a mulher no jardim

Review A Mulher no Jardim: é terror contemplativo… tipo ficar vendo grama crescer com cara de assombração

Existe um tipo de terror que chega de mansinho, bate na sua porta, entra sem sapato e te convida pra um chá… de tédio. The Woman in the Yard, dirigido por Jaume Collet-Serra (A Órfã, Águas Rasas, O Passageiro), é exatamente esse tipo de filme. Um suspense que começa promissor como uma lenda urbana contada ao redor da fogueira, mas que se arrasta como se tivesse torcido o tornozelo nos primeiros cinco minutos e decidido: “Quer saber? Vou só sentar aqui mesmo”.

Danielle Deadwyler (incrível em Till e sempre uma presença magnética) interpreta Ramona, uma mulher em luto profundo, quebrada por dentro e por fora — literalmente com a perna engessada e emocionalmente desmoronada. Presa com dois filhos em uma casa rural isolada onde até o café parece deprimido, ela passa os dias entre olhares vazios e tentativas fracassadas de manter a rotina, enquanto o fantasma do marido morto (e do bom roteiro) assombra cada cômodo.

Até que surge ela: a mulher do título. Um vulto encapuzado, enfiado num vestido preto volumoso, sentada estoicamente numa cadeira de ferro fundido no meio do quintal — como se fosse a versão espectral de alguém esperando o Uber atrasado desde 1863. A entidade, interpretada com presença imponente por Okwui Okpokwasili, até tem uma vibe Grace Jones pós-morte, mas sua função narrativa parece ser principalmente a de enfeite com cara de quem sabe de algum segredo sombrio que nunca chega.

Sim, a imagem da “mulher no quintal” tem força. Tem algo ali. É como se um quadro de Andrew Wyeth tivesse sido possuído por uma avó ressentida. Mas depois de uma hora encarando a tal figura imóvel (ou andando dois passos por dia como num jogo de Grandma’s Footsteps), a gente começa a desejar que alguém, qualquer um, tropece, grite, faça uma invocação acidental pelo Alexa — qualquer coisa que injete alguma tensão.

O roteiro de Sam Stefanak tenta flertar com metáforas — luto, culpa, maternidade sufocante, os traumas que herdamos sem saber — mas em vez de costurar tudo isso em algo potente, entrega um retalho confuso de ideias que se desmancham antes do clímax. Há sugestões de múltiplas camadas psicológicas à la Black Mirror ou Us, mas elas ficam só no rascunho. E quando o filme resolve finalmente colocar “atividade paranormal” de verdade na tela, é como se alguém no set tivesse gritado: “Gente, lembra que isso era um terror? Joga uns objetos voando aí!”

Visualmente, The Woman in the Yard é um prato cheio. A fotografia de Pawel Pogorzelski é linda até quando nada acontece (o que, convenhamos, é quase o tempo todo). A casa é opressora, os enquadramentos sugerem ameaça constante… pena que a ameaça nunca chega de verdade. O longa se sustenta por um tempo na sugestão e no incômodo, mas quando tenta explicar tudo no terceiro ato, escorrega feio — como quem acende todas as luzes durante a sessão de espiritismo e descobre que o fantasma era só um manequim com mofo.

Deadwyler faz o que pode, entregando uma performance cheia de nuances para um roteiro que parece mais interessado em manter tudo em câmera lenta. Os filhos são funcionais, os sustos são raros (e quando aparecem, vêm com a sutileza de um gato miando na chuva) e a tensão… bem, ela passa ali pela frente, dá meia-volta e vai procurar outro filme.

No fim das contas, The Woman in the Yard parece uma tentativa de fazer terror “elevado” que esquece de ser… terror. Tem atmosfera, tem metáfora, tem uma mulher parada no quintal olhando com cara de quem vai te contar um segredo sombrio — mas não tem pulso narrativo, nem energia pra sustentar o suspense. É o tipo de filme que, quando termina, você não está exatamente assustado — só meio entediado e pensando: “Será que ela ainda tá sentada lá fora?”