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Review Alien: Romulus: Prova que o verdadeiro monstro é o capitalismo (e o Xenomorfo também)

poster alien romulusFede Álvarez fez o impossível: reviveu Alien sem precisar ressuscitar Ripley ou dar palestra filosófica com androids. Alien: Romulus é a mistura perfeita entre o terror claustrofóbico do primeiro filme e a pancadaria alienígena do segundo, com direito a fan service, facehuggers em modo aquático e um capitalismo interestelar que parece ter sido roteirizado pelo Karl Marx depois de assistir Prometheus de ressaca.

A história é simples — e ainda bem. Jovens mineradores desiludidos descobrem uma estação espacial abandonada e decidem invadir para roubar cápsulas criogênicas. Quem nunca, né? O problema é que ninguém avisou pra eles que a Weyland-Yutani, aquela corporação fofa de sempre, já tinha transformado o local em um Airbnb para xenomorfos. Resultado? Uma orgia de sangue, pânico e decisões ruins.

Rain (Cailee Spaeny, fazendo cosplay de Ripley versão Gen Z) é a protagonista que não chora, não grita e resolve tudo com o mesmo olhar blasé de quem pegou o último turno da mineração. Ao seu lado, Andy (David Jonsson), um sintético que prova que robôs podem ter mais carisma do que 90% dos humanos em filmes recentes. A relação dos dois é o coração da trama, com direito a dilemas morais, reprogramações sentimentais e um arco dramático que poderia muito bem ter saído de um episódio de Black Mirror.

Álvarez e seu parceiro de sempre, Rodo Sayagues, decidiram que era hora de parar de inventar moda e voltar ao que funciona: corredor escuro, radar pitando, criatura babando. E funciona. As cenas são tensas, bem coreografadas e o design de produção faz jus à estética industrial e suja da franquia. Nada de nave polida com luz de LED azul. Aqui, o terror é enferrujado, abafado e imprevisível.

Há momentos de puro deleite para fãs da saga. Referências a Alien 3, Aliens: O Resgate, Alien: Isolation e até ao roteiro não filmado de William Gibson aparecem com gosto. Tem um fan service meio brega ali? Tem. Um CGI digno de PS2 no final? Também. Mas dá pra perdoar, porque o resto é bom demais pra gente fingir que isso estraga tudo.

O roteiro ainda acerta ao tocar na ferida capitalista da franquia. Os personagens são explorados, descartáveis, e o filme não faz cerimônia em deixar claro que o verdadeiro monstro é o sistema. O alien é só o bicho que executa o layoff.

Alien: Romulus não reinventa a roda, mas a coloca pra rodar com graxa, sangue e adrenalina. Um blockbuster inteligente, sujo, violento e — o mais importante — que respeita a essência do que tornou o original de 1979 um clássico eterno.

Se você queria filosofia, vá rever Prometheus. Se queria trauma, claustrofobia e aliens explodindo peitos, bem-vindo de volta ao pesadelo.

Veredicto

Alien: Romulus junta tudo o que a franquia de Alien já teve de melhor em sua história – em filmes e games – para apresentar o horror no espaço para uma nova geração, além de garantir um espetáculo para os fãs de longa data e, claro, inovar na narrativa e também nos cenários e adversidades apresentadas nos seis filmes anteriores. Como uma verdadeira continuação do longa de 1979, Romulus aumenta o escopo e os desafios, mas sem nunca deixar o padrão de excelência e o grande vilão do original: o capitalismo.

E por falar nele, é quase terapêutico ver o sistema corporativo sendo retratado como ele é: uma máquina de moer gente. Weyland-Yutani não é só uma empresa gananciosa — é praticamente o RH do inferno com plano de saúde cancelado. A empresa vende promessas como quem vende NFT em 2021: sem garantias, sem ética e com um baita marketing.

O xenomorfo volta ainda mais assustador, mas não mais que o chefe que acha que pagar em “visibilidade” é justo. E a metáfora da juventude da Geração Z sendo esmagada em minas espaciais, mesmo sem acreditar no sistema, é mais direta do que qualquer protesto com cartaz de papelão molhado.

Mesmo com os sustos bem distribuídos, é reconfortante saber que, em meio a facehuggers e androides questionando sua humanidade, o verdadeiro horror continua sendo: CLT no espaço.


FAQ – Alien: Romulus

1. Preciso assistir os filmes anteriores da franquia Alien para entender Romulus?

Não! Romulus funciona como uma ponte entre o primeiro filme de 1979 e o resto da franquia, mas é autocontido. Se você viu o Alien original, vai captar mais referências e se divertir mais. Se não viu, ainda assim vai entender tudo e sair suando frio.

2. O filme tem susto ou é só tensão?

Tem os dois, com uma pitada generosa de desespero existencial. A tensão cresce como boleto no fim do mês e os sustos vêm com o ritmo de uma Black Friday da Weyland-Yutani: brutais e imprevisíveis.

3. O que diferencia Romulus dos outros filmes da saga?

Ele traz de volta o clima claustrofóbico do original, mistura com a ação de Aliens e joga fora as filosofadas de Prometheus. É Alien raiz com efeito prático e suor escorrendo até no capacete.

4. Vale a pena ver no cinema?

Sim. A ambientação, som e sustos são feitos pra te deixar colado na poltrona e arrependido de ter comido pipoca antes da primeira autópsia alienígena.

5. É verdade que tem um easter egg que conecta com o primeiro filme?

Sim. E quando aparecer, você vai ouvir metade da sala sussurrando “mentiraaaa”. A outra metade vai fingir que entendeu, mas vai correr pro Google depois.

6. Tem alguma crítica social?

Tem sim, e ela é mais afiada que a cauda do Xenomorfo. Explora exploração trabalhista, desigualdade entre humanos e androides e ainda sobra tempo pra criticar a meritocracia galáctica. Tudo isso enquanto um monstro quer rasgar sua jugular.

7. Vai ter continuação?

Tudo indica que sim — e se for na mesma pegada, a gente já tá na fila pra morrer abraçado com um Facehugger.