filme Dark Horse Bolsonaro

Dark Horse: Jesus do QAnon vira Jair Bolsonaro em cinebiografia

Dark Horse: Bolsonaro vai assistir a sua cinebiografia via Pay per view na Papuda?

Sim, aquilo que parecia piada de grupo de WhatsApp virou filme de verdade: Dark Horse, cinebiografia “épico-heroica” sobre Jair Bolsonaro, está em produção e tem estreia prevista para 2026. A ideia é revisitar a campanha de 2018 com foco na facada em Juiz de Fora e vender tudo embalado em jornada do herói, conspiradores sombrios e muito “estão tentando me calar”.

O pacote vem completo:

  • Título provisório: Dark Horse (O Azarão, em tradução livre)

  • Tema: bastidores da campanha de 2018 + atentado + hospital + “forças ocultas”

  • Estreia: prevista para 2026, estrategicamente perto das eleições dos EUA (e bem no meio da nossa ressaca política eterna).

Se você achou que já tinha visto todo tipo de filme político bizarro nos últimos anos, respira fundo. Ainda tem espaço pra mais.


Quem é quem no circo: Caviezel, Nowrasteh & Frias

Começando pelo trio paradoxo que comanda o show:

  • Jim Caviezel – vai interpretar Bolsonaro. Sim, o mesmo ator de A Paixão de Cristo, famoso por viver Jesus e, depois, por abraçar teorias conspiratórias sobre “elite global” e repercutir narrativas ligadas ao QAnon.

  • Cyrus Nowrasteh – diretor norte-americano, especialista em filme político-religioso: O Apedrejamento de Soraya M., O Jovem Messias, Infidel. O homem vive de misturar geopolítica, fé e mártir em slow motion.

  • Mário Frias – deputado federal, ex-secretário de Cultura e roteirista do longa. Ele vende o projeto como a chance de mostrar “a verdade” sobre 2018, o que, traduzindo do marquetez, significa: filme pensado pra agradar quem já gosta de Bolsonaro.

Ou seja: o combo perfeito pra transformar o ex-presidente em protagonista de thriller messiânico. Se faltava alguém pra fazer o “universo cinematográfico do mito”, aparentemente não falta mais.


O que Dark Horse vai contar (e recontar)

A narrativa segue a cartilha da jornada do herói, segundo as matérias oficiais. O fio condutor é a facada em Juiz de Fora, mas o roteiro se estica bem além disso:

  • Campanha de 2018 mostrada como batalha épica contra “sistema” e “conspiradores”;

  • Internação, recuperação, bastidores de hospital – tudo no tom de “homem escolhido que sobrevive contra todas as probabilidades”;

  • O agressor Adélio Bispo vira Aurélio Barba no filme, porque nem todo mundo tem a coragem da ficção barata de usar o nome real e assumir as implicações;

  • Devem aparecer ainda supostas outras tentativas de ataque durante a recuperação, reforçando o clima de perseguição total;

  • Flashbacks dos anos 80, com Bolsonaro militar em operações contra o tráfico, pra cimentar a imagem de “soldado incorruptível enfrentando o crime”.

Em resumo: menos cinebiografia complexa, mais fanfic épico-revisionista com selo “baseado em relatos do próprio protagonista e de sua bolha digital”.


Família Bolsonaro ganha spin-off dentro do filme

Claro que o clã não ia ficar de fora do casting. Pelo contrário, ganha quase um spin-off interno:

  • Flávio Bolsonaro – vivido por Marcus Ornellas, brasileiro naturalizado mexicano e queridinho de novelas latinas;

  • Carlos Bolsonaro – interpretado por Sérgio Barreto, conhecido por produções da Brasil Paralelo (o que já diz muita coisa sobre o tom ideológico do pacote);

  • Eduardo Bolsonaro – na pele de Eddie Finlay, ator norte-americano com participações em Velozes e Furiosos e Bad Boys II;

  • Michelle e Laura Bolsonaro – confirmadas na trama, mas sem atrizes divulgadas ainda, alimentando aquela especulação de rede social que vive de “quem deveria interpretar quem”.

É praticamente o “Bolsonaro Cinematic Universe – Fase 1”: versão idealizada, família unida, muita lágrima, muito sacrifício e zero problema estrutural ou contradição real.


Contexto quente: filme político em época de sentença e eleição

O timing não é exatamente inocente:

  • O filme chega num momento em que Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe, organização criminosa armada e outros crimes ligados à trama golpista.

  • A estreia é planejada para perto das eleições de 2026, apostando num mercado internacional curioso com o “personagem Bolsonaro” e, de quebra, agradando plateias conservadoras no Brasil e nos EUA.

Na prática, Dark Horse nasce com cara de:

  • filme político,

  • com forte viés ideológico,

  • mirando um público claramente definido.

Se você achou 1964: O Brasil entre Armas e Livros pesado no revisionismo, se prepara: agora é gringo dirigindo narrativa épica sobre o “azarão” que, supostamente, enfrentou tudo e todos em nome do povo.


Isso presta como cinema ou é só santinho em 24 fps?

Pergunta honesta, resposta amarga: ninguém sabe ainda, mas os sinais não são de sutileza.

Pontos a favor do filme funcionar minimamente como cinema:

  • Nowrasteh sabe dirigir suspense político-religioso, já fez coisa intensa (Soraya M., Infidel);

  • Caviezel, quando não está discursando em palco de comício conspiratório, é um ator competente;

  • A história da facada, em si, tem material dramático pra render um thriller tenso.

Pontos contra:

  • roteiro nas mãos de aliado político direto do retratado;

  • narrativa claramente pensada para transformar um personagem real em arquétipo messiânico;

  • zero indicação de que haverá nuance, ambiguidade ou contraponto sério. Tudo cheira mais a hagiografia cinematográfica do que a cinebiografia.


Quem vai assistir Dark Horse?

Basicamente, três públicos:

  1. Quem já ama Bolsonaro

    • Vai ao cinema pra ver o mito salvando o mundo em Dolby Atmos,

    • vai sair repetindo fala do filme no X como se fosse slogan de campanha.

  2. Quem odeia Bolsonaro, mas ama passar raiva

    • Vai encarar como experiência antropológica,

    • montar drinking game cada vez que alguém falar “povo”, “sistema” ou “elite global”.

  3. Cinéfilo masoquista

    • Vai pra ver como o cinema político internacional está lidando com o “personagem Bolsonaro”,

    • e pra comparar com documentários críticos recentes que vão exatamente na direção oposta.

No fim, Dark Horse já nasce como filme-evento, não por mérito artístico, mas pelo barulho inevitável em volta. Vai dividir sala de cinema, mesa de bar e grupo de família como se fosse eleição em widescreen.

Se vai ser bom? Pouco provável.
Se vai ser esquecível? Nem pensar.

Com esse elenco, esse diretor e esse roteiro, o mínimo garantido é uma coisa:
polêmica em looping, memes infinitos e um 2018 reencenado pra ninguém finalmente superar 2018 nunca mais.