Tom Cruise já correu por prédios, segurou aviões no braço e sobreviveu a explosões com o carisma de quem nem suou. Mas em 2022, ele fez o que ninguém esperava: virou o “salvador do cinema”. Pelo menos foi isso que Steven Spielberg, visivelmente emocionado e talvez um pouco exagerado, declarou ao encontrar Cruise no Oscar daquele ano: “Você salvou o rabo de Hollywood.”
E olha… naquela época, a frase até fazia sentido.
Top Gun: Maverick, com sua testosterona vintage, seu patriotismo embaladaço e suas acrobacias aéreas de dar nó em piloto automático, arrecadou mais de 1.4 bilhão de dólares e conquistou seis indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. Mas será que isso bastou para, de fato, ressuscitar a sétima arte? Ou foi só um sopro quente num cadáver bem maquiado?
2025: O cinema ainda está na UTI (com visita supervisionada)
Três anos se passaram desde que Maverick decolou nas bilheterias. Hoje, em pleno 2025, o cinema ainda cambaleia feito figurante de filme catástrofe. A frequência nas salas continua menor do que a fila do caixa preferencial num feriado, e os números de bilheteria andam mais tímidos que reboot de série cancelada.
De lá pra cá, só Avatar: The Way of Water, Barbie e algum ou outro dinossauro digital conseguiram se aproximar do sucesso de Maverick. E nem o próprio Tom Cruise conseguiu repetir o feito com Missão: Impossível – Dead Reckoning Parte 1, que arrecadou menos do que o orçamento de marketing de um comercial de margarina.
O verdadeiro vilão continua sendo o sofá
Hoje, o maior rival das salas de cinema não é o streaming, mas sim a ansiedade. Filmes lançados em 2025 têm, em média, o mesmo tempo de janela entre cinema e digital que um miojo leva pra ficar pronto. Algumas produções nem terminam de estrear e já estão disponíveis para alugar no sofá — com legenda, dublagem e opção de assistir em velocidade 1.25x pra caber no horário do almoço.
A fórmula é simples: o público aprendeu que, se esperar duas semanas, dá pra ver o mesmo filme em casa, sem gastar o valor de uma entrada no IMAX (que hoje custa o equivalente a um rim parcelado).
Então… Tom Cruise salvou o cinema?
A resposta curta: não.
A resposta longa: nããããooo.
Cruise, com todo o seu charme lunático e insistência em arriscar a própria vida por entretenimento, deu um baita empurrão. Top Gun: Maverick foi um fenômeno. Um espetáculo. Um evento raro que fez até o mais cético dos cinéfilos se arrumar pra sair de casa.
Mas isso não salvou a indústria. Só deu uma respirada profunda antes do próximo soluço.
O problema continua sendo estrutural. Os estúdios seguem apostando em franquias já esgotadas, enquanto desprezam obras originais. A janela entre cinema e streaming continua curta. E a sensação de “urgência” em ver um filme na telona desapareceu — junto com os espectadores que preferem ver tudo em casa, em 4K, com pausa pro banheiro e sem gente chutando o encosto da poltrona.
Epílogo com trilha dramática:
Se o cinema fosse um paciente, Maverick teria sido aquele remédio que funciona por um tempo, mas que não cura o problema. Em 2025, seguimos no looping do “será que vale o ingresso?” enquanto os estúdios ainda tentam entender que salvar o cinema vai exigir mais do que Tom Cruise pulando de penhascos.
Vai exigir coragem criativa, estratégias inteligentes de distribuição e — veja só! — respeito ao público.
Até lá, seguimos entre reprises e esperanças. E torcendo pra próxima “salvação” não vir só de um piloto com crise de meia-idade e jaqueta de couro.

