Se você esperava que Steven Soderbergh fosse reinventar o gênero do terror com Presença, prepare-se para ficar tão frustrado quanto um fantasma sem correntes pra arrastar. A ideia é “interessante” (entre muitas aspas): filmar uma história de casa mal-assombrada inteiramente do ponto de vista do espírito que habita o local. Parece criativo, certo? E é. Por uns 15 minutos. Depois disso, a sensação é de que você está preso num reality show paranormal dirigido por um drone entediado.
A família que se muda para a casa (sim, a família se chama Payne, porque sutileza é para os fracos) é composta por Lucy Liu no modo “mãe workaholic e insuportável”, Chris Sullivan como o marido omisso e de ombros largos, e dois adolescentes: o filho favorito, atleta e babaca, e a filha esquecida e deprimida, que claramente carrega mais bagagem emocional do que todos os outros personagens juntos. Ah, e tem também o espírito, que mais parece um voyeur com TOC e uma fixação em estética indie.
Ao invés de criar tensão ou construir sustos memoráveis, Soderbergh prefere brincar de “fantasminha observador” com sua lente olho-de-peixe que deixa qualquer um com vertigem. O grande susto do primeiro ato? Um livro que flutua. Isso mesmo. Um. Livro. A flutuar. Em pleno 2025, o espírito não consegue nem fazer um lustre balançar dramaticamente. Ken Loach faria melhor com um ventilador quebrado e um pouco de poeira.
Comparar com Hereditário ou O Iluminado é covardia. Até A Casa Monstro passa mais medo. Presença tenta ser profundo, psicológico, talvez até metafísico, mas acaba parecendo um daqueles curtas que o pessoal da facul grava para TCC, só que com Lucy Liu perdida no meio e um roteiro que grita: “isso é arte, juro!”. Tem uma médium que aparece e some sem dizer a que veio, um namorado creepy com cara de Leif Garrett genérico dos anos 70, e um mistério tão engajante quanto esperar a torradeira esquentar.
Soderbergh já tinha tentado algo semelhante em Unsane, e até ali já parecia que ele estava fazendo cinema com o freio de mão puxado. Aqui, ele até segura a câmera, edita, dirige, limpa o set, mas esquece de algo essencial: contar uma história que prenda. Se você está com saudade de um bom fantasma, melhor rever Os Outros ou A Visita. Pelo menos nesses, os fantasmas tinham personalidade, ou pelo menos um plano de carreira.
O maior horror de Presença é perceber que o filme vai terminando e você ainda está esperando algo acontecer. E não é que não aconteça nada. Acontece sim: o suco cai da mesa, uma estante desaba, emails são deletados… É como se o espírito estivesse testando o limite da paciência do público com pequenas pegadinhas de TikTok paranormal.
No fim das contas, Presença é um experimento com pretensões filosóficas, mas que se esquece de entreter. Se a idéia era fazer uma espécie de “A Ghost Story meets The Office, sem o humor e sem o drama”, parabéns, missão cumprida. O público só precisa decidir se quer pagar ingresso para virar o espírito de uma plateia vazia.
Resumindo: Presença é um filme sobre um fantasma que observa, mas não faz nada. Ou seja, uma metáfora perfeita para a experiência de assisti-lo.

