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Mikey Madison revela sua paixão pelo lado sombrio de Jack Nicholson

 

Se você achava que a nova geração de atrizes só se inspira em frases do Pinterest e posts motivacionais do Instagram, Mikey Madison chegou para provar que, sim, ainda há esperança para o cinema. E ela fez isso da forma mais deliciosa possível: exaltando Jack Nicholson em Five Easy Pieces, aquele clássico setentista em que o galã da sobrancelha inquieta troca o piano de cauda por um macacão de graxa e uma vida dignamente miserável. Gente como a gente.

A revelação veio durante a passagem de Madison pelo Criterion Closet, o equivalente cinéfilo à Disneylândia — só que ao invés de rato, tem Kubrick, Bergman e, claro, Nicholson em modo “homem em crise existencial com fome de panqueca e ódio do mundo”. Segundo Mikey: “É meu desempenho favorito do Jack. Ele é moralmente cinza, mas você torce por ele mesmo assim”. Awwn. Mal sabe ela que o Jack também torceria por ela. Com um cigarro na boca, um olhar torto e uma garrafa de bourbon na mão.


Entre o Oscar e o óleo de motor

Pra quem dormiu nos últimos meses: Mikey Madison ganhou o Oscar de Melhor Atriz aos 25 aninhos (isso mesmo, você com 30 ainda pagando boleto e ela levando estatueta), graças à sua atuação em Anora, de Sean Baker. No filme, ela interpreta uma trabalhadora do sexo que se casa com o filho de um oligarca russo – tipo a Anastasia de 50 Tons, só que com roteiro de verdade. O personagem, como ela mesma diz, é cheio de falhas, ambiguidades e decisões impulsivas. Ou seja, bem mais gente como a gente do que Hollywood costuma mostrar.

E não para por aí. Mikey já tinha mostrado a que veio desde Better Things, fez um papel nada básico em Once Upon a Time in Hollywood (lembra da menina da seita do Manson? Então…), e ainda sobreviveu ao caos de Scream, onde poderia ou não ser a assassina mascarada mais glamourosa dos últimos tempos.


Jack: o santo padroeiro da ambiguidade

A escolha por Five Easy Pieces não é só um gesto fofo de fã. É uma declaração de princípios. O filme de Bob Rafelson, lançado em 1970, é a epítome do “homem branco hétero em crise existencial” que, surpreendentemente, ainda não deu vontade de cancelar. Jack Nicholson é Bobby Dupea, um ex-prodígio do piano que larga tudo pra viver numa plataforma de petróleo, explodir em discussões familiares e, claro, gritar com garçonetes porque elas não entendem o conceito de “pão torrado fora do cardápio”.

O longa rendeu ao nosso anti-herói favorito uma indicação ao Oscar, e também marcou época por fazer o mundo inteiro dizer: “gente, talvez a vida adulta não seja assim tão incrível”. A atuação de Karen Black também foi premiada com uma indicação a Melhor Atriz Coadjuvante, e o filme ainda concorria a Melhor Filme e Melhor Roteiro Original — mas perdeu feio pra Patton, aquele épico militar onde o protagonista grita mais que o Jack, só que com menos charme.


O gosto de Mikey? Impecável

A admiração de Madison por personagens “no limbo moral” é quase terapêutica de se ouvir. Em tempos de redes sociais binárias, onde ou você é um anjo da ONU ou o vilão do mês no Twitter, Mikey prefere mergulhar no caos da complexidade humana. E nada representa melhor isso do que Five Easy Pieces. É cinema com cheiro de óleo diesel, diálogos com gosto de arrependimento e atuações que te fazem lembrar que a vida não tem trilha sonora de comédia romântica.