Aos 81 anos, David Cronenberg continua desafiando limites e expandindo sua filmografia perturbadora com The Shrouds. Diferente de seus clássicos grotescos como A Mosca e Videodrome, este novo thriller traz um horror mais existencial, embalado em uma narrativa noir-tecnológica que promete causar tanto desconforto quanto reflexão.
Quando luto e tecnologia colidem
Escrito após a morte de sua esposa, o filme mergulha em uma trama sombria onde um empresário da tecnologia, Karsh (Vincent Cassel), cria um software que permite aos enlutados testemunhar, em tempo real, a decomposição de seus entes queridos. Porque, claro, em um futuro distópico, a privacidade nem dos mortos é respeitada.
Enquanto lida com a dor da perda de sua esposa (Diane Kruger), Karsh se envolve em um relacionamento inusitado (e um tanto perturbador) com a irmã dela, também interpretada por Kruger. Mas a situação se complica ainda mais quando uma onda de vandalismo começa a atingir os túmulos conectados à sua tecnologia, levando-o a descobrir uma conspiração sinistra.
Cronenberg, tecnologia e paranoia
Se você achava que já tinha visto de tudo vindo de Cronenberg, The Shrouds traz um novo nível de estranheza, combinando elementos de distopia futurista, luto profundo e a obsessão humana com o digital. O filme se passa em um mundo dominado por carros autônomos, roubo de dados e assistentes de IA, mas a maior ameaça continua sendo a fragilidade humana diante da perda.
O elenco ainda conta com Guy Pearce, Sandrine Holt, Elizabeth Saunders, Jennifer Dale e Eric Weinthal, garantindo um time de peso para essa jornada desconcertante. O próprio Cronenberg assina o roteiro e a direção, enquanto a produção fica a cargo de Saïd Ben Saïd, Martin Katz e Anthony Vaccarello.
Festivais, estreia e o que esperar
The Shrouds teve sua estreia mundial no Festival de Cannes e passou por importantes festivais como TIFF, NYFF e AFI Fest, deixando a crítica dividida entre o fascínio e o desconforto. Com uma premissa tão absurda quanto genial, o filme promete mexer com os nervos do público quando estrear em cinemas selecionados de Nova York e Los Angeles no dia 18 de abril.
Se há algo certo no universo de Cronenberg, é que o horror nunca é apenas visual. The Shrouds não quer apenas te assustar, mas te fazer questionar até onde a tecnologia pode transformar a forma como lidamos com a morte. E, quem sabe, fazer você pensar duas vezes antes de assinar um contrato de privacidade digital para sua lápide.