desobedientes review

Review Desobedientes: trilha de arrepiar, roteiro de escorregar

Bem-vindo a Tall Pines, a cidade que parece ter sido comprada em um leilão da Hallmark e repaginada por Jordan Peele numa terça-feira ruim. Desobedientes (ou Wayward, para quem já tá treinando pro TOEFL) começa como uma das promessas mais instigantes do ano: cultos disfarçados de escolas para adolescentes problemáticos, uma matriarca que anda de triciclo e mais segredos por metro quadrado do que qualquer episódio de Riverdale pós-temporada 3.

Mas aí o tempo passa. O roteiro derrapa. E a gente percebe que prometer uma revolução estética no streaming é fácil. Difícil é entregar sem cair no melodrama de quem claramente assistiu Nine Perfect Strangers e pensou: “vamos fazer igual, só que com menos grana e mais alucinação com sapo.”

Mae Martin entrega um Alex Dempsey cheio de camadas, embora às vezes pareça que está em outra série – talvez uma com menos hipnose mal-explicada e personagens que não desaparecem do nada. A presença de Sarah Gadon como Laura é magnética, mas sua personagem oscila tanto entre cúmplice e vítima que o roteiro parece um jogo de tabuleiro feito com as sobras de The OA.

E Toni Collette… ah, Toni Collette. A deusa do terror psicológico, aqui reduzida a uma vilã que pilota um triciclo como se estivesse na pré-escola do inferno. Evelyn Wade tinha tudo para ser uma vilã memorável, mas acaba sendo uma mistura de Tia do Zap com frases prontas de autoajuda e zero carisma demoníaco. Quando você percebe que ela é a versão sombria da “tia da yoga que lê O Segredo”, o medo dá lugar ao tédio.

Os primeiros episódios são envolventes. Há suspense, há tensão, há um mistério palpável. A fotografia carrega aquele clima úmido e sufocante de cidade pequena com segredos demais e terapia de menos. Só que, do meio pro fim, a série entra num modo automático de LSD narrativo, com cenas que parecem saídas de um workshop de roteiro experimental no Reddit.

Os adolescentes são o grande trunfo: Sydney Topliffe (Abbie) e Alyvia Alyn Lind (Leila) estão incríveis, com química e intensidade dignas de série própria. Mas até elas sofrem com diálogos dignos de legenda motivacional de influencer: “Você precisa se libertar”, “A dor é o caminho”, “Abre a porta da alma”. Gata, abre o Google Docs e revisa esse texto, por favor.

E o final? Ah, o final… A Netflix precisa parar com essa mania de entregar clímax como se fosse sobremesa vegana: tem cara boa, mas não satisfaz ninguém. A última cena tenta ser provocativa, mas só entrega confusão e uma sensação de “ok, assisti tudo isso pra… isso?”. A série quer deixar você com dúvidas existenciais, mas só consegue te fazer questionar se não era melhor ter visto Cults: Explained no YouTube.


Veredito:

Desobedientes é como aquele crush que te promete revolução, mas no segundo encontro já tá te mostrando a tatuagem com frase do Bukowski. A série tem atuações boas, estética interessante e temas urgentes, mas tropeça feio ao tentar dizer algo profundo com roteiro raso. Um mix de Sharp Objects com Euphoria e final de Lost, só que sem coesão nem catarse.