 

O segundo ponto está na encarnação perfeita de Luthor. Hoult é, sem exageros, a segunda melhor coisa de Superman (Krypto é a primeira, oras). Em uma época em que assistimos boquetes imaginários nos bilionários, ter um personagem assim é um dever patriótico de qualquer norte-americano com as funções cerebrais saudáveis. Pode parecer um absurdo e um convite para (mais um) cancelamento da minha carteirinha de crítico de cinema, mas Hoult supera o esforço de Gene Hackman ao atualizar a ameaça. É um autêntico homenzinho hétero, branco, rico, machista e carente por atenção. É o Luthor que precisamos. 

O terceiro elemento polêmico diz respeito ao próprio Superman e a reflexão da xenofobia. Como pode um imigrante espacial ser tão adorado? Continuar atraente mesmo com uma cueca vermelha em cima da calça? Gunn trabalha esse sentimento de desconforto nos coadjuvantes com muita qualidade. Dentro do que uma adaptação de quadrinhos se propõe, é até profundo demais. No mesmo nível que Pantera Negra já havia conseguido. E aqui, preciso ser honesto e dizer que adoro me divertir com os absurdos do parque de diversão da Marvel/DC. Porém, preciso de mais que apenas ver personagens lutando para salvar o mundo. A falta de profundidade me incomoda. 

Esse terceiro elemento tem conexão direta com a minha crítica favorita do roteiro de James Gunn. O cineasta mostra exatamente o que pensa da cultura do cancelamento. Muitos vão enxergar apenas o lado conveniente de dizer que é uma vingança pessoal de Gunn, que anos atrás foi demitido da Marvel por meses depois de idiotas ressuscitarem tuítes antigos e uma história já resolvida. Mas ser conveniente é fácil. Ao retratar os “canceladores” como macacos raivosos, o recado é cristalino. E eu gostei muito da audácia de deixar uma mensagem assim. Provavelmente, o próprio diretor não superestima a capacidade humana e sabe que vamos sempre enxergar apenas o que queremos ver. 

Não sou o maior fã do Superman. Muito pelo contrário. Sempre achei o personagem um poço de tédio. Mas a história aqui é humana de uma forma inesperada. Gunn aproveita o que seus antecessores fizeram de melhor (minha amiga Jô observou o paralelo do Superman de 1978 salvando gatos na árvore com o esquilo salvo em uma batalha na releitura) para dar ao mundo uma visão muito leve, divertida e provocadora na dose certa. É um belo começo para um velho conhecido. Do caralho.