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Review Vice Is Broke: a ascensão, a queda e o epitáfio de uma revista que acreditou ser maior que a própria contracultura

A frase que abre o documentário já dá o tom: “Coolness não é um recurso renovável.” E talvez aí esteja o coração de Vice Is Broke, dirigido por Eddie Huang — ex-estrela da própria Viceland, figura que sabe como poucos o gosto amargo de ter sido usado e cuspido pela máquina que ajudou a girar. O filme é menos necrológio de uma revista e mais um autoexame da contracultura que vendeu a alma pro mercado.

Nos anos 2000, a Vice era bíblia de uma geração com sede de cinismo. Sexo, drogas, música, matérias gonzo que misturavam jornalismo e putaria barata: tudo embalado com estética de “foda-se o mundo”. Para muitos millennials, ler a Vice era se sentir insider no underground sem sair do sofá. O documentário resgata essa energia inicial — divertida, suja, debochada. Mas logo mostra como essa chama foi engolida quando o mercado percebeu que dava pra transformar “atitude” em valuation de 6 bilhões de dólares.

De revista punk a unicórnio midiático

O filme alterna entrevistas com ex-funcionários, imagens de bastidores e a lembrança agridoce de quem viveu a fase “sexo, drogas e crowdfunding”. A Vice expandiu para TV, virou produtora de documentários premiados, conseguiu contratos milionários com gigantes de tecnologia e, por um breve instante, parecia ser o futuro do jornalismo. Parecia.

Huang não poupa ironia: enquanto a empresa posava de antiestablishment, por dentro replicava a velha lógica corporativa — salários atrasados, exploração de mão de obra criativa e, claro, executivos sonhando com a aposentadoria em iates. O que começou como rebeldia terminou como powerpoint em reunião de investidores.

O declínio anunciado

O documentário acerta quando mostra como a Vice perdeu o contato com a própria audiência. O que era provocação virou caricatura; o que era contestação virou conteúdo patrocinado com cara de reportagem. Quando o jogo exigiu credibilidade jornalística, já era tarde. A marca estava marcada pelo excesso de ego e pela incapacidade de se reinventar. O fim veio em 2023, com a falência oficial — um anticlímax melancólico para quem um dia gritou que nunca iria se vender.

Eddie Huang como guia

O carisma do diretor é o motor do filme. Ele não é neutro, não finge ser. Faz questão de lembrar que também levou calote da empresa, que também acreditou no sonho e acabou na ressaca. Seu estilo irreverente, quase stand-up, equilibra a nostalgia com a crítica dura. Há humor, mas também rancor. E, no meio disso, a pergunta incômoda: a Vice foi vítima do capitalismo ou cúmplice dele?

Veredito

Vice Is Broke não é apenas sobre uma revista; é sobre a contradição eterna de transformar contracultura em negócio. É divertido, sarcástico e às vezes ressentido, como convém ao tema. Para quem viveu a época da Vice, é um choque de realidade. Para quem não viveu, é um aviso: todo “rebelde” que aceita investimento de bilionário já começou a escrever seu epitáfio.


FAQ – Vice Is Broke (2025)

O documentário explica a falência da Vice?
Sim, conecta a trajetória da revista às decisões financeiras ruins, à desconexão com o público e ao modelo de negócio insustentável.

Precisa conhecer a Vice para aproveitar o filme?
Não. O doc funciona tanto como história de bastidores quanto como retrato do capitalismo mastigando e cuspindo cultura alternativa.

Qual o tom do documentário?
Irônico, rápido e pessoal — Eddie Huang narra como quem viveu a festa e ficou para varrer o chão depois.

É só nostalgia?
Não. Há espaço para deboche, mas também para análise crítica de como o “cool” virou commodity.

Vale a pena assistir?
Vale, especialmente se você já curtiu Vice, MTV ou qualquer projeto que jurava ser underground até descobrir o CNPJ.