Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros

SEI QUE É COVARDIA COMPARAR UMA OBRA LITERÁRIA COM SUA ADAPTAÇÃO PARA O CINEMA, ainda mais quando o filme em questão é tão aquém da premissa do livro. As discrepâncias gritantes no roteiro, curiosamente escrito por Seth Grahame-Smith, autor do livro, indicam que a produção foi pensada apenas para atingir o público comum e que simplesmente está mais interessado em pagar pelo ingresso e ficar ocupado dando amassos selvagens no fundo da sala. Quem sofre com isso são os fãs do livro, que tinha tudo para gerar um filme incrível, mas acabou virando uma grande decepção.

A ideia do livro surgiu quando Grahame-Smith estava em turnê de divulgação de Orgulho e Preconceito e Zumbis. Ele passou por uma cidade e na livraria em que estava dando autógrafos, viu um banner com uma biografia do Presidente Abraham Lincoln e do lado um outro banner com os livros da Saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer. O escritor teve um insight e imaginou como seria um mashup de vampiros na época da Guerra Civil norte-americana, e é isso que pode ser conferido no livro, que foi publicado no Brasil pela editora Intrínseca.

Infelizmente tudo que havia de melhor no livro foi ignorado pelo roteiro e destruído pela direção de Timur Bekmambetov, de O Procurado. Confuso, com um abuso irresponsável do 3D (se torna um sofrimento conferir o filme na versão tradicional, mas imagino que seja uma experiência ainda mais dolorosa em 3D, afinal o ingresso é mais caro, né?) em cenas babacas e desnecessárias, o filme desrespeita a cronologia histórica da trajetória de Abraham Lincoln e muda detalhes pertinentes da obra original. Tudo em prol de facilitar a compreensão e de buscar a maneira mais simples e explicativa de mastigar a história para o público, mas sinceramente, vamos combinar que não há nada de complicado em decifrar a trama de um homem que passa a ser treinado para se tornar no maior caçador de vampiros de todos os tempos. Morda-se de inveja, Van Helsing: além de matar vampiros, Lincoln também virou Presidente dos Estados Unidos.

Com efeitos especiais forçados e que são claramente feitos em computador, é quase risível a sequência da perseguição de cavalos na primeira metade do filme. Os animais são arremessados como se fossem travesseiros, e independente da força de um vampiro, até mesmo em Crepúsculo isso é mais aceitável. A sensação de que você está dentro de um jogo de vídeo game arruina o fato de que sua concentração deveria estar dentro da história, vivendo aqueles momentos com os personagens, por mais chatos que eles sejam. Em outro momento os vampiros passam a ser tratados como bonecos em slow motion, numa clara (e inferior) alusão aos dois capítulos finais da trilogia Matrix, onde os efeitos já eram ruins, mas aceitáveis para a época.

Previsível até falar chega, a direção de Bekmambetov causa irritação ao gritar para o público o que irá acontecer em seguida. Um exemplo disso é na sequência do trem. São três closes completamente desnecessários nos pés de Will Johnson (Anthony Mackie) até que uma mão surge para atacar-lo. Se a intenção era surpreender o público, meu camarada, você fracassou miseravelmente. Outro defeito é que em momento algum somos convencidos de que aquela história se passa no passado, mesmo com todos os cuidados para recriar as mansões e portos da época. A maneira de Bekmambetov filmar, e até mesmo pelas atuações do elenco e desenvolvimento das cenas de ação, soam modernas demais. Aliás, as performances dos atores é outra coisa lamentável. Em momento algum somos convencidos pelo elenco, mesmo na performance de Dominic Cooper, que interpreta o misterioso Henry. Benjamin Walker protagoniza o filme, mas suas expressões não transmitem a confiança necessária para um Presidente com um fardo tão importante. Felizmente temos Mary Elizabeth Winstead (The Thing – O Enigma de Outro Mundo) para tornar tudo mais agradável. E  bonito.

Os créditos finais, não me sinto culpado em admitir que foram responsáveis pelo meu momento favorito, mesmo com a trilha sonora do Linkin Park merecem um destaque especial. Os nomes de todos os responsáveis pelo filme surgem no meio de muito sangue, de uma maneira mais criativa e original que tudo que foi visto em cena durante o filme.

No final das contas, Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros é uma tentativa fracassada de Bekmambetov tentar falsificar a assinatura visual de Zack Snyder (300) com elementos de Matrix, dos irmãos Wachowski. Entre escolher o livro ou o filme, não tenha dúvidas: o romance é muito mais bem resolvido e  ao contrário do filme, consegue fazer o mínimo esperado por produções pipoca, que é saber divertir o público com uma história bem contada.

Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros - Poster

Nota:[duas]