Thunderbolts é o tipo de filme que entra de fininho no universo Marvel, mas deixa uma bagunça emocional digna de terapia em grupo. Esqueça tudo o que você esperava de uma reunião de heróis fracassados – ou melhor, não esqueça, apenas aceite que aqui o caos é organizado com a cara da depressão vestida de spandex. E isso é um elogio.
A direção ousa sair da fórmula cafona do multiverso para explorar um buraco negro mais real: o emocional. Em vez de salvar o mundo com um raio azul do céu, o grupo dos “quase heróis” precisa salvar a si mesmo. Florence Pugh, com sua Yelena cada vez mais carismática, assume o protagonismo emocional. David Harbour, como Guardião Vermelho, entrega uma montanha-russa de autodepreciação e humor cínico. Wyatt Russell como Capitão América genérico (ou Capitão Paraguaio, como carinhosamente apelidado) parece saído de um meme mal-humorado com trauma de abandono.
A Marvel sempre teve dificuldade em lidar com profundidade. A maior parte de seus filmes é iceberg de 10 centímetros: tudo está na superfície. Thunderbolts inverte isso. Fala sobre depressão, ansiedade, arrependimento e como o herói da história, muitas vezes, é apenas um vilão que cansou de sofrer. Tem ação? Claro. Tem porradaria, explosão, CGI brilhando mais que maquiagem de carnaval? Tem. Mas tudo isso é pano de fundo para um drama mais sujo, mais humano, mais honesto.
E aqui está o ponto que fez metade da internet surtar: Thunderbolts é um filme sobre depressão. Sim, aquele sentimento que boa parte da audiência finge que não existe. Tem gente dizendo que isso estraga a diversão. Essas pessoas provavelmente acham que Inside Out é um filme comunista porque tem uma criança triste. Mas, voltando ao ponto: quando foi a última vez que você viu um blockbuster falar, mesmo que superficialmente, sobre a dor de viver?
Sim, tem momentos desequilibrados. Sim, a trama por vezes é previsível e alguns personagens são mais figurativos que o bigodão do Mario. Mas não importa. Thunderbolts tem algo que a Marvel perdeu faz tempo: intenção. Ele sabe o que quer dizer, e diz. Mesmo que seja sussurrando enquanto segura o escudo trincado da moralidade.
Os “nerdolas” estão em pânico porque o filme traz uma mensagem que não é sobre destruir universos ou salvar cidades: é sobre salvar a própria sanidade. O vilão não é um robô gigante ou um ser interdimensional, mas o vazio interno de quem perdeu a esperança. O terceiro ato, longe de ser um clímax explosivo, é quase um sussurro de redenção. E isso é revolucionário para um estúdio que acha que emocionar é colocar o Homem de Ferro tocando AC/DC.
No fim das contas, Thunderbolts é o Esquadrão Suicida da Marvel – só que com menos piada escatológica e mais vulnerabilidade. Um filme que entende que o herói mais interessante é aquele que não quer ser herói. Que sabe que estar quebrado é parte do caminho, e que coragem é, às vezes, apenas levantar da cama. Se você esperava só explosão, vai sair frustrado. Mas se você já se sentiu um lixo e procurou sentido no caos… bem-vindo ao clube.

