O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A review de Wicked: Parte 2 possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
NO COMEÇO DO ANO DE 2025 FIZ MINHA TRADICIONAL REPESCAGEM/MARATONA COM OS INDICADOS AO OSCAR. Embora tenha ignorado o musical Wicked (Jon M. Chu, 2024) nos cinemas, não pensei duas vezes antes de descobrir se de fato era mesmo uma das melhores opções de entretenimento da temporada. Me surpreendi. Coloquei ele no top 3 de melhores filmes do Oscar (perdendo para Reformatório Nickel e Ainda Estou Aqui) e alimentei expectativa e entusiasmo para a continuação.
Wicked combina duas atuações inspiradas com uma química digna das melhores duplas da história do cinema. O time técnico criou um espetáculo visual irresistível: direção de arte, maquiagem, figurino, tudo de alto nível. Ainda posso elogiar as canções originais e o trabalho de direção, capaz de equilibrar as necessidades de uma adaptação com as do cinema. Tudo funciona bem.
Dito isso… que tijolada no saco foi essa que tive que assistir em Wicked: Parte 2?
Nem mesmo a bebida servida na pré-estreia ou a pipoca ajudaram a aliviar a frustração de conferir uma narrativa totalmente desprovida de propósito. Parece um típico caso de “deixa a gente aproveitar o sucesso e repetir tudo igual”. E aqui, a internet e o comportamento do usuário comum me obrigam a explicar a ironia. Eu sei que existe um musical e ele tem duas partes.
Wicked: Parte 2 é perdido. Não parece saber seu rumo. A narrativa é cheia de idas e vindas que enrolam demais antes de decidir seu caminho. Inclusive, quando isso acontece, parece que ela se recusa a aceitar o fim — e cria um sentimento anti-clímax, com um final atrás de um final. Não chega a ser ruim, mas é chato de doer.
Ao invés de amadurecer seus personagens, a sequência é feita de reações. Elphaba (Cynthia Erivo) está o tempo inteiro reagindo e isso enfraquece seu protagonismo. São vários momentos em que ela reage e poucos para acompanharmos as profundas consequências de seus atos e decisões. Glinda (Ariana Grande) também sofre com o roteiro acelerado, que parece preferir sequências épicas e visuais ao esforço de trabalhar mais suas personagens principais. Mas precisamos ser justos e elogiar o momento mais engraçado da continuação: a sequência em que as bruxas saem na mão é divertida e faz rir — mas também parece ser uma estratégia rasa de comunicar de um jeito que o público entende, como se fosse uma briga durante um reality, como RuPaul’s Drag Race. Rasteiro ou não, pelo menos me fez rir.
Curioso dizer que a referência direta a O Mágico de Oz pode tanto funcionar quanto ser parte dos agravantes da narrativa. A introdução do Homem de Lata é até boa, mas a sensação é de terem enfiado o material de qualquer forma. Parece desleixado. Não existe a necessidade de aprofundar e explicar o que acontece, mas o sentimento maior é de ter perdido uma informação ou outra na medida em que o quarteto liderado por Dorothy avança na narrativa.
Triste que o musical sequer têm canções emocionantes, como no primeiro. Somando aos problemas já mencionados, me pergunto qual a necessidade do filme existir. Mesmo os defensores argumentam que o 2o ato do original é mais fraco mesmo e não tinha como ser diferente na telona. Porra. Agora os fãs defendem obras ruins dizendo que o material original é fraco? Isso não faz o menor sentido. A gente entra na sala para viajar na maionese e ser feliz dentro do universo da trama. Se conformar com a mediocridade é o cúmulo do absurdo. Wicked: Parte 2 não é ruim, repito, mas envergonha a sua primeira parte.

